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TRÂNSITO
Avenida Ibirapuera teve seis vítimas em 11 dias depois da implantação de faixa exclusiva de ônibus à esquerda
Atropelamento em corredor já preocupa
ALENCAR IZIDORO
FABIO SCHIVARTCHE
DA REPORTAGEM LOCAL
Rodas travadas, um ônibus derrapa na av. Ibirapuera (zona sul).
Em segundos, borracha e sangue
mancham a cor do asfalto. "Eu vi
tudo. Foi horrível. O motorista
não freou a tempo para evitar que
a velhinha fosse atropelada", relata Regiane Silva, 36, que há quatro
anos vende cachorro-quente numa das esquinas do corredor.
O acidente se mistura com os
seis atropelamentos que a CET
(Companhia de Engenharia de
Tráfego) de São Paulo teve conhecimento nesse eixo viário em 11
dias -de 25 de agosto a 4 de setembro. Nos 365 dias de 2003, foram 16 casos do mesmo tipo.
Cinco das seis novas vítimas
atendidas pelos fiscais de trânsito
tinham sido atingidas por ônibus.
A outra, por uma motocicleta que
também ocupava a faixa exclusiva
dos coletivos à esquerda, batizada
de Passa Rápido e que já se tornou
uma das vitrines de campanha da
prefeita Marta Suplicy (PT).
O Passa Rápido Capelinha/Ibirapuera/Santa Cruz teve seu primeiro dia útil em 16 de agosto.
Como os demais corredores à esquerda entregues pela prefeitura
às vésperas das eleições, ele tem a
aprovação da maioria dos especialistas por aumentar a fluidez
do transporte coletivo -mas é alvo de preocupações e críticas por
conta desses atropelamentos.
O maior perigo se deve a um fenômeno que se repete com as motocicletas. Quando os carros estão
parados nos congestionamentos,
os pedestres mais afoitos tentam
atravessar a via na frente deles,
muitas vezes na própria faixa de
passagem, antes da abertura do
semáforo. Por distração, não se
dão conta dos coletivos, que andam em maior velocidade na faixa exclusiva que está livre.
"Ontem [quinta-feira] uma mulher gordinha foi atropelada naquela esquina. A cabeça dela bateu no ônibus. O vidro até estourou", relata João Soares, 41, pasteleiro que trabalha numa barraca
na frente do shopping Ibirapuera.
As situações de risco se estendem aos demais Passa Rápido,
embora eles não tenham ainda estatísticas analisadas pela CET.
Na segunda-feira passada, primeiro dia útil do corredor da avenida Rebouças, duas idosas foram
atropeladas. Uma freira foi atingida por um carro por não querer
usar um elevador e uma passarela
improvisados -que causam medo nos usuários- pela prefeitura.
Na semana anterior uma idosa
foi atropelada por um ônibus no
corredor Pirituba/Lapa/São João.
Nem todos os casos acabam notificados oficialmente, mas um levantamento de registros policiais
em outros dois eixos viários são
mais uma pista do possível agravamento desse tipo de acidente.
Na avenida Guarapiranga e na
estrada do M'Boi Mirim, por
exemplo, cujo Passa Rápido teve
seu primeiro dia útil em 9 de agosto, foram feitos no mês passado
dois e oito boletins de ocorrência
de atropelamento, respectivamente, contra zero e dois no mesmo mês de 2003. Os números
constam do Infocrim (banco de
dados sobre ocorrências criminais), mas a Secretaria da Segurança Pública não os comenta.
O taxista Genival Gomes, 39,
conta que viu um atropelamento
na estrada do M'Boi Mirim há
duas semanas. "Na correria para
atravessar a rua, muitas vezes os
pedestres nem percebem os ônibus que estão vindo rapidinho."
A preocupação com os atropelamentos em corredores de ônibus também já existiu no Transmilênio, de Bogotá, na Colômbia,
projeto que se tornou referência
mundial no começo desta década.
O engenheiro brasileiro Paulo
Custódio, que participou da implantação do Transmilênio, conta
que foram feitas campanhas educativas naquele país para combater esse problema. Uma delas
consistia em fazer uma marca no
asfalto nos lugares de cada atropelamento, para deixar visível aos
motoristas e causar impacto.
Custódio aponta duas sugestões
para minimizar os riscos na capital paulista: um treinamento com
os motoristas de ônibus, para que
eles fiquem mais atentos nos cruzamentos; e uma sinalização específica na faixa exclusiva dos
ônibus (como uma pintura diferente), de forma que os pedestres
notem que se trata de um espaço
diferenciado, e não da mesma faixa onde os carros ficam parados.
"É um fenômeno temporário,
que requer uma mudança de hábitos. Os pedestres demoram para se adaptar. Nesse período de
ajustes, é preciso sinalizar", diz
Jaime Waisman, professor da
USP, também defensor de uma
pintura diferenciada do corredor.
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