|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Internada, doente ainda tenta emagrecer
Enfermeira do Hospital das Clínicas conta que pacientes com anorexia têm estratégias para evitar recuperar peso
De acordo com pesquisas, prevalência da doença em pessoas ligadas ao mundo da moda chega a ser o dobro que na população em geral
DA REPORTAGEM LOCAL
Até internadas elas tentam
fazer exercícios durante a madrugada. Quando não podem
andar, se contraem sentadas
para queimar calorias. Quando
caminham, saltitam e dão pulinhos para alcançar a porta. Tudo para gastar mais energia.
As pacientes com anorexia
têm diversas estratégias para
evitar comida e não engordar,
mesmo no hospital. "Podem
vomitar no ralo do banheiro, na
pia, no vaso sanitário, no meio
de uma revista, de um jornal e
até de roupa", diz a enfermeira
do Instituto de Psiquiatria do
Hospital das Clínicas Lucia Helena Grando.
Quando há bulímicas (pessoas que ingerem grande quantidade de comida e depois provocam vômito) por perto, elas
tentam dar os alimentos para
elas. Para evitar essas atitudes,
pacientes costumam ser observadas constantemente por uma
enfermeira.
O curioso é que, apesar de
não comerem, muitas doentes
de anorexia colecionam receitas. "Elas falam sobre comida o
tempo inteiro, cozinham para
os outros, chegam a fazer verdadeiros banquetes", diz Lucia.
Segundo o psiquiatra Alexandre Azevedo, do Ambulim
(ambulatório de transtornos
alimentares do Hospital das
Clínicas), 90% das pessoas
atendidas são mulheres.
"Elas são meninas bastante
rígidas, perfeccionistas, boas
alunas. É até em razão dessa rigidez que conseguem ficar tanto tempo sem comer."
Em somente cerca de 30%
dos casos tratados os pacientes
se recuperam. "É uma doença
grave que não possui medicação específica. Precisamos trabalhar na terapia com a distorção de imagem da pessoa, que
mesmo magra se enxerga e se
sente gorda", diz.
Profissões de risco
A anorexia atinge de fato
mais pessoas ligadas ao mundo
da moda -a prevalência, em relação à população em geral,
chega a ser o dobro, segundo
pesquisas internacionais.
Lucia conta ter tratado várias
modelos. "Mas atendemos, por
exemplo, duas irmãs que moravam num sítio no interior. Tivemos estudantes de medicina,
de enfermagem e de direito."
Ginastas, bailarinos, jóqueis
e boxeadores também têm
chances de desenvolver a doença, segundo o psiquiatra Fábio
Salzano, do Ambulim. Nssas
profissões existe uma grande
pressão para se manter o peso e
muitos fazem dietas para isso.
"Cerca de 90% das anorexias
nervosas têm gatilho com a dieta restritiva. A partir daí, a pessoa não pára mais", diz Fábio.
Apesar da pequena taxa de
recuperação nos casos de anorexia e de ser necessário um
longo processo para a cura, há
esperança. "Hoje [na sexta] dei
alta para uma paciente. Fizemos um tratamento de três
anos", conta o psiquiatra Azevedo. A paciente tinha a doença
desde os 14 anos -atualmente,
está com 24.
"Tratamos com terapia e nutrição. Mesmo sem ter mais os
sintomas, continuamos o
acompanhamento por um período. A medicação vai sendo
retirada e consultas passam a
ser menos constantes."
(AB)
Texto Anterior: Há 50 anos: JK visita futura capital federal Próximo Texto: Não conheço agência que tome cuidado, afirma atriz Índice
|