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Enquanto aguardam pela identificação, parentes respiram a fumaça da tragédia
LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
O jovem médico com o rosto
molhado de lágrimas leva um
crachá no peito onde se lê um
nome feminino. Só o prenome.
Não é um engano. Ela é a vítima. Ele, o parente dela. Cerca
de cem familiares (boa parte
proveniente de Porto Alegre)
foram chegando ao longo do dia
de ontem ao Pavilhão das Autoridades do aeroporto de Congonhas. Todos recebiam crachás
em que se liam os nomes de
seus parentes. O objetivo do
encontro: colher radiografias,
exames odontológicos e informações que ajudem na identificação das vítimas do acidente
com o avião da TAM.
O pavilhão das autoridades é
uma área reservada. É por lá,
por exemplo, que o presidente
Lula desembarca quando chega
a São Paulo. Ontem, às 18h, o
pavilhão com paredes revestidas de lambris e jogo de lustres
que parecem saídos de uma ficção científica da década de 50
comportava pelo menos 200
pessoas -além dos parentes,
havia policiais federais e civis,
soldados do Exército, bombeiros, assistentes sociais, psicólogos, funcionárias da TAM e médicos legistas (muitos).
A menos de cem metros do
local, estavam os destroços do
avião e do prédio atingido no
acidente. Também estavam
corpos de vítimas que ainda
não haviam sido resgatados. E
muita fumaça preta -os que
trabalhavam no resgate tinham
de usar máscaras de proteção.
A proximidade entre os parentes e o cenário da tragédia
era tanta que mesmo com portas e janelas fechadas por vidros e cortinas (para proteger a
privacidade dos parentes), a
bonita construção do pavilhão
das autoridades estava tomada
pelo cheiro de queimado.
No bufê ladeado por uma
pintura mural de Clóvis Graciano e Di Cavalcanti, delicados
atendentes serviam café, refrigerantes, sucos e sanduíches,
que os parentes, no entanto,
pouco consumiam. A maioria
estava quieta, muitos choravam baixinho. Todos esperavam a hora de ser entrevistados
pelos médicos legistas, que ficavam em um salão à parte, para conversas privadas.
Antes mesmo dessa conversa, contudo, os parentes já tinham sido informados, por
exemplo, de que há corpos que,
de tão queimados e machucados, não têm qualquer outra
possibilidade de identificação
que não o exame de DNA.
Um rapaz chora de aflição
diante da perspectiva de nunca
conseguir localizar o corpo da
parente morta no acidente: "Se
ela for uma dessas que só o
DNA resolve, não vai dar. Ela
era adotada".
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