São Paulo, domingo, 19 de julho de 2009

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Nos 100 anos de Burle Marx, jardins estão malconservados

Jardins projetados estão perdendo as características originais do paisagista

Nascido em São Paulo, ele é autor de mais de 3.000 projetos em 20 países, como o aterro do Flamengo e o calçadão da Atlântica, no Rio

MARIANA BARROS
DA REPORTAGEM LOCAL

O paisagista e artista Roberto Burle Marx (1909-1994) não gostava que comparassem as pinturas que fazia aos jardins que projetava, argumentando que cada forma de arte tem as suas peculiaridades.
Em seu centenário de nascimento, comemorado em 4 de agosto, a diferença entre essas obras ficou mais evidente: enquanto seu acervo artístico está bem preservado e exposto no MAM (Museu de Arte Moderna) de São Paulo desde anteontem, suas paisagens estão sujeitas a intervenções e à falta de cuidados de conservação.
Para o arquiteto e paisagista Haruyoshi Ono, que começou a trabalhar com Burle Marx em 1965 e assumiu o escritório após seu falecimento, vários jardins projetados estão perdendo as características originais. "Nos espaços públicos muitas vezes falta manutenção, e nas propriedades particulares acontece de cada administrador mudar como quer, achando que uma espécie de planta vai combinar melhor do que outra", diz, salientando que todos os proprietários possuem o projeto original, também disponível no escritório.
"Até o [projeto do parque] Ibirapuera se perdeu um pouco, em termos de vegetação", diz o arquiteto Ruy Ohtake, parceiro de Burle Marx, sobre um dos paisagismos mais famosos do colega. Para ele, o Parque da Cidade Sarah Kubitschek, em Brasília, é outro exemplo de deterioração. "A exuberância se perdeu. [O local] merece mais atenção."
Segundo Ono, há problemas também na Pampulha, em Belo Horizonte (MG), apesar de obras de recuperação realizadas no ano passado. Mendigos se instalaram na praça Alberto Dalva Simão, no perímetro projetado por Burle Marx.

Projetos
Nascido em São Paulo, Burle Marx é autor de mais de 3.000 projetos de paisagismo em 20 países. Entre eles, estão o parque do Aterro do Flamengo e a calçada da avenida Atlântica, no Rio de Janeiro, os jardins do Palácio do Itamaraty, em Brasília, o Parque Del Este, em Caracas (Venezuela), os jardins da Unesco, em Paris (França) e do edifício da OEA (Organização dos Estados Americanos), em Washington (EUA).
"Ele inaugurou essa noção de qualidade de vida nas cidades, de preocupação ecológica", afirma Lauro Cavalcanti, curador da exposição exposição "Roberto Burle Marx 100 anos: a permanência do instável", em cartaz no MAM. Para Ruy Ohtake, o amigo deixou raízes na relação entre os espaços abertos e a arquitetura. "Ele sempre fez os projetos considerando a cidade. Burle Marx compreendeu os espaços urbanos".
Essa herança permanece viva nos locais onde a obra do paisagista é bem cuidada, como a casa do engenheiro Luiz Izzo, no Morumbi (zona oeste).
Quando morria uma planta de seu jardim, Izzo pegava o carro e ia buscar o que faltava em Santo Antônio da Bica, em Guaratiba (RJ), onde ficava o sítio de Roberto Burle Marx. "Eu acho que isso daí [de buscar as plantas] faz parte. Se você contrata um projeto, ou segue o projeto ou não vale a pena", diz o engenheiro, que mantém na propriedade todas as espécies previstas originalmente.
A manutenção dos jardins era feita pelo próprio escritório de Burle Marx, que fica no Rio. "A distância fez com que ficasse caro. Acabaram me indicando alguém em São Paulo para fazer o serviço", conta Izzo.
No Morumbi há ainda um outro reduto onde as ideias do paisagistas permanecem vivas: o parque que leva seu nome, decorado com espelhos d'água, painel em relevo e palmeiras. Para Haruyoshi Ono, diretor do escritório Burle Marx, trata-se de uma das obras mais bem preservadas do antigo colega.
Ono cita também os espaços mantidos pelo Banco Safra na rua Bela Cintra e na avenida Paulista, na altura da alameda Campinas e da rua Augusta (todas na zona oeste). Segundo a assessoria do banco, a reforma da calçada da Paulista, concluída no ano passado, fez com que parte da obra, composta por desenhos nos pisos, se perdesse. Isso, no entanto, não chegou a comprometer o projeto.


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