São Paulo, segunda-feira, 19 de outubro de 2009

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Vítimas da guerra do tráfico voltavam de festa, diz família

Parentes contestam informação da polícia de que três jovens mortos no Rio durante confronto eram criminosos; PM diz que vai verificar

Rapazes foram metralhados por criminosos, por volta das 2h de sábado, em rua que dá acesso ao morro dos Macacos (zona norte do Rio)

LUISA BELCHIOR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO

Marcelo da Costa Ferreira, 26, foi levado por três primos a uma festa a fantasia na noite de sexta, no Rio de Janeiro, para tentar sair de uma crise de depressão que quase o levou à internação na semana passada.
Por volta das 2h de anteontem, os quatro foram fuzilados na rua Torres Homem, um dos acessos ao morro dos Macacos (zona norte da cidade).
Do grupo, só Francisco Alaílton da Silva, 22, um dos primos, sobreviveu -ele foi baleado, mas conseguiu correr. Marcelo, Leonardo Paulino, 27 e Francisco Ailton da Silva, 25 -irmão de Alaílton-, morreram.
Os quatro voltavam para casa no mesmo momento em que criminosos do morro São João preparavam-se para invadir o morro dos Macacos. A guerra de traficantes culminou com oito ônibus queimados, um helicóptero da Polícia Militar abatido e 15 mortos, entre dois policiais que estavam na aeronave e os três rapazes.
A ida à festa à fantasia foi relatada ontem à tarde por familiares dos três durante o enterro de Marcelo, Leonardo e Ailton, no cemitério do Catumbi (centro do Rio).
No fim da cerimônia, 300 pessoas homenagearam os três com aplausos de cerca de um minuto. "Há 15 dias estávamos batendo palmas para o aniversário dele", lamentou a mãe de Marcelo, Maria da Costa Ferreira, 52.
A versão da família contrastou com a do secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, que os contabilizou como "bandidos" durante entrevista anteontem. Nenhum dos quatro tinha ficha policial, segundo a Polícia Civil, e todos eram empregados fixos.
O comandante da PM do Rio, coronel Mário Sérgio Duarte, justificou que a afirmação do secretário foi feita com base em "notícias coletadas em um primeiro momento, e não podemos sonegar". "Temos que passar à imprensa", disse.

"Engajados no confronto"
Segundo ele, "as informações eram de que os outros mortos seriam engajados nos confrontos. Precisamos agora verificar inclusive a identidade de cada um. Em momento nenhum disse que tínhamos o número certo de bandidos tombados".
Marcelo Gomes era instalador de ar-condicionado. Francisco Ailton, mecânico e seu irmão, atendente da lanchonete Habib's. Leonardo, que comemoraria anteontem o aniversário de seu filho, trabalhava havia dez anos em empresa que prestava serviço ao hospital São Victor, na Tijuca (zona norte). O hospital São Victor e a rede Habib's confirmaram as informações da família.
Até o fim da tarde de ontem, o estado de saúde de Alaílton não era grave, mas inspirava cuidados, segundo o hospital do Andaraí, onde ele está internado.


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