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GUERRA SEM TRINCHEIRA
Mercado de armas alimenta crimes, aponta investigação
PMs morrem mais nas ruas do que em favelas no Rio
MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO
Nos últimos meses, tem sido
muito mais arriscado para PMs
atuar no patrulhamento das ruas
do Estado Rio ou ficar parados
em pontos fixos nas principais
vias das cidades do que participar
de operações em favelas ou confrontos com traficantes.
Dos 43 PMs mortos em serviço
neste ano no Estado, pelo menos
27 -ou seja, mais da metade-
foram assassinados quando faziam rondas ou estavam em carros policiais parados em ruas durante a "Operação Visibilidade".
Investigações das polícias Civil e
Federal indicam que o fenômeno
dos ataques a policiais nas ruas
pode ser causado por uma mudança na estratégia de traficantes
para reforçar os seus arsenais.
Diante da dificuldade de adquirir o armamento contrabandeado
do Paraguai e dos recentes insucessos em tentativas de invadir
quartéis das Forças Armadas, os
traficantes atacam policiais que
estão em pequeno número nas
ruas -normalmente em dupla-
porque é mais difícil haver reação.
Os ataques ocorrem normalmente entre o final da noite e o início
da manhã.
Um dos casos em que se comprovou que o ataque aos PMs tinha como objetivo o roubo de armas ocorreu na manhã do último
dia 30. Dois policiais do 6º Batalhão foram mortos em frente ao
campus da Uerj (Universidade do
Estado do Rio de Janeiro), no Maracanã, por volta das 6h.
Os PMs Luiz Walmir Leite Bastos e José Leonardo Ferreira Nobre estavam fazendo ronda pela
região e resolveram parar em uma
padaria. Quando deixavam o local, homens com fuzis em um
Honda Fit atiraram nos PMs e
roubaram uma carabina e duas
pistolas. Na semana passada, a
Polícia Civil prendeu um traficante do vizinho morro da Mangueira, que, segundo policiais, confessou o crime. De acordo com a polícia, ele disse que atacou os PMs
porque sua quadrilha havia perdido um fuzil em uma apreensão e
tinha de recuperar a arma.
Outro caso ocorreu com os PMs
Télio de Jesus Graniço e Róbson
da Silva Barros, do 22º Batalhão
(complexo da Maré), assassinados na manhã do dia 2 de outubro, em Ramos (zona norte),
quando comiam em uma padaria.
Após matar os policiais, os criminosos fugiram com dois fuzis.
Segundo a Polícia Federal, as armas foram localizadas em um sítio no município de Guapimirim
(a 86 km do Rio) com 17 pessoas
acusadas de integrar uma quadrilha de traficantes ligados do complexo de favelas do Alemão.
Falsa blitz
Os mesmos traficantes do Alemão são acusados de matar os
PMs Artur Guedes Freire e Adriano Reis Barbosa, do 3º Batalhão
(Méier, zona norte), no dia 12 de
outubro, em Inhaúma.
Os PMs foram até o local após
receberem um chamado, pelo serviço 190, de ocorrência de uma
falsa blitz na região. Quando chegaram, foram metralhados e tiveram dois fuzis roubados.
Policiais da 44ª Delegacia de Polícia informaram que os traficantes praticaram o ataque para roubar as armas dos PMs, que seriam
utilizadas em uma invasão à favela de Vigário Geral (zona norte).
Segundo a Polícia Civil, os chefes do tráfico no Alemão, base da
facção criminosa CV (Comando
Vermelho), ofereciam recompensas de R$ 10 mil para quem matasse policiais e roubasse armas.
Outros PMs também morreram
ao serem atacados em vias de
grande circulação. No dia 5 de
agosto deste ano, dois policiais foram assassinados na avenida Presidente Vargas, uma das principais vias do centro. No dia 1º de
maio, três PMs foram metralhados em frente à sede da Fundação
Oswaldo Cruz, na avenida Brasil.
Folga
Se para o policial que trabalha
na rua o risco de ser morto é grande, para o PM que está de folga o
risco é ainda maior. Dos 97 policiais militares mortos neste ano,
54 foram assassinados quando
não estavam a serviço da PM.
São múltiplas as situações em
que os PMs de folga são assassinados. No entanto, a maioria dos
crimes ocorre quando o policial é
reconhecido pelos criminosos.
Segundo a Associação dos Militares Auxiliares e Especialistas, 6%
dos crimes são esclarecidos.
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