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DANUZA LEÃO
A moda que mata
O Brasil poderia começar a pensar em exigir peso e idade mínimos para quem quer encarar a passarela
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É MUITO TRISTE saber que uma
menina que tinha como
sonho ser modelo internacional morre aos 21 anos de anorexia,
que podemos quase apostar que surgiu da necessidade de estar de acordo com os padrões que a profissão
exige.
Já pensei muito sobre essas garotas que correm atrás do sucesso para
serem famosas e milionárias aos 18
anos -já que nessa profissão, aos 22,
23, elas já acabaram. Algumas ganham fortunas num curto espaço de
tempo, mas essas são poucas.
Sempre me impressionei com certas características dessa profissão.
Existem profissionais dedicados especialmente a descobrir meninas
com potencial -altas, magras, bonitas-, que são buscadas até mesmo
em portas de colégios, com a sedução de poderem ser as novas Giseles
Bündchens. E que garota não se sentiria atraída por essa possibilidade?
Aí começam os concursos para
eleger a Top Model do ano, e muitas
concorrem com 13, 14 anos. Se têm a
chance de se destacarem por algum
traço especial, passam uma fase morando num pequeno apartamento
com mais três ou quatro também
pretendentes a modelos, dormindo
em beliches e andando de ônibus,
esperando que a carreira deslanche.
O máximo para qualquer uma delas,
sobretudo quando se trata de uma
menina vinda do interior, é ir para
Milão ou Tóquio. Vamos reconhecer: é preciso ter a cabeça feita -e
com 13 anos isso é raro- para preferir estudar geografia e matemática a
ser modelo internacional. Elas vão,
muitas vezes sozinhas, e se têm uma
dúvida, um problema, com quem se
aconselham? Com seus agentes, é
claro. Estarão sempre sendo convidadas para todas as festas, rodeadas
pelos mais sedutores playboys,
aqueles, que passam a vida esperando pela safra do ano.
Há alguns anos houve um juiz de
menores no Rio, Siro Darlan, que
proibiu menores de 18 anos de desfilar. Foi um escândalo; o juiz foi acusado de querer publicidade, o tempo
passou e não se falou mais nisso.
Mas vamos ter a coragem de ser caretas, por uma vez na vida: é possível
jogar uma menina de 13 anos num
mundo cheio de seduções e esperar
que ela tenha uma cabeça privilegiada para saber o que deve ou não fazer? Uma minoria se dá bem, mas a
maior parte delas, da qual nem ouvimos falar, acaba mal. E algumas, como essas duas pobres garotas que
morreram nesta semana, não tem
noção de até onde devem ir, para
obedecer às regras do mercado. Porque para ser uma modelo de sucesso, a primeira, primeiríssima condição, é a magreza absoluta.
Para isso, qualquer sacrifício é válido: desde tomar comprimidos para
tirar a fome até se habituar a não comer e ficar anoréxica.
Gostei muito quando soube que
na Espanha as modelos que tivessem medidas abaixo de um certo padrão estavam proibidas de desfilar.
Eles estão certos: medir 1,75m e pesar 50 quilos é loucura, é doença,
mas uma doença que o mundo
aplaude como digna de louvor.
Umas pessoas gostam das magras,
outras preferem as gordinhas, e há
lugar para tudo neste mundo, desde
que sem exageros.
O Brasil poderia bem copiar a Espanha e exigir um peso mínimo para
quem pretende encarar a passarela.
E começar a pensar também em determinar uma idade mínima para
começar a profissão. Quem tem 13
anos, mesmo no mundo de hoje, é
ainda uma menina.
Estaríamos quase sós nessas duas
campanhas, mas com a certeza de
estar fazendo o certo. Mesmo contra
a opinião do mundo em geral e das
agências de modelos em particular.
danuza.leao@uol.com.br
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