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Candidato a juiz tem de conhecer autoridades
Edital do Tribunal de Justiça do MS exige contatos atualizados de dez autoridades para aprovar inscrição no concurso
Presidente do TJ-MS admite mudar a regra, mas diz que não há privilégio e que ninguém foi reprovado por não ter os dez contatos
MATHEUS PICHONELLI
DA AGÊNCIA FOLHA
Candidatos que tentam vaga
para juiz em Mato Grosso do
Sul devem informar, já na inscrição, contatos e endereços
"atualizados e completos" de
dez autoridades -cinco do
meio jurídico- que possam dar
referências sobre o postulante.
A exigência causa polêmica
em razão do número de contatos pedidos que consta do edital para o último concurso para
juiz no Estado. A idéia é que as
autoridades -juízes, promotores, políticos e até delegados-
falem sobre a "idoneidade moral, educação, sociabilidade,
atividade profissional, conduta
familiar e social do candidato".
A advogada de Curitiba (PR)
Zenice Mota Cardozo, 39, que
participou do concurso, mas
não foi aprovada, diz ter perdido uma semana para fazer os
contatos e pedir referência.
Para ela, a exigência não faz
sentido, porque é difícil encontrar dez autoridades que conheçam, de fato, o postulante e
possam falar sobre ele. "Você
tem que incomodar dez autoridades antes mesmo de ser
aprovado", diz Cardozo.
O presidente da AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros), Mozart Valadares Pires,
diz ver "exagero" no pedido. Ele
afirma desconhecer casos de
tribunais que peçam tantas autoridades para contato e diz
que três são "suficientes".
Mais de 1.400 pessoas se inscreveram no concurso e 18 se
classificaram para a prova oral,
marcada para 31 de outubro.
Para o presidente do TJ-MS
(Tribunal de Justiça de Mato
Grosso do Sul), João Carlos
Brandes Garcia, a exigência
existe desde os primeiros concursos, no final dos anos 1970.
Ele diz que nunca houve reclamação e que nunca alguém
deixou de ser aprovado por não
ter os dez contatos. "Transparência não nos falta. No tribunal, 80% dos juízes são de fora
do Estado. Não há privilégios.
Foi bom colocar isso em discussão porque podemos rever [a
regra]. Agora, a investigação do
candidato é importante."
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