São Paulo, domingo, 19 de agosto de 2007

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"Sobra" área ao lado do parque Ibirapuera

Terreno de 120 mil m2, avaliado em R$ 250 milhões, tem grandes partes vazias, mas Exército diz que local é totalmente utilizado

Área "abrigava unidades militares, mas os prédios foram demolidos para a implantação de colégio cujo projeto nunca saiu do papel

JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma área de 120 mil m2, que fazia parte do traçado original do parque Ibirapuera, é utilizada apenas em parte pelo Exército. Se fosse incorporada ao parque, significaria um aumento de 8% -equivaleria também a dar um parque da Aclimação, de 112 mil m2, ao bairro.
O terreno, doado pelo governo do Estado à União em 7 de dezembro de 1942, é avaliado em cerca de R$ 250 milhões.
A Prefeitura de São Paulo estuda ampliar o Ibirapuera, que recebe 200 mil pessoas nos finais de semana, mas afirma não estar negociando essa área. "Não há conversas com o Exército nesse sentido", diz o prefeito Gilberto Kassab (DEM).
Para o Comando Militar do Sudeste, que ocupa o terreno, a área é totalmente utilizada. O coronel César Augusto Moura, chefe da comunicação social do Comando Militar do Sudeste, afirma que estão sendo construídas novas instalações no local.
Até 1996, o local abrigava diversas unidades militares, com cerca de 2.500 homens, mas foi desocupado para a construção do Colégio Militar de São Paulo, que nunca saiu do papel.
A criação do colégio partiu de um acordo entre o então prefeito, o hoje deputado federal Paulo Maluf (PP), com o Comando do Exército.
Os prédios foram derrubados, e as árvores, arrancadas. Restou um terreno vazio.
A prefeitura entraria com o dinheiro, R$ 120 milhões, e o Exército, com a área. O arquiteto Fernando Cals fez um projeto para o colégio, que teria 4.000 alunos, mas o ex-prefeito Celso Pitta desistiu da obra.
No início do ano 2000, o Exército lançou o projeto do Forte Ibirapuera, com instalações militares e residenciais, para reocupar o terreno, em um investimento de cerca de R$ 40 milhões.
Até hoje, o projeto continua em obras. A construção de mais destaque é um condomínio de seis andares para os generais, que ocupa cerca de 10% da área total do terreno.

Vista privilegiada
O prédio tem apartamentos de 250 m2, com um dúplex na cobertura com piscina. Quem mora no edifício, além da excelente localização, desfruta de uma visão privilegiada: todo avarandado, de frente para o Ibirapuera, e bem distante do ruído das ruas.
Os generais pagam até 10% do salário-base como aluguel. Um general-de-exército, mais alto posto dos oficiais baseados em São Paulo, recebe R$ 6.156 de salário bruto, além de gratificações, que variam.
Para morar na região, o cidadão comum paga bem mais. Imobiliárias alugam um apartamento de alto luxo na rua Tomaz Carvalhal, com 330 m2, a R$ 9.300, incluindo o valor do condomínio. Na rua Rafael de Barros, o aluguel de um apartamento de 150 m2 de área total vale R$ 5.900 por mês.
Além do prédio dos generais, a área abriga um edifício com quatro torres de 16 andares, onde moram oficiais de menor patente e os que estão em São Paulo provisoriamente.
Cerca de metade da área continua praticamente desocupada, com grama rala, terra, barracões degradados e um campo de futebol tamanho oficial, com cerca de 10 mil m2.
A Folha passou dois dias acompanhando a rotina no local. Às 16h de terça-feira, um grupo de dez militares fazia exercícios ao lado do campo de futebol, que fica bem próximo às muralhas da rua Tutóia.
Do outro lado, na rua Padre Manoel da Nóbrega, o corre-corre de soldados era mais em função das obras do Forte Ibirapuera do que de atividades próprias dos militares.
Ficam no local os militares do 2º BPE (Batalhão de Polícia do Exército), os mesmos que prestaram serviços durante a visita do papa Bento 16 ao Brasil, em maio deste ano, mas eles desempenham mais atividades externas do que no quartel.
O próprio Exército prepara, para quando as instalações forem finalizadas, a criação de uma nova unidade para ocupar os prédios vazios.


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