São Paulo, quinta-feira, 19 de agosto de 2004

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VIOLÊNCIA

Seqüestro ocorreu na rua onde mora o secretário de Segurança Pública de SP; família pagou R$ 12 mil de resgate

Estudante é solto após 15 dias de cativeiro

FABIO SCHIVARTCHE
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

Um estudante de 14 anos de um dos colégios particulares mais tradicionais de São Paulo foi libertado na madrugada de ontem depois de ficar 15 dias seqüestrado. Ele foi levado pelos criminosos no dia 3 de agosto, quando caminhava na rua onde mora, a caminho do Colégio Santa Cruz.
A rua onde vive a família da vítima, em Alto de Pinheiros, bairro nobre da zona oeste da capital paulista, é a mesma onde mora Saulo de Castro Abreu Filho, secretário de Estado da Segurança Pública, que recebe proteção policial durante 24 horas por dia.
A libertação dele é a segunda envolvendo estudantes paulistanos em menos de duas semanas. O caso mais recente havia sido de uma menina de 12 anos, aluna do colégio Dante Alighieri, que foi libertada pela Polícia Civil no último dia 6, depois de ficar como refém durante 70 dias.
O adolescente que estuda no Santa Cruz, segundo vizinhos dele ouvidos pela Folha, foi abordado pela manhã. Ele teria sido surpreendido por dois homens que estavam em um Corsa preto e obrigado a entrar no veículo.
O estudante foi libertado por volta das 3h de ontem, na favela do Sapo, na zona oeste, nas proximidades da divisa de São Paulo com Taboão da Serra (região metropolitana). De lá, ele teve de pegar um táxi para voltar para casa.
Os policiais que participam da investigação foram proibidos pela Secretaria da Segurança Pública de dar informações. A ordem da pasta é para que não haja vazamento dos detalhes enquanto os criminosos não forem presos.
"Estamos na pista dos criminosos. Vamos pegá-los, com certeza", afirmou Godofredo Bittencourt, diretor do Deic (Departamento de Investigações Sobre o Crime Organizado).

Resgate
A Folha apurou que os criminosos pediram R$ 1 milhão à família da vítima. Depois das negociações, aceitaram R$ 12 mil, valor que acabou sendo pago. Essa redução drástica em um curto período de tempo é um indício, segundo alguns investigadores, de que os seqüestradores provavelmente não são profissionais.
"Está havendo uma banalização desse crime em São Paulo. Mas nosso recado é claro: quem seqüestrar vai para a cadeia ou para o IML [Instituto Médico Legal]", declarou ontem Bittencourt.
O garoto, conforme relato da polícia, disse não ter sido maltratado fisicamente no período em que ficou no cativeiro. O pai dele é dono de uma empresa de consultoria. A Folha não divulga os nomes dos parentes e da vítima por não ter autorização da família.
A distância da casa do estudante até a primeira portaria do colégio é de aproximadamente 400 metros. A rua, bastante arborizada, além de ter rondas periódicas da polícia, também é protegida por empresas de vigilância privada, pagas por alguns moradores.
Segundo Genivaldo de Souza, segurança de uma residência a 20 metros da do garoto seqüestrado, ele costumava ir a pé diariamente ao colégio. O irmão dele, de 15 anos, que estuda na mesma escola, também tinha esse hábito.
A abordagem dos criminosos foi feita em frente a uma praça onde, naquele horário, moradores do bairro estão acostumados a correr e a fazer caminhadas.
Questionado ontem sobre o fato de o aluno do Santa Cruz ter sido seqüestrado na rua de sua residência, o secretário Abreu Filho afirmou: "Minha rua não é blindada. Acontecem crimes."


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