São Paulo, domingo, 19 de outubro de 2008

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Piora estado de saúde da menina Eloá

Se sobreviver, segundo os médicos, jovem pode ficar em estado vegetativo; estudante perdeu bastante massa encefálica

"Ela chegou com os reflexos neurológicos favoráveis; hoje já não está assim e o quadro atual é grave", disse o médico Marco Túlio Setti

RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL

O estado de saúde da estudante Eloá Cristina Pimentel, de 15 anos, baleada na tarde de sexta-feira na cabeça após ter sido mantida refém pelo ex-namorado, em Santo André (Grande São Paulo) por mais de cem horas, piorou bastante.
Se conseguir sobreviver, de acordo co os médicos, há risco de que fique com seqüelas irreversíveis, em estado vegetativo. A bala continua alojada em seu cérebro.
Para explicar como está a saúde de Eloá, os médicos do Centro Hospitalar Municipal de Santo André utilizaram ontem uma escala que mede o nível de funcionamento neurológico após um trauma craniano, que vai de 3 (o estado mais crítico) a 15 (o melhor estado).
Anteontem, quando chegou ao hospital para ser operada, seu nível era o 4. Na manhã de ontem, havia piorado para o 3.
"Ela chegou com os reflexos neurológicos favoráveis. Hoje já não está assim. O quadro atual é grave. Houve uma piora importante. Perdeu bastante massa encefálica", afirmou Marco Túlio Setti, o médico que a operou.
O neurocirurgião declarou que o disparo que a atingiu na cabeça provavelmente foi dado a queima-roupa.
Segundo o médico, há o risco de a adolescente ter seqüelas graves. "Ainda é cedo para falar em morte cerebral, mas existe essa possibilidade", afirmou.
Ainda de acordo com Setti, só será possível fazer uma avaliação melhor quando a paciente sair do coma induzido, o que estava previsto para ocorrer ontem à tarde.
Ela está na UTI (unidade de terapia intensiva), a ala do hospital onde ficam os pacientes em estado mais grave. O médico disse que não havia outra cirurgia prevista, nem mesmo para a retirada da bala.

Massa encefálica
Eloá recebeu dois disparos. Uma das balas atingiu sua virilha esquerda. Esse ferimento não preocupa os médicos.
A outra bala acertou a testa dela, pelo lado direito, e seguiu cerca de 25 cm até chegar ao cerebelo. Percorreu a cabeça quase de ponta a ponta.
Nesse percurso, a bala destruiu uma parte considerável de massa encefálica.
O cerebelo é a parte do cérebro que controla os músculos responsáveis pelo equilíbrio.
A adolescente foi submetida a uma cirurgia que durou cerca de três horas para corrigir essa destruição do cérebro.
Chegou ao centro cirúrgico com hemorragia, que foi estancada. Após a operação, a menina foi colocada em coma induzido, por medicamentos.
O objetivo do coma é reduzir o metabolismo do cérebro e, assim, facilitar sua recuperação.

Pais
Os pais de Eloá estavam ontem de manhã no hospital público de Santo André. O pai, Aldo Silva, que havia tido uma crise de hipertensão na noite de anteontem e teve de ser sedado, encontrava-se melhor ontem. A mãe, Cristina, precisou ser atendida por psicólogos do hospital ontem de manhã.
Ela ficou ao lado da filha durante a noite, de acordo com a médica Rosa Maria Pinto Aguiar. "Falou com a filha o tempo todo: "A mamãe te ama. Eu espero que você...'", contou a médica. Emocionada, Rosa Maria interrompeu a frase quando percebeu que começaria a chorar.
A primeira entrevista coletiva de ontem sobre o estado de saúde da adolescente teve a participação dos médicos do hospital, do prefeito de Santo André, João Avamileno (PT), e do secretário municipal da Saúde, Homero Nepomuceno Duarte.


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