São Paulo, domingo, 19 de setembro de 2010

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DANUZA LEÃO

E que mãe!


Ninguém jamais cuidou melhor de sua família que a ex-ministra da Casa Civil (foi pra ela que sobrou)


A FOME NO MUNDO diminuiu; boa notícia? Em termos. Saber que do 1 bilhão de pessoas que passavam fome o número baixou para 925 milhões não chega a ser um grande consolo.
Quem vê na televisão, em pequenas cidades do Nordeste, famílias morando em casebres com chão de terra batida, em volta de uma sopa rala feita numa lata de querosene, sem um pedaço de carne, ou as pobres vítimas das enchentes deixando seus barracos desmoronados, percebe que todos têm algo em comum, além da miséria: uma enorme quantidade de filhos. Mas ainda não ouvi nenhum candidato falando de controle da natalidade.
Em 1970, éramos 90 milhões (sei disso porque me lembro do hino da Copa -90 milhões em ação). Hoje, 40 anos depois, somos, segundo o IBGE, 192 milhões.
Se o número mais do que dobrou, em 2050 pode perfeitamente alcançar 400 milhões. E como alimentar, educar e dar emprego para essa gente toda que não para de nascer?
Em cada família (quanto mais pobres, mais procriam) são seis, oito, dez crianças. É preciso explicar, sobretudo às mulheres pobres e analfabetas, que é possível decidir quantos filhos querem ter. Elas não sabem que com menos filhos é mais fácil alimentar a família, porque nunca pensaram nisso.
Um programa desses é para ser feito em duas etapas: na primeira, mais educativa, explicando que existem opções; a mulher pode até mesmo não ter filho nenhum, se não quiser. Mostrar que elas têm esse direito, talvez o primeiro da vida.
Na segunda, ensinando os vários procedimentos possíveis e fornecer os meios para as mais pobres e menos esclarecidas. Diu, pílula, pílula do dia seguinte, camisinha; a escolha é vasta, e que fique bem claro: ninguém está falando em laqueadura geral.
Os países mais pobres não podem ter a ilusão de melhorar vendo sua população dobrada ou triplicada em alguns anos. Não adianta: sem o controle da natalidade país nenhum vai resolver seus problemas.
Não pode existir cidadania enquanto a panela estiver vazia e um punhado de crianças descalças, analfabetas e sub-alimentadas, sem esperança de um futuro melhor.
Adolescentes também precisam ter acesso a essas informações, para que meninas de 12, 13 anos evitem a gravidez, como é tão frequente em zonas mais carentes, sobretudo no Nordeste -e daí para a prostituição infantil e para a delinquência, é apenas um pulo. Se elas não sabem, é fatal que engravidem -ou alguém vai falar em abstinência sexual com adolescentes com os hormônios à flor da pele?
Nenhum Bolsa Família vai resolver o problema, e quando uma dessas mães olha de maneira tão triste para suas filhas, ela está pensando, sem nem saber que está pensando, que a vida delas vai ser exatamente igual à sua: miserável e sem perspectiva.

 


Quando foi violado o sigilo da filha do candidato Serra, o ministro Mantega disse que não ia falar sobre o assunto. Agora toma altas providências para impedir que isso volte a acontecer. E o que já aconteceu, vai ficar por isso mesmo?

 


A verdadeira mãe de todos os brasileiros deveria ser Erenice Guerra -e que mãe! Ninguém jamais cuidou melhor de sua família do que a ex-ministra da Casa Civil (e foi pra ela que sobrou).
Mas Dilma não sabia de nada, claro.

danuza.leao@uol.com.br


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