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MARIA INÊS DOLCI
Transporte para o inferno
Julho começou, em São Paulo, com reajuste médio de 9%
nas tarifas de pedágio das rodovias concedidas. O reajuste dos
pedágios nas estradas paulistas é
anual, com base no IGP-M (Índice Geral de Preços de Mercado).
Os pedágios se multiplicaram,
nos últimos anos, pelo Brasil afora, encarecendo as viagens a passeio e a trabalho.
De um lado, os usuários reclamam de mais esse golpe em suas
já complicadas finanças domésticas ou empresariais. De outro, os
governos alegam que só paga
quem utiliza as rodovias, e que,
portanto, isso preserva recursos
para saúde, educação, segurança
pública, entre outros investimentos prioritários. Quem tem razão?
É impossível discutir os pedágios isoladamente sem tratar de
toda a área de transportes no
Brasil. Em primeiro lugar, precisaríamos saber claramente, com
detalhes, quanto os três níveis de
governo (federal, estadual e municipal) arrecadam com impostos, taxas e contribuições cobradas dos consumidores de transporte. Incluindo-se, nessa conta,
os impostos que incidem sobre
automóveis, ônibus, caminhões e
motos. E o seguro obrigatório, o
IPVA, o que se cobra para obter a
habilitação para dirigir, para renovar a carteira de motorista, os
pedágios, os impostos embutidos
nos preços dos combustíveis e
muito mais.
Essa montanha de dinheiro é
aplicada em que tipo de serviços?
Sim, porque as rodovias públicas,
ainda sob a responsabilidade do
Estado, as ruas da maioria das cidades do Brasil, as pontes, viadutos e túneis estão em ruínas. A segurança do usuário é mínima, reduzida, ainda mais, pela péssima
fiscalização dos abusos de veículos conduzidos por motoristas
que jamais obteriam habilitação
para dirigir ou a manteriam se o
Código de Trânsito Brasileiro fosse respeitado.
Nem mesmo o cancelamento
temporário do direito de dirigir,
em função da contagem de pontos na carteira de motorista, é rigorosamente executado. Em
grandes cidades, como São Paulo,
os motoboys, em geral jovens, que
prestam serviços de entrega rápida, fazem o que querem no trânsito, ameaçam motoristas de automóvel, quebram espelhos dos
carros, sem receber nenhuma
sanção das autoridades de trânsito. E, até hoje, muito pouco se fez
para implantar a inspeção veicular, embora esse tema seja discutido há mais de uma década.
Com ela, veículos sem condições,
que poluem, que não têm freio
nem as mínimas condições para
rodar em ruas e estradas, ou seriam consertados ou sairiam de
circulação.
Esse caos, essa estrada do inferno, que é a área de transporte no
Brasil, mata mais do que algumas
guerras. Estima-se que 50 mil pessoas morram anualmente no
Brasil em acidentes de trânsito.
Resumindo: se o brasileiro pagasse somente o pedágio para rodar
em boas estradas, com segurança
e conforto, talvez ninguém reclamasse dessas tarifas.
Mas, considerando o quanto é
drenado dos bolsos dos consumidores que utilizam veículos particulares ou não, esses novos aumentos, na verdade, são a gota
d'água em um copo cheio, para
não usar outra expressão, menos
elegante.
E-mail -
midolci@yahoo.com.br
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