São Paulo, quarta-feira, 19 de julho de 2006

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Para juiz, defesa de Suzane quer anular júri

SERGIO TORRES
EM SÃO PAULO

O advogado Mauro Otávio Nacif, 61, age em plenário de modo a que o julgamento de Suzane von Richthofen e dos irmãos Cravinhos venha a ser suspenso ou anulado mais tarde por um tribunal superior, avaliou, em conversas com colegas do Judiciário, o presidente do 1º Tribunal do Júri, Alberto Anderson Filho, 52.
Considerado no meio jurídico de São Paulo um magistrado educado e de trato fácil, Anderson Filho tem se controlado a contragosto nos diálogos em plenário com o advogado de Suzane. Nos intervalos, já comentou sobre sua irritação com o comportamento de Nacif.
Um dos fatos que mais irritaram o juiz ocorreu por volta das 23h de anteontem, no fim do interrogatório de Suzane. Ele reclamou que Nacif estava se repetindo, atrasando o fim da sessão. O advogado rebateu com uma frase que deixou estupefatos juiz e platéia.
"Estou com bronquite pulmonar. Meu peito está carregado de catarro. Para escarrar lá fora, perdi algumas passagens. Por isso estou perguntando de novo. Se não puder sair para escarrar, vou escarrar aqui no tribunal", disse ele, apontando o tablado em frente ao juiz.
Anderson Filho procurou reagir educadamente. "Espero que o senhor não faça isso aqui nem em lugar nenhum."
Ontem à tarde, em um intervalo do julgamento, o juiz disse à Folha não ter se surpreendido com o episódio em que o advogado ameaçou cuspir. "Surpreender, não. Para mim, pessoalmente, não."
O juiz disse que sua condição de presidente do júri incumbido de julgar um caso tão complicado quanto a morte do casal Richthofen o obriga a ignorar implicâncias e desrespeitos.
O relacionamento de Anderson Filho e Nacif é complicado. No julgamento suspenso em 5 de junho, o advogado pôs o dedo no rosto do juiz, chamando-o de intransigente, desleal e arbitrário, antes de deixar o júri.
Ontem, durante o interrogatório de Andreas von Richthofen, um novo entrevero entre juiz e advogado tornou tenso o ambiente no tribunal. Anderson Filho achou que Nacif estava pressionando o irmão de Suzane e o interrompeu. "O sr. não vai intimidar o meu depoente. No meu plenário, não."
Após o depoimento, Nacif negou ter agido de forma intimidatória. "Queria deixar claro ao Andreas que a irmã dele o ama muito", disse, acrescentando que, embora seja conhecido na Justiça como o "príncipe das nulidades", não quer provocar a interrupção do júri.


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