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Jardim botânico na serra do Mar vai "engolir" bairro
Criado pelo governo de SP, projeto prevê desapropriar 1.400 casas em Cubatão
Prefeita diz que Estado não discutiu proposta
e ameaça ir à Justiça; objetivo é preservar espécies da região
JOSÉ BENEDITO DA SILVA
DE SÃO PAULO
GUTO LOBATO
ENVIADO ESPECIAL A CUBATÃO
A criação de um jardim botânico na serra do Mar, em
Cubatão (Baixada Santista),
com área igual à de 441 campos de futebol, fará desaparecer um bairro inteiro, com
1.400 casas, e já desencadeia
uma queda de braço entre o
governo, dirigido pelo PSDB,
e a prefeitura, pelo PT.
O Jardim Botânico de Cubatão, formalizado neste mês
pelo governador Alberto
Goldman (PSDB), tem 364
hectares, é o maior do Estado
em área total e superior aos
de São Paulo (164) e Rio (137).
A área de visitação deverá
ter 38 hectares. O objetivo é
conservar, pesquisar e expor
espécies de flora da mata
atlântica, principalmente as
que só existem na região.
O projeto prevê estacionamento, lanchonete e área de
convivência. A obra, de R$
40 milhões, será financiada
pelo BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento).
O jardim será onde hoje está o Água Fria, um bairro ilegal erguido principalmente
por migrantes às margens da
via Anchieta antes mesmo da
criação do Parque Estadual
da Serra do Mar, em 1977.
"Eu não conheço [o projeto] nem o meu povo conhece", afirma a prefeita Márcia
Rosa (PT), que critica o governo por não discutir a proposta e não ter feito audiência pública no local. O governo diz ter feito audiência em
São Paulo. A proposta foi
aprovada pelo Conselho Estadual do Meio Ambiente.
A prefeita diz não ser contra o jardim, que melhoraria
ambientalmente a imagem
da cidade, famosa pela poluição industrial nos anos 70.
Mas afirma que a área não
é adequada por ser a mais
plana da região e por abrigar
famílias há mais de 70 anos.
Bem estruturado, o bairro
possui luz, telefonia fixa,
posto de saúde, igrejas, linha
de ônibus e três acessos, mas
falta rede de esgoto. A maioria das casas é de alvenaria e
não está em área de risco.
O decreto de Goldman,
que não fixa prazo para as
desapropriações, levou à
criação do "Movimento Água
Fria Urgente", formado por
moradores e entidades e que
prevê um protesto hoje.
A prefeita diz que não descarta a via judicial, mas vai
priorizar uma negociação para alterar o projeto. Mesma
posição defendida por Elza
Jordão, 52, dona de uma casa
de dois andares no bairro.
"Tenho fé de que o governo vai repensar essa decisão
e cogitar deixar nosso bairro
onde ele sempre esteve", diz.
"De jeito nenhum", afirma
o coronel Elizeu Eclair, coordenador-geral do Programa
de Recuperação Socioambiental da Serra do Mar.
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