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Bombeiros usam mãos para resgatar mortos
Até as 20h30 de ontem, 178 vítimas tinham sido retiradas do prédio da TAM, segundo a Secretaria da Segurança Pública
Novos focos de incêndio
surgiram quando
bombeiros trabalhavam
na fuselagem; prédio
corre risco de desabar
Raimundo Pacco/Folha Imagem
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Bombeiros procuram corpos de vítimas do acidente com avião da TAM no prédio da empresa ao lado do aeroporto de Congonhas, na zona sul de SP; ontem às 20h havia 178 mortos confirmados |
DANIELA ARRAIS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DA REPORTAGEM LOCAL
No cenário da tragédia do
vôo JJ 3054 da TAM, a equipe
do Corpo de Bombeiros trabalha sem parar, desde a noite de
anteontem, em turno de 24 horas. A concentração de corpos,
restos de fuselagem e estrutura
do prédio da TAM Express formam uma massa escura, que
exala uma mistura de fumaça e
carne queimada.
Na tarde de ontem, alguns
bombeiros precisaram usar até
as mãos para cavar a terra, em
busca de corpos. Além de escavadeiras e guindastes, os bombeiros usavam, principalmente, equipamentos manuais para
realizar o trabalho. As principais dificuldades eram a grande
quantidade de escombros e a
necessidade de preservar os
corpos. Como forma de proteção, os bombeiros usam vestimentas anti-chama, feitas de
lona, fibra sintética e borracha
-capacete, botas e máscara
completam o uniforme.
"Enfrentamos risco de desabamento, porque a estrutura
do prédio está em colapso", disse Manoel Antônio da Silva
Araujo. "É o pior tipo de acidente com avião que o Corpo de
Bombeiros já trabalhou."
Um bombeiro teve luxação
no ombro, segundo Nilton Miranda, capitão dos bombeiros, e
alguns tiveram queimaduras e
escoriações leves.
À noite, buscas de corpos foram suspensas, e o trabalho se concentrou na retenção das vigas
Para o secretário de Segurança Pública, Ronaldo Marzagão,
o trabalho da equipe de bombeiros é digno de heroísmo. "Os
bombeiros estão trabalhando
para entregar os corpos às famílias com dignidade."
Na madrugada
O presidente da Sociedade
Brasileira de Terapia Intensiva,
Douglas Ferrari, esteve no local
do acidente durante a madrugada. "Era difícil identificar o
que era corpo, o que era coisa
queimada e o que era terra",
disse. "É impossível que alguém tenha sobrevivido por
mais de cinco minutos."
Para Miguel Litório, coordenador da Defesa Civil, a cena da
tragédia "é chocante". "O avião
praticamente desapareceu no
meio de todo o resto", disse.
No pátio do posto, dentro de
um automóvel totalmente destruído, era visível o corpo do
motorista desfigurado pelo fogo -era possível reconhecer a
separação de tronco e pernas.
Os corpos começaram a ser
acomodados nas macas por volta das 22h. Primeiro um corpo
feminino, com vestido cinza escuro; mais tarde, um corpo magro com calça jeans.
A cada nova vítima que era
carregada para fora do local, os
bombeiros gritavam: "Mais
um!!!". Os colegas abriam então
um corredor para a passagem
da maca, que era acomodada
sobre uma lona na calçada de
uma loja de produtos eletrônicos da esquina.
Na área próxima ao acidente,
onde só poderiam entrar oficiais envolvidos na operação de
resgate, bombeiros e policiais
tiravam fotos das cenas com câmeras digitais e celulares. Alguns posavam para as fotos ao
lado dos escombros.
Curiosos
O trabalho de resgate do Corpo de Bombeiros foi acompanhado, durante todo o dia de
ontem, por centenas de espectadores que se concentraram
na única faixa liberada da avenida Washington Luís.
Em comum, eles tinham a
mesma vontade: registrar a tragédia com sua própria câmera
fotográfica, de preferência no
celular. "Tem pessoas que não
acreditam no que aconteceu.
Vou tirar fotos para mostrar a
realidade da tragédia aos meus
amigos", disse Marinalva Serra,
44, estudante de serviço social.
À tarde, um altar foi improvisado com velas brancas e flores
vermelhas e brancas no muro
da cabeceira da pista.
A freira Rejane Rodrigues
Santos, de Montes Claros
(MG), rezava. "Sinto muita dor,
principalmente pelos que ficaram, os familiares. Sinto a mesma sensação que eles sentem
nesse momento", disse.
Colaborou DANIEL BERGAMASCO, da Reportagem local
NA INTERNET - ouça diálogos dos
bombeiros no www.folha.com.br/071991
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