São Paulo, sábado, 19 de setembro de 2009

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Desvio no Butantan foi de R$ 35 milhões

Segundo o Ministério Público, não há evidências de que Isaias Raw, afastado da presidência, tenha recebido dinheiro

Investigação apontou que esquema foi montado por funcionários do 2º escalão; contra Raw, a acusação é de "administração temerária"

DA REPORTAGEM LOCAL

O Ministério Público Estadual de São Paulo investiga um esquema de desvio de verbas públicas dos cofres da Fundação Butantan, braço operacional do Instituto Butantan, o principal produtor nacional de soros e vacinas -incluindo a vacina para a gripe suína.
Estima-se que foram desviados mais de R$ 35 milhões da fundação nos últimos cinco anos. O orçamento anual do órgão é de cerca de R$ 300 milhões, segundo a Promotoria.
Por conta dessa suspeita, o conselho curador do órgão afastou preventivamente nesta semana o presidente da fundação, Isaias Raw, 82, professor emérito da Faculdade de Medicina da USP, por "gestão temerária". O afastamento do professor foi revelado ontem pela coluna Mônica Bergamo.
Segundo o promotor Airton Grazzioli, da Curadoria de Fundações do Ministério Público, não há evidência de que Raw soubesse do esquema ou de que tenha recebido dinheiro. Porém, como alguns cheques usados para o desvio tinham assinatura do médico, haverá responsabilização dolosa (intencional) ou culposa.
Segundo a Folha apurou, o Ministério Público recomendou o afastamento de Raw porque ele insistia em manter uma administração "caseira", mesmo após a descoberta dos desfalques. Aos promotores, segundo a apuração, o médico alegava ser um cientista, preocupado com a produção, e não com a burocracia.
O esquema criminoso foi organizado por funcionários do segundo escalão, segundo o promotor. Sete foram demitidos. Ninguém está preso.
Ainda de acordo com Grazzioli, a investigação teve início no ano passado após o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) identificar movimentações suspeitas.
De uma das contas da fundação foram feitas transferências para uma empresa que conserta eletrodomésticos. Com capital social de R$ 10 mil, ela recebeu quatro depósitos no valor de R$ 2,7 milhões, em 2007. No total, essa empresa -que não prestou serviços à fundação- recebeu R$ 24 milhões.
O esquema funcionava da seguinte forma: a fundação produzia vacinas e soros para o Ministério da Saúde. O valor da compra era depositado numa conta bancária da fundação. Em algumas compras, o número fornecido pelos funcionários era de uma conta inativa, da qual eles tinham a senha.
Quem comandava o esquema, de acordo com a Promotoria, era o então gerente financeiro da fundação, Adalberto da Silva Bezerra, acusado de maquiar os balanços e ocultar os desvios. Bezerra não foi localizado ontem.
Hisako Gondo Higashi, ex-superintendente da fundação, também foi afastada.


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