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Poeira fina agrava nível de poluição em SP
Medição inédita de poluente feita pela Cetesb na região metropolitana mostra nível preocupante de poluição mais forte
Qualidade do ar foi reprovada tanto no padrão máximo de poeira fina tolerado nos EUA, como nos parâmetros que a
OMS considera como limite
JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
DA REPORTAGEM LOCAL
A Cetesb descobriu que a poluição da Grande São Paulo é
pior do que se imaginava. Pela
primeira vez, a agência ambiental reuniu dados da presença de poeira fina, quase invisível, e comparou as medições
realizadas durante sete anos
com os padrões que os EUA e a
OMS consideram mais seguros
para a saúde humana.
O ar metropolitano foi reprovado em todos os anos tanto no
padrão máximo de poeira fina
tolerado nos EUA, de 15 microgramas por metro cúbico, ou do
valor que a OMS (Organização
Mundial da Saúde) considera
ideal, de dez microgramas.
Comparado com os EUA, a
Grande SP chega a registrar até
48% mais de poeira fina no ar.
O valor dobra quando a referência é a própria OMS.
Esse resultado significa, na
prática, que, se o Estado começar a usar esses valores, o ar será considerado impróprio praticamente todos os dias na
Grande SP, aponta o estudo.
A Cetesb chegou a essas conclusões ao reunir em um só relatório as medições que realizou de 2002 a 2006 em quatro
pontos -Pinheiros, Cerqueira
César, parque Ibirapuera e São
Caetano do Sul.
O agência ambiental não inclui a poeira fina quando divulga a qualidade do ar diária porque nem o Estado nem o país
estabeleceram até quanto pode
ser tolerado desse poluente.
Até agora, a Cetesb avalia somente a poeira grossa, chamada MP 10, mas a fina deve ser
incluída a partir de 2010, conforme estudos que vêm sendo
feitos desde junho por uma comissão ligada à Secretaria de
Estado do Meio Ambiente.
"Vi o estudo e concordo com
tudo. Agora é oficial: aqueles
reloginhos de qualidade do ar
não servem para nada", diz o
médico Paulo Saldiva, coordenador do Laboratório de Poluição Atmosférica da USP.
Isso porque a poeira fina é
considerada hoje pela OMS como principal indicador dos danos que a poluição provoca na
saúde. Com até 1% do tamanho
das maiores, esse poluente é altamente agressivo por chegar
diretamente aos pulmões e, dali, até a corrente sanguínea.
Estudos conduzidos pela
EPA (agência ambiental dos
EUA) aponta forte correlação
entre mortes por doenças cardiovasculares e a concentração
da poeira fina.
É que, quando chegam à corrente sanguínea, desencadeiam
aterosclerose, gerando arritmias, aumento da pressão arterial, trombose venosa e infarto
agudo do miocárdio.
"Considero esse estudo absolutamente importante e que
pode ser extrapolado para o
Brasil, mas precisamos fazer
pesquisas complementares",
afirma Antonio Carlos Chagas,
presidente da SBC (Sociedade
Brasileira de Cardiologia).
A gerente de avaliação de
qualidade do ar da Cetesb, Maria Helena Martins, afirma que
desde 2003 os índices se estabilizaram, mas continuam altos. "Temos números elevados,
a poeira fina é um problema
mundial, mas é uma preocupação nova", afirma.
Para combater o poluente é
necessário maior controle sobre fontes industriais, reduzir
o fluxo de veículos e melhorar a
qualidade dos combustíveis.
A Cetesb estima que veículos
sejam os principais responsáveis pelo problema, já que elementos ligados aos combustíveis representam mais de 40%
da massa do poeira fina.
Enquanto as partículas
maiores são normalmente produzidas pelo atrito do pneu
com o asfalto, por exemplo, as
mais finas são também oriundas de gases poluentes, como
óxido de nitrogênio, dióxido de
enxofre e amônia, após as reações químicas na atmosfera.
Para piorar, as micropartículas também duram mais tempo
no ar. Por isso, quando chove
pouco e a dispersão é prejudicada, sua concentração na atmosfera é maior que a de outros poluentes.
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