São Paulo, terça-feira, 19 de julho de 2011

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1 morre a cada 3 dias em sanatórios da região de Sorocaba

Levantamento mostra que 7 hospitais psiquiátricos tiveram mais óbitos do que o resto das unidades do Estado em 2010

Foram 104 mortes nas 7 unidades contra 93 em outros 19 hospitais no Estado; os casos se concentram no inverno

LUIZA BANDEIRA
DE SÃO PAULO

Fazia frio quando a aposentada Jane Oliveira, 64, encontrou sua filha Daniela, 30, usando uma blusa regata no Hospital Mental Sorocaba (a 99 km de São Paulo).
Daniela morreu dias depois, por pneumonia, falência múltipla dos órgãos, septicemia e com excesso de sódio no sangue. "Cuidei da minha filha por 30 anos e eles acabaram com ela em dois meses", diz a aposentada.
A morte ocorreu em 2008 e, segundo relatório do Flamas (Fórum de Luta Antimanicomial de Sorocaba), casos assim se repetem ao menos desde 2006 na região.
Dados tabulados pelo professor de psicologia Marcos Garcia, da UFSCar e do Flama, com base no Datasus, mostram que em 2010, sete hospitais psiquiátricos da região registraram mais mortes que todos os outros de mesmo porte do Estado. São considerados apenas pacientes atendidos pelo SUS.
As sete unidades são: Clínica Salto de Pirapora e os hospitais Santa Cruz, Vale das Hortências, Jardim das Acácias, Mental Sorocaba, Vera Cruz e Teixeira Lima.
Foram 104 óbitos - um a cada três dias- contra 93 em outras 19 unidades do Estado.
A taxa de mortalidade de Sorocaba, Piedade e Salto de Pirapora foi superior ao dobro da registrada no resto do Estado: 3,14 óbitos por mil internações contra 1,42.
Entre 2006 e 2009, 459 pacientes morreram nas sete unidades e 501 em outros hospitais psiquiátricos.
Em 2010, 44% das mortes ocorreram entre maio e agosto. A pneumonia foi a segunda causa mais frequente.

INVESTIGAÇÃO
Os hospitais da região são privados ou beneficentes, mas atendem pelo SUS. Os pacientes são encaminhados pelo governo estadual.
O Ministério da Saúde informou que não calcula a taxa de mortalidade média em hospitais psiquiátricos.
Segundo Garcia, as mortes podem ser reflexo da demora em encaminhar pacientes com problemas de saúde para hospitais gerais, da falta de funcionários e de cuidados nos meses mais frios.
O relatório diz que para cumprir exigência do ministério, os hospitais da região deveriam ter funcionários suficientes para 8.172 horas de assistência aos pacientes.
Os sete hospitais têm trabalhadores para 3.822 horas.
As mortes são investigadas pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência, que já pediu ao Ministério Público o fechamento de um hospital, por "inadequação absoluta, falta de médicos e ausência de projetos terapêuticos", disse o coordenador-geral de Saúde Mental e Combate à Tortura da secretaria, Aldo Zaiden.
A região de Sorocaba tem mais leitos psiquiátricos -segundo o estudo, 2,3 por mil habitantes; segundo a prefeitura, 1,1- do que o sugerido pelo ministério, 0,45.
A prefeitura diz que a região recebeu hospitais psiquiátricos na década de 70.
Isso ocorreu pois ali já existia um hospital psiquiátrico e uma faculdade de medicina.


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