São Paulo, sexta-feira, 19 de setembro de 2008

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RETRATO DO BRASIL

Renda cresce 3,2%, mas não atinge patamar de 98

Aumento para R$ 960 ainda é menor do que a renda média de R$ 1.003 em 1998

Região Centro-Oeste apresentou a renda mais alta; concentração diminuiu com base na melhora do mercado de trabalho

JANAINA LAGE
ROBERTO MACHADO

DA SUCURSAL DO RIO

A renda média do trabalhador brasileiro cresceu pelo terceiro ano seguido, mas, desta vez, em ritmo mais fraco. Em 2007, a alta foi de 3,2% e chegou a R$ 956. A expansão foi inferior à registrada em 2006, de 7,2%, e em 2005, de 4,5%.
Utilizando a série histórica que começou em 1992 e que exclui a área rural da região Norte, a renda alcançou R$ 960 no ano passado.
Esses dados foram revelados pela Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), realizada anualmente pelo IBGE. Para aferir informações sobre habitação, rendimento, trabalho, população e educação, pesquisadores fizeram, em 2007, 399,9 mil entrevistas em 147,8 mil domicílios.
Mesmo com a recuperação dos últimos anos, o trabalhador ainda não recuperou o patamar de 1998, quando a renda média era de R$ 1.003. Nos últimos três anos, a renda cresceu 15,6%. A expansão do rendimento contribuiu para a queda da desigualdade no país.
"O aumento da renda no ano passado foi baixo. Tivemos uma conjuntura muito boa, com crescimento da economia maior do que 5% e aumento do salário mínimo", afirma Sonia Rocha, economista do Iets (Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade).
Para o IBGE, o aumento do número de trabalhadores contribuiu para um crescimento menor da renda. "Parte se deve ao crescimento real do salário mínimo, que em 2007 foi menor do que o verificado em 2006. Mas há outros fatores. Um deles é o crescimento do número de ocupados. Esse contingente de pessoas que ingressaram no mercado de trabalho pode estar baixando a média salarial", afirma Márcia Quintslr, coordenadora de Trabalho e Rendimento do IBGE.
O crescimento da renda foi mais expressivo nas regiões Centro-Oeste (8,0%) e Norte (5,7%). No Sudeste, a expansão foi de 1,9%. A região Centro-Oeste apresentou o patamar mais alto de renda, de R$ 1.139. Segundo o IBGE, o resultado reflete o crescimento do agronegócio e o reajuste do funcionalismo. O Sudeste registrou renda média de R$ 1.098.
A única categoria que superou os rendimentos verificados nos anos 90 foi a de trabalhadores domésticos, com renda média de R$ 332 no ano passado. Entre os empregadores, por exemplo, a renda de 2007, de R$ 2.863, ainda é 18,76% inferior à registrada no ponto mais alto da série, em 1996.
"Mais importante do que o resultado é a trajetória de recuperação da renda. Salvo um fator exógeno, como a crise nos mercados, enquanto a economia estiver em expansão e o mercado de trabalho aquecido, a renda deve continuar a crescer", afirma Lauro Ramos, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).

Concentração
Os dados do IBGE mostram que houve redução da concentração de renda. O índice de Gini da renda do trabalho -mede a desigualdade e varia de 0 a 1; quanto mais próximo de 1, maior a desigualdade- passou de 0,541 para 0,528, uma variação considerada significativa por especialistas.
"O Brasil prossegue no processo de melhoria das condições sociais e econômicas, mas a concentração de renda ainda é muito forte. Não é hora de deixar o bolo crescer para depois repartir. É o momento da repartição", afirmou o presidente do IBGE, Eduardo Pereira Nunes.
"A desigualdade caiu porque os novos postos de trabalho são majoritariamente criados com nível de pagamento de até três salários mínimos. O que está contribuindo para reduzir a desigualdade é o salário mínimo porque os programas sociais já estão próximos do limite", afirma Lena Lavinas, da UFRJ.
O rendimento médio de todas as fontes, que inclui aposentadorias, aluguéis e programas sociais, cresceu 2,7%, a menor taxa nos últimos anos. A melhora foi maior para os mais pobres. Os 50% de menores rendimentos detinham 16,8% de rendas de todas as fontes no ano passado. Em 2004, a participação deles era de 15,2%.


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