São Paulo, sábado, 19 de julho de 2008

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Embaixador acusa Israel de barrar filha por ter nome árabe

Diplomata brasileiro diz que a filha Laila, que viajou ao país para passar as férias, ficou detida no aeroporto por três horas

Governo israelense nega a versão e diz que episódio durou três minutos; "não deve ser dada dimensão política ao caso", afirma Itamaraty

VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

Mais um brasileiro barrado no exterior causou desta vez um incidente diplomático entre Brasil e Israel. O embaixador brasileiro em Tel Aviv, Pedro Motta, acusa os agentes do serviço de imigração israelense de deter a filha Laila -que significa "noite", em hebraico e árabe- por ela aparentemente ter nome de origem islâmica.
Aluna do sexto ano de medicina da Universidade Católica de Brasília, ela chegou ao aeroporto internacional Ben Gurion, que tem um dos esquemas mais rígidos de segurança do mundo, à meia-noite da última quinta-feira, para passar as férias com os pais (a mãe, Moira, também é diplomata brasileira) e fazer um curso num hospital israelense.
Ficou detida por três horas e, segundo Motta, só teve a entrada permitida no país depois da intervenção de um alto funcionário do Ministério das Relações Exteriores de Israel.
Em nota, o Ministério do Interior israelense nega a versão do embaixador e diz que o episódio durou apenas três minutos. No Brasil, a embaixadora de Israel, Tzipora Rimon, informou à reportagem que o incidente é "triste" (leia texto).
Por telefone, de Tel Aviv, Motta disse à Folha que o incidente é "muito sério" e que recebeu tratamento "agressivo" e "desrespeitoso" das autoridades israelenses e que chegou a ser expulso da seção de imigração, mesmo tendo mostrado as credenciais de embaixador emitidas por órgãos locais.
"O incidente não foi só com ela. Foi comigo também. Identifiquei-me ao chefe da seção e quis saber o que estava acontecendo com a minha filha. O sujeito me tratou de forma agressiva e disse: "não tenho nada para falar com você, saia da minha sala'", disse Motta, que afirma ter mandado uma nota de protesto ao Ministério de Relações Exteriores de Israel.
Para o Itamaraty, o assunto "é de esfera protocolar e não deve ser dada dimensão política". Primeiramente, cogitou-se que a embaixadora israelense Tzipora Rimon seria convocada pelo chefe do departamento de Oriente Médio do Itamaraty, Sarkis Karmirian, para dar esclarecimentos sobre o episódio. Mas a convocação foi descartada, segundo o ministério, por "não haver nenhum fato político que justifique".

Lamentável
"Foi um incidente consular lamentável, mas não haverá convocação de embaixador, que é para assuntos políticos. A conotação política é dada porque ele é embaixador", disse o diplomata e assessor do ministério Assir Madeira.
"O incidente em si é desagradável. O mais grave é o fato de eu ter me identificado como embaixador do Brasil e não terem reconhecido as credenciais do próprio ministério deles. E questionaram a minha filha sem motivo aparente, sem motivo nenhum", afirma Motta.
Segundo o embaixador, ao saber que o vôo da filha tinha chegado ao aeroporto, ele e a mulher, com as credenciais diplomáticas, entraram na área de bagagem. "Eu a vi na fila de imigração, acenei. Depois de uma hora e meia ela não apareceu", disse Motta.
Ao pedir informações a um policial, Motta diz ter sido encaminhado com a mulher a uma sala da seção de imigração, onde encontrou Laila com turistas de outras nacionalidades.
O embaixador diz ter se apresentado como tal e que o chefe do setor o expulsou dali, sem reconhecer suas credenciais.
"Vi que a situação era complicada, telefonei e acordei o chefe do protocolo da chancelaria local às 2h da manhã. Disse o que estava acontecendo e ele me pediu que passasse para o chefe da seção. E o sujeito não quis falar", diz o embaixador.
"O nome dela não tem nenhuma relação com o árabe, mas mesmo se tivesse, por que ela merece ser tratada dessa maneira?", completa.
Motta disse ter ligado para a sala de emergência do Ministério das Relações Exteriores, que entrou em contato com o diretor do aeroporto Ben Gurion. Só depois disso a filha teve a entrada liberada e o passaporte devolvido. Ainda assim, segundo Motta, a família foi retida na saída por cinco minutos, e mais uma vez as credenciais diplomáticas não foram reconhecidas. "E para piorar, perderam até a bagagem dela."


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