São Paulo, domingo, 19 de setembro de 2010

Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Megatorre jogará mil carros na Paulista em hora de rush

CET aprova certidão de diretrizes de edifício e shopping center na avenida

Obra em antigo terreno da casa dos Matarazzo deve começar neste ano; vaga de garagem em excesso é questionada


Alessando Shinoda/Folhapress
Pórtico é a única parte que resta da casa dos Matarazzo

ALENCAR IZIDORO
DE SÃO PAULO

Levado pela filha, um idoso apareceu semanas atrás na avenida Paulista, esquina com a rua Pamplona, "para se despedir" de um terreno.
Quem passa por lá, no número 1.230, não costuma notar nada além de um estacionamento equivalente a quase dois campos de futebol.
O homem, porém, lembrou a imagem da casa, do jardim, da cocheira e reparou que pelo menos as jabuticabeiras tinham sobrevivido.
Era ali a casa de Francisco Matarazzo, industrial de quem aquele senhor dizia ter sido motorista. É a mesma área que ganhará prédio comercial e shopping center capazes de atrair mais de mil carros em uma hora na engarrafada região da Paulista.
A CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) aprovou no dia 2 a certidão de diretrizes da futura Torre Matarazzo, no terreno mais cobiçado da via, alvo de disputas nas últimas duas décadas.
A emissão do documento era analisada desde 2006. Ele dimensiona os impactos e ações para mitigá-los. Para os empreendedores, é passo fundamental para a obra ser aprovada pela prefeitura.
O braço da Cyrela que cuida do novo edifício comprou a área há três anos, junto com a Camargo Corrêa, por R$ 125 milhões. Ele já avisou os acionistas sobre a expectativa de começar as obras ainda neste ano -para terminá-las até março de 2014.

ESTACIONAMENTO
O estudo da CET avaliou que, pela manhã, a nova torre deve atrair 1.090 carros na hora mais movimentada -um a cada três segundos.
No rush da tarde, 788 veículos chegando e 1.148 saindo em apenas uma hora.
"É suficiente para matar uma das quatro faixas da Paulista. O nó que já existe vai ficar mais apertado", afirma Horácio Figueira, mestre em engenharia pela USP.
Parte da demanda pode ir para a Pamplona e São Carlos do Pinhal. Pela certidão de diretrizes, as construtoras terão de alargá-las, assim como investir em semáforos, sinalização e travessias.
A CET decidiu acatar a proposta dos empreendedores e fixar em 1.557 as vagas de estacionamento para carros. Significa 34% mais do que seria exigido pela legislação.
O que pode parecer uma solução para agilizar a entrada e saída dos motoristas é um problema, na avaliação do urbanista Candido Malta.
"Vaga de estacionamento no destino das pessoas é uma facilidade que só estimula mais veículos na rua", diz ele, que destaca a oferta de metrô na própria avenida.
"Não adianta oferecer mais vagas de garagem se não existe margem para ampliar a capacidade do espaço viário", reforça Jaime Waisman, professor da Poli/USP.
Técnicos citam a opção de exigir gastos no transporte coletivo. Figueira sugere embarque de ônibus dentro do terreno e oferta de serviços circulares na vizinhança.


Próximo Texto: Frase
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.