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Análise
Polícia ainda é reativa
ALBA ZALUAR
ESPECIAL PARA A FOLHA
Os acontecimentos se sucederam tão rapidamente que
deixaram os moradores sem fôlego, mas com a pulga atrás da
orelha. Primeiro, os trens inexplicavelmente atrasados e parados, populares revoltados fazendo quebra-quebra. As evidências de sabotagem continuam sem investigação conclusiva. Depois, as invasões de favelas dominadas por outros comandos, cada vez mais espetaculares, com artilharia aérea
que derruba um helicóptero.
Por fim, os oito ônibus e um
carro, todos queimados em
áreas dominadas pelo Comando Vermelho, aliado do PCC.
Considerando o estilo similar, parece que os dois comandos estão mesmo aliados.
Mas era de se esperar que invasões e ações violentas fossem
ocorrer. E os serviços de inteligência da polícia já haviam detectados alguns sinais. Poucos
ainda, considerando o volume
de operações na cidade que
prejudicavam os negócios dos
traficantes.
Primeiro, a expansão das milícias, o comando azul que proíbe a entrada de armas, de traficantes e assaltantes, mas espanca, expulsa e mata quem
não obedece suas leis na "comunidade", além de fazer outros negócios escusos com o
transporte "alternativo" e na
cobrança de taxa em qualquer
transação imobiliária na "comunidade".
As favelas mudaram de cor:
em 2005, a grande maioria era
vermelha, hoje a maioria é azul.
Da zona oeste, as milícias já invadem a área mais próxima do
aeroporto, do porto e da baía de
Guanabara: os subúrbios cariocas. E ensinam que o controle
no acesso às armas é possível.
Depois, a ocupação permanente de favelas em pontos
muito lucrativos de venda de
drogas localizados nas áreas
mais ricas e mais centrais da cidade. Ainda em andamento,
aplaudida por muitos que vivem dentro e fora de comunidades, cercada de segredos e
pouco discutida, essa operação
não aproveita aquilo que revolucionou as polícias dos países
do primeiro mundo: a proximidade com os moradores e a discussão conjunta dos problemas
locais para traçar as prioridades na segurança.
Certamente, a circulação de
armas nas favelas, a mais grave
insalubridade que hoje se encontra nelas, a que mais mata
prematuramente seus filhos,
seria uma delas.
As ações dos últimos dias podem ser interpretadas como
uma mensagem dura dos traficantes para o governo que atrapalha seus negócios. Mas certamente é também a prova de que
as rotinas de uma polícia reativa, estabelecida há décadas nas
polícias brasileiras, ainda não
foram substituídas pela estratégia que permite antecipar-se
às ações criminosas, como estas a que assistimos estarrecidos na telinha/ona da TV.
ALBA ZALUAR, antropóloga, é coordenadora do
Núcleo de Pesquisa em Violências da Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro)
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