São Paulo, quinta-feira, 19 de julho de 2007

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Bombeiros usam mãos para resgatar mortos

Até as 20h30 de ontem, 178 vítimas tinham sido retiradas do prédio da TAM, segundo a Secretaria da Segurança Pública

Novos focos de incêndio surgiram quando bombeiros trabalhavam na fuselagem; prédio corre risco de desabar

Raimundo Pacco/Folha Imagem
Bombeiros procuram corpos de vítimas do acidente com avião da TAM no prédio da empresa ao lado do aeroporto de Congonhas, na zona sul de SP; ontem às 20h havia 178 mortos confirmados


DANIELA ARRAIS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

No cenário da tragédia do vôo JJ 3054 da TAM, a equipe do Corpo de Bombeiros trabalha sem parar, desde a noite de anteontem, em turno de 24 horas. A concentração de corpos, restos de fuselagem e estrutura do prédio da TAM Express formam uma massa escura, que exala uma mistura de fumaça e carne queimada.
Na tarde de ontem, alguns bombeiros precisaram usar até as mãos para cavar a terra, em busca de corpos. Além de escavadeiras e guindastes, os bombeiros usavam, principalmente, equipamentos manuais para realizar o trabalho. As principais dificuldades eram a grande quantidade de escombros e a necessidade de preservar os corpos. Como forma de proteção, os bombeiros usam vestimentas anti-chama, feitas de lona, fibra sintética e borracha -capacete, botas e máscara completam o uniforme.
"Enfrentamos risco de desabamento, porque a estrutura do prédio está em colapso", disse Manoel Antônio da Silva Araujo. "É o pior tipo de acidente com avião que o Corpo de Bombeiros já trabalhou." Um bombeiro teve luxação no ombro, segundo Nilton Miranda, capitão dos bombeiros, e alguns tiveram queimaduras e escoriações leves.
À noite, buscas de corpos foram suspensas, e o trabalho se concentrou na retenção das vigas Para o secretário de Segurança Pública, Ronaldo Marzagão, o trabalho da equipe de bombeiros é digno de heroísmo. "Os bombeiros estão trabalhando para entregar os corpos às famílias com dignidade."

Na madrugada
O presidente da Sociedade Brasileira de Terapia Intensiva, Douglas Ferrari, esteve no local do acidente durante a madrugada. "Era difícil identificar o que era corpo, o que era coisa queimada e o que era terra", disse. "É impossível que alguém tenha sobrevivido por mais de cinco minutos." Para Miguel Litório, coordenador da Defesa Civil, a cena da tragédia "é chocante". "O avião praticamente desapareceu no meio de todo o resto", disse.
No pátio do posto, dentro de um automóvel totalmente destruído, era visível o corpo do motorista desfigurado pelo fogo -era possível reconhecer a separação de tronco e pernas. Os corpos começaram a ser acomodados nas macas por volta das 22h. Primeiro um corpo feminino, com vestido cinza escuro; mais tarde, um corpo magro com calça jeans. A cada nova vítima que era carregada para fora do local, os bombeiros gritavam: "Mais um!!!". Os colegas abriam então um corredor para a passagem da maca, que era acomodada sobre uma lona na calçada de uma loja de produtos eletrônicos da esquina.
Na área próxima ao acidente, onde só poderiam entrar oficiais envolvidos na operação de resgate, bombeiros e policiais tiravam fotos das cenas com câmeras digitais e celulares. Alguns posavam para as fotos ao lado dos escombros.

Curiosos
O trabalho de resgate do Corpo de Bombeiros foi acompanhado, durante todo o dia de ontem, por centenas de espectadores que se concentraram na única faixa liberada da avenida Washington Luís. Em comum, eles tinham a mesma vontade: registrar a tragédia com sua própria câmera fotográfica, de preferência no celular. "Tem pessoas que não acreditam no que aconteceu.
Vou tirar fotos para mostrar a realidade da tragédia aos meus amigos", disse Marinalva Serra, 44, estudante de serviço social. À tarde, um altar foi improvisado com velas brancas e flores vermelhas e brancas no muro da cabeceira da pista. A freira Rejane Rodrigues Santos, de Montes Claros (MG), rezava. "Sinto muita dor, principalmente pelos que ficaram, os familiares. Sinto a mesma sensação que eles sentem nesse momento", disse.

Colaborou DANIEL BERGAMASCO, da Reportagem local


NA INTERNET - ouça diálogos dos bombeiros no www.folha.com.br/071991


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