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Queimadas causam "cegueira" coletiva em município do Pará
Moradores de S. Félix do Xingu sofrem com falta de ar e tontura
RODRIGO VARGAS
ENVIADO A SÃO FÉLIX DO XINGU (PA)
Falta de ar, tontura e dores
de cabeça. Nebulizadores
funcionando 24 horas por dia
nas unidades de saúde. Moradores com lágrimas nos
olhos em razão da fuligem.
Desde o início de agosto,
quando se acirraram as queimadas na região de São Félix
do Xingu (1.069 km de Belém), os moradores têm que
enfrentar a fumaça no cotidiano. E sofrem duramente.
As crianças são as mais
vulneráveis. Na única unidade materno-infantil, o número médio de atendimentos a
problemas respiratórios quase quadruplicou. Anteontem, foram mais de 20.
"Aqui o inalador não para
um segundo. São 24 horas
por dia", diz a técnica de enfermagem Lucimar Abreu.
Segundo a diretora clínica
da unidade, Rosineire Mariano, os casos mais graves se
concentram entre os moradores da zona rural, pela demora em receberem ajuda.
Os adultos também se
queixam de problemas respiratórios, irritação nos olhos e
dor de cabeça. "De manhã é
pior. Você não consegue nem
enxergar o Sol. E, na rua, ninguém vê mais do que 200 metros", diz Solange Feitosa, 19.
Em agosto, a cidade registrou 1.018 focos de calor, diz
o Inpe (Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais).
À beira do rio Xingu, o piloto de barco Raimundo Santos Silva, 60, lembra que dois
dias atrás não pôde trabalhar. "Não era possível enxergar nada no rio", afirma.
A falta de visibilidade também deixou temporariamente inoperante a balsa que faz
a travessia para a margem esquerda do rio e que é a única
ligação com a região do Xadá, onde há muitas fazendas.
Ontem, pela primeira vez
em quase dois meses, pancadas de chuva atingiram a cidade e a zona rural e ajudaram a amenizar a situação.
A temporada de queimadas, porém, deve seguir por
pelo menos um mês e tende a
se agravar, na opinião do secretário municipal do Meio
Ambiente, Vicente de Paula.
"Nas áreas grandes, a
queima para o manejo de
pastagens vai começar agora", diz. Com 67 mil habitantes, São Félix tem área de 8,4
milhões de hectares (quatro
vezes o território de Sergipe).
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