São Paulo, sexta-feira, 19 de novembro de 2004

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GUERRA SEM TRINCHEIRA

Mercado de armas alimenta crimes, aponta investigação

PMs morrem mais nas ruas do que em favelas no Rio

MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO

Nos últimos meses, tem sido muito mais arriscado para PMs atuar no patrulhamento das ruas do Estado Rio ou ficar parados em pontos fixos nas principais vias das cidades do que participar de operações em favelas ou confrontos com traficantes.
Dos 43 PMs mortos em serviço neste ano no Estado, pelo menos 27 -ou seja, mais da metade- foram assassinados quando faziam rondas ou estavam em carros policiais parados em ruas durante a "Operação Visibilidade".
Investigações das polícias Civil e Federal indicam que o fenômeno dos ataques a policiais nas ruas pode ser causado por uma mudança na estratégia de traficantes para reforçar os seus arsenais.
Diante da dificuldade de adquirir o armamento contrabandeado do Paraguai e dos recentes insucessos em tentativas de invadir quartéis das Forças Armadas, os traficantes atacam policiais que estão em pequeno número nas ruas -normalmente em dupla- porque é mais difícil haver reação. Os ataques ocorrem normalmente entre o final da noite e o início da manhã.
Um dos casos em que se comprovou que o ataque aos PMs tinha como objetivo o roubo de armas ocorreu na manhã do último dia 30. Dois policiais do 6º Batalhão foram mortos em frente ao campus da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), no Maracanã, por volta das 6h.
Os PMs Luiz Walmir Leite Bastos e José Leonardo Ferreira Nobre estavam fazendo ronda pela região e resolveram parar em uma padaria. Quando deixavam o local, homens com fuzis em um Honda Fit atiraram nos PMs e roubaram uma carabina e duas pistolas. Na semana passada, a Polícia Civil prendeu um traficante do vizinho morro da Mangueira, que, segundo policiais, confessou o crime. De acordo com a polícia, ele disse que atacou os PMs porque sua quadrilha havia perdido um fuzil em uma apreensão e tinha de recuperar a arma.
Outro caso ocorreu com os PMs Télio de Jesus Graniço e Róbson da Silva Barros, do 22º Batalhão (complexo da Maré), assassinados na manhã do dia 2 de outubro, em Ramos (zona norte), quando comiam em uma padaria. Após matar os policiais, os criminosos fugiram com dois fuzis.
Segundo a Polícia Federal, as armas foram localizadas em um sítio no município de Guapimirim (a 86 km do Rio) com 17 pessoas acusadas de integrar uma quadrilha de traficantes ligados do complexo de favelas do Alemão.

Falsa blitz
Os mesmos traficantes do Alemão são acusados de matar os PMs Artur Guedes Freire e Adriano Reis Barbosa, do 3º Batalhão (Méier, zona norte), no dia 12 de outubro, em Inhaúma.
Os PMs foram até o local após receberem um chamado, pelo serviço 190, de ocorrência de uma falsa blitz na região. Quando chegaram, foram metralhados e tiveram dois fuzis roubados.
Policiais da 44ª Delegacia de Polícia informaram que os traficantes praticaram o ataque para roubar as armas dos PMs, que seriam utilizadas em uma invasão à favela de Vigário Geral (zona norte).
Segundo a Polícia Civil, os chefes do tráfico no Alemão, base da facção criminosa CV (Comando Vermelho), ofereciam recompensas de R$ 10 mil para quem matasse policiais e roubasse armas.
Outros PMs também morreram ao serem atacados em vias de grande circulação. No dia 5 de agosto deste ano, dois policiais foram assassinados na avenida Presidente Vargas, uma das principais vias do centro. No dia 1º de maio, três PMs foram metralhados em frente à sede da Fundação Oswaldo Cruz, na avenida Brasil.

Folga
Se para o policial que trabalha na rua o risco de ser morto é grande, para o PM que está de folga o risco é ainda maior. Dos 97 policiais militares mortos neste ano, 54 foram assassinados quando não estavam a serviço da PM.
São múltiplas as situações em que os PMs de folga são assassinados. No entanto, a maioria dos crimes ocorre quando o policial é reconhecido pelos criminosos. Segundo a Associação dos Militares Auxiliares e Especialistas, 6% dos crimes são esclarecidos.


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