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Nos 100 anos de Burle Marx, jardins estão malconservados
Jardins projetados estão perdendo as características originais do paisagista
Nascido em São Paulo, ele é autor de mais de 3.000 projetos em 20 países, como o aterro do Flamengo e o calçadão da Atlântica, no Rio
MARIANA BARROS
DA REPORTAGEM LOCAL
O paisagista e artista Roberto
Burle Marx (1909-1994) não
gostava que comparassem as
pinturas que fazia aos jardins
que projetava, argumentando
que cada forma de arte tem as
suas peculiaridades.
Em seu centenário de nascimento, comemorado em 4 de
agosto, a diferença entre essas
obras ficou mais evidente: enquanto seu acervo artístico está
bem preservado e exposto no
MAM (Museu de Arte Moderna) de São Paulo desde anteontem, suas paisagens estão sujeitas a intervenções e à falta de
cuidados de conservação.
Para o arquiteto e paisagista
Haruyoshi Ono, que começou a
trabalhar com Burle Marx em
1965 e assumiu o escritório
após seu falecimento, vários
jardins projetados estão perdendo as características originais. "Nos espaços públicos
muitas vezes falta manutenção,
e nas propriedades particulares
acontece de cada administrador mudar como quer, achando
que uma espécie de planta vai
combinar melhor do que outra", diz, salientando que todos
os proprietários possuem o
projeto original, também disponível no escritório.
"Até o [projeto do parque]
Ibirapuera se perdeu um pouco, em termos de vegetação",
diz o arquiteto Ruy Ohtake,
parceiro de Burle Marx, sobre
um dos paisagismos mais famosos do colega. Para ele, o
Parque da Cidade Sarah Kubitschek, em Brasília, é outro
exemplo de deterioração. "A
exuberância se perdeu. [O local] merece mais atenção."
Segundo Ono, há problemas
também na Pampulha, em Belo
Horizonte (MG), apesar de
obras de recuperação realizadas no ano passado. Mendigos
se instalaram na praça Alberto
Dalva Simão, no perímetro projetado por Burle Marx.
Projetos
Nascido em São Paulo, Burle
Marx é autor de mais de 3.000
projetos de paisagismo em 20
países. Entre eles, estão o parque do Aterro do Flamengo e a
calçada da avenida Atlântica,
no Rio de Janeiro, os jardins do
Palácio do Itamaraty, em Brasília, o Parque Del Este, em Caracas (Venezuela), os jardins da
Unesco, em Paris (França) e do
edifício da OEA (Organização
dos Estados Americanos), em
Washington (EUA).
"Ele inaugurou essa noção de
qualidade de vida nas cidades,
de preocupação ecológica",
afirma Lauro Cavalcanti, curador da exposição exposição
"Roberto Burle Marx 100 anos:
a permanência do instável", em
cartaz no MAM. Para Ruy Ohtake, o amigo deixou raízes na
relação entre os espaços abertos e a arquitetura. "Ele sempre
fez os projetos considerando a
cidade. Burle Marx compreendeu os espaços urbanos".
Essa herança permanece viva nos locais onde a obra do paisagista é bem cuidada, como a
casa do engenheiro Luiz Izzo,
no Morumbi (zona oeste).
Quando morria uma planta
de seu jardim, Izzo pegava o
carro e ia buscar o que faltava
em Santo Antônio da Bica, em
Guaratiba (RJ), onde ficava o
sítio de Roberto Burle Marx.
"Eu acho que isso daí [de buscar as plantas] faz parte. Se você contrata um projeto, ou segue o projeto ou não vale a pena", diz o engenheiro, que mantém na propriedade todas as espécies previstas originalmente.
A manutenção dos jardins
era feita pelo próprio escritório
de Burle Marx, que fica no Rio.
"A distância fez com que ficasse
caro. Acabaram me indicando
alguém em São Paulo para fazer
o serviço", conta Izzo.
No Morumbi há ainda um
outro reduto onde as ideias do
paisagistas permanecem vivas:
o parque que leva seu nome, decorado com espelhos d'água,
painel em relevo e palmeiras.
Para Haruyoshi Ono, diretor do
escritório Burle Marx, trata-se
de uma das obras mais bem
preservadas do antigo colega.
Ono cita também os espaços
mantidos pelo Banco Safra na
rua Bela Cintra e na avenida
Paulista, na altura da alameda
Campinas e da rua Augusta (todas na zona oeste). Segundo a
assessoria do banco, a reforma
da calçada da Paulista, concluída no ano passado, fez com que
parte da obra, composta por desenhos nos pisos, se perdesse.
Isso, no entanto, não chegou a
comprometer o projeto.
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