São Paulo, terça-feira, 19 de julho de 2005

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MARIA INÊS DOLCI

Transporte para o inferno

Julho começou, em São Paulo, com reajuste médio de 9% nas tarifas de pedágio das rodovias concedidas. O reajuste dos pedágios nas estradas paulistas é anual, com base no IGP-M (Índice Geral de Preços de Mercado). Os pedágios se multiplicaram, nos últimos anos, pelo Brasil afora, encarecendo as viagens a passeio e a trabalho.
De um lado, os usuários reclamam de mais esse golpe em suas já complicadas finanças domésticas ou empresariais. De outro, os governos alegam que só paga quem utiliza as rodovias, e que, portanto, isso preserva recursos para saúde, educação, segurança pública, entre outros investimentos prioritários. Quem tem razão?
É impossível discutir os pedágios isoladamente sem tratar de toda a área de transportes no Brasil. Em primeiro lugar, precisaríamos saber claramente, com detalhes, quanto os três níveis de governo (federal, estadual e municipal) arrecadam com impostos, taxas e contribuições cobradas dos consumidores de transporte. Incluindo-se, nessa conta, os impostos que incidem sobre automóveis, ônibus, caminhões e motos. E o seguro obrigatório, o IPVA, o que se cobra para obter a habilitação para dirigir, para renovar a carteira de motorista, os pedágios, os impostos embutidos nos preços dos combustíveis e muito mais.
Essa montanha de dinheiro é aplicada em que tipo de serviços? Sim, porque as rodovias públicas, ainda sob a responsabilidade do Estado, as ruas da maioria das cidades do Brasil, as pontes, viadutos e túneis estão em ruínas. A segurança do usuário é mínima, reduzida, ainda mais, pela péssima fiscalização dos abusos de veículos conduzidos por motoristas que jamais obteriam habilitação para dirigir ou a manteriam se o Código de Trânsito Brasileiro fosse respeitado.
Nem mesmo o cancelamento temporário do direito de dirigir, em função da contagem de pontos na carteira de motorista, é rigorosamente executado. Em grandes cidades, como São Paulo, os motoboys, em geral jovens, que prestam serviços de entrega rápida, fazem o que querem no trânsito, ameaçam motoristas de automóvel, quebram espelhos dos carros, sem receber nenhuma sanção das autoridades de trânsito. E, até hoje, muito pouco se fez para implantar a inspeção veicular, embora esse tema seja discutido há mais de uma década. Com ela, veículos sem condições, que poluem, que não têm freio nem as mínimas condições para rodar em ruas e estradas, ou seriam consertados ou sairiam de circulação.
Esse caos, essa estrada do inferno, que é a área de transporte no Brasil, mata mais do que algumas guerras. Estima-se que 50 mil pessoas morram anualmente no Brasil em acidentes de trânsito. Resumindo: se o brasileiro pagasse somente o pedágio para rodar em boas estradas, com segurança e conforto, talvez ninguém reclamasse dessas tarifas.
Mas, considerando o quanto é drenado dos bolsos dos consumidores que utilizam veículos particulares ou não, esses novos aumentos, na verdade, são a gota d'água em um copo cheio, para não usar outra expressão, menos elegante.

E-mail - midolci@yahoo.com.br


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