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RETRATO DO BRASIL
Renda cresce 3,2%, mas não atinge patamar de 98
Aumento para R$ 960 ainda é menor do que a renda média de R$ 1.003 em 1998
Região Centro-Oeste apresentou a renda mais alta; concentração diminuiu com base na melhora do mercado de trabalho
JANAINA LAGE
ROBERTO MACHADO
DA SUCURSAL DO RIO
A renda média do trabalhador brasileiro cresceu pelo terceiro ano seguido, mas, desta
vez, em ritmo mais fraco. Em
2007, a alta foi de 3,2% e chegou a R$ 956. A expansão foi inferior à registrada em 2006, de
7,2%, e em 2005, de 4,5%.
Utilizando a série histórica
que começou em 1992 e que exclui a área rural da região Norte, a renda alcançou R$ 960 no
ano passado.
Esses dados foram revelados
pela Pnad (Pesquisa Nacional
por Amostra de Domicílios),
realizada anualmente pelo IBGE. Para aferir informações sobre habitação, rendimento, trabalho, população e educação,
pesquisadores fizeram, em
2007, 399,9 mil entrevistas em
147,8 mil domicílios.
Mesmo com a recuperação
dos últimos anos, o trabalhador
ainda não recuperou o patamar
de 1998, quando a renda média
era de R$ 1.003. Nos últimos
três anos, a renda cresceu
15,6%. A expansão do rendimento contribuiu para a queda
da desigualdade no país.
"O aumento da renda no ano
passado foi baixo. Tivemos
uma conjuntura muito boa,
com crescimento da economia
maior do que 5% e aumento do
salário mínimo", afirma Sonia
Rocha, economista do Iets
(Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade).
Para o IBGE, o aumento do
número de trabalhadores contribuiu para um crescimento
menor da renda. "Parte se deve
ao crescimento real do salário
mínimo, que em 2007 foi menor do que o verificado em
2006. Mas há outros fatores.
Um deles é o crescimento do
número de ocupados. Esse contingente de pessoas que ingressaram no mercado de trabalho
pode estar baixando a média
salarial", afirma Márcia
Quintslr, coordenadora de Trabalho e Rendimento do IBGE.
O crescimento da renda foi
mais expressivo nas regiões
Centro-Oeste (8,0%) e Norte
(5,7%). No Sudeste, a expansão
foi de 1,9%. A região Centro-Oeste apresentou o patamar
mais alto de renda, de R$ 1.139.
Segundo o IBGE, o resultado
reflete o crescimento do agronegócio e o reajuste do funcionalismo. O Sudeste registrou
renda média de R$ 1.098.
A única categoria que superou os rendimentos verificados
nos anos 90 foi a de trabalhadores domésticos, com renda média de R$ 332 no ano passado.
Entre os empregadores, por
exemplo, a renda de 2007, de
R$ 2.863, ainda é 18,76% inferior à registrada no ponto mais
alto da série, em 1996.
"Mais importante do que o
resultado é a trajetória de recuperação da renda. Salvo um fator exógeno, como a crise nos
mercados, enquanto a economia estiver em expansão e o
mercado de trabalho aquecido,
a renda deve continuar a crescer", afirma Lauro Ramos, do
Ipea (Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada).
Concentração
Os dados do IBGE mostram
que houve redução da concentração de renda. O índice de Gini da renda do trabalho -mede
a desigualdade e varia de 0 a 1;
quanto mais próximo de 1,
maior a desigualdade- passou
de 0,541 para 0,528, uma variação considerada significativa
por especialistas.
"O Brasil prossegue no processo de melhoria das condições sociais e econômicas, mas
a concentração de renda ainda
é muito forte. Não é hora de
deixar o bolo crescer para depois repartir. É o momento da
repartição", afirmou o presidente do IBGE, Eduardo Pereira Nunes.
"A desigualdade caiu porque
os novos postos de trabalho são
majoritariamente criados com
nível de pagamento de até três
salários mínimos. O que está
contribuindo para reduzir a desigualdade é o salário mínimo
porque os programas sociais já
estão próximos do limite", afirma Lena Lavinas, da UFRJ.
O rendimento médio de todas as fontes, que inclui aposentadorias, aluguéis e programas sociais, cresceu 2,7%, a
menor taxa nos últimos anos. A
melhora foi maior para os mais
pobres. Os 50% de menores
rendimentos detinham 16,8%
de rendas de todas as fontes no
ano passado. Em 2004, a participação deles era de 15,2%.
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