São Paulo, domingo, 19 de outubro de 2008

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Guia tenta "desviar" do cheiro em local histórico

Em roteiro pelo centro histórico, turistas "sentem" a cidade ao descer do ônibus

Americana diz que amiga já havia alertado que, no Brasil, as pessoas urinam em qualquer lugar; grupo flagra homem nu de cócoras na Sé

DA REPORTAGEM LOCAL

É da famosa esquina entre as avenidas Ipiranga e São João, no centro de São Paulo, que parte o ônibus com cinco turistas, na quinta, curiosos com a promessa da agência de conhecer a história da metrópole da maneira mais paulistana: correndo, em um city tour de três horas pelos pontos históricos.
Mas "os pontos históricos fedem muito", lamenta Sueli Serra, que lidera o passeio da Sé ao Mercado Municipal; tour feito em parte de ônibus (com histórias dos monumentos e acontecimentos que ela sabe de cor) e em parte a pé -que é quando o turista "sente" o centro. "A gente procura desviar do cheiro", diz Serra, "mas não tem jeito".
Ela leva os clientes para o Solar da Marquesa de Santos, onde começa a explicar sobre sua história ("mulher polêmica, amante de homens poderosos, que fumava nessa sacada"), sem ver que, sob os pés, uma poça de urina jazia fedida na calçada. O cheiro segue a trupe.
"A gente diz que São Paulo é uma cidade com certidão de nascimento, pois se sabe onde e quando começou", diz a guia. Foi ali, no Páteo do Colégio, onde a americana Elena Dehmer agora filosofa e torce o nariz. "As mulheres têm um olfato superior ao dos homens. E, aqui, é urina." Nos Estados Unidos, diz, ninguém urina na rua. "Mas uma amiga que mudou para o Brasil já tinha dito que aqui se faz em qualquer lugar."
Difícil é desmenti-la, se, ao passar de ônibus pela Sé, ela e os outros turistas do tour têm um ataque de risos: olham pela janela e vêem um homem nu, de cócoras. "Não me espanta, no Rio de Janeiro é pior", diz a carioca Ana Lúcia da Câmara, fotografando prédios e igrejas do centro. "São Paulo é um lugar que visitei sempre, mas cuja história desconheço."
Como ela começou uma pós-graduação em história do Brasil, achou que era hora de vir conhecer a cidade. "A gente acha que São Paulo é só a cidade de bons restaurantes e museus. Mas é onde aconteceu tudo na história do Brasil", diz. "Não é só a cidade de trabalho, mas de uma história desconhecida."
Três horas de tour (e muita igreja, monumento e praça depois), ela afirma: gostou da história que viu e não sentiu cheiro de urina algum. "É que, graças a Deus, faz uma semana que esse resfriado não me deixa."


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