São Paulo, domingo, 19 de novembro de 2006

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Lideranças negras celebram o feriado e a memória de Zumbi, herói dos Palmares

DA REPORTAGEM LOCAL

Lideranças negras comemoram a transformação do dia 20 de novembro em feriado municipal paulistano, como já acontece em 232 municípios brasileiros. A data alude à morte, em 20 de novembro de 1695, de Zumbi, herói do quilombo dos Palmares, símbolo da resistência à escravidão dos negros.
Chamado de "Dia da Consciência Negra", o 20 de novembro, segundo a vereadora Claudete Alves (PT), proponente do feriado, "incentivará a reflexão sobre o racismo perverso que finge não existir no Brasil".
Como exemplos de racismo, a vereadora cita a exclusão dos negros no mercado de trabalho, "sobretudo em funções de atendimento ao público", e a "eterna ligação da imagem do negro à idéia de marginalidade e pobreza". Há dois anos, a própria Claudete Alves, que é negra, foi vítima de agressão pelo agora recém-eleito deputado federal Clodovil Hernandez (PTC), que a chamou de "macaca de tailleur metida a besta" em entrevista à Folha.
"Para resgatar a auto-estima dos negros, é preciso começar a reconstruir-lhes a memória histórica, apagada por séculos de exploração", diz o historiador Amailton Magno Grilo Azevedo, 34, professor de História da África na Universidade Camilo Castelo Branco, em Itaquera, zona leste.
"O feriado propõe uma reflexão para negros e brancos: quem foi Zumbi dos Palmares? Por que é um herói? Por que foi esquecido? Por que está sendo lembrado?" Segundo o professor, recontar a história do estrategista político-militar de Palmares é começar a puxar o fio das memórias que foram roubadas aos negros.
"A maioria dos brasileiros desconhece que o quilombo de Palmares, na serra da Barriga, atualmente Estado de Alagoas, chegou a abrigar algo entre 20 mil e 40 mil negros, e que durou -graças ao heroísmo e coragem de seus habitantes- quase um século de lutas.
Para a secretária da Justiça e Defesa da Cidadania do Estado de São Paulo, Eunice Aparecida de Jesus Prudente, primeira mulher negra a ocupar a pasta, o feriado de amanhã "lembra a todos que existe uma história que ainda poucos conhecem, mas que precisa ser contada".
Diz ela: "Qual a contribuição dos negros à cultura brasileira? Imensa. Mas não parece, a se acreditar naquela "história" que ainda é ensinada nas escolas. Os negros africanos trouxeram tecnologias de cultivo e mineração que construíram a riqueza deste país. Poucos sabem que alguns dos maiores vultos nacionais foram negros, como Machado de Assis, André Rebouças ou Teodoro Sampaio. É preciso resgatar a auto-estima dos negros e isso se faz com a consciência do papel que desempenhamos neste país".


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