São Paulo, sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

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Após ação da PM, traficantes trocam o Dona Marta por favelas vizinhas

Pontos de tráfico foram desativados, mas traficantes migraram, levando armas

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

Afugentados pela ocupação policial do morro Dona Marta (Botafogo, zona sul do Rio), que hoje completa um mês, parte dos traficantes de drogas da comunidade se abrigou a 4 km dali, nas favelas do Fallet e do Fogueteiro (Catumbi, zona norte), para onde levaram fuzis, granadas, cocaína e maconha.
O fim do tráfico em um dos mais importantes morros da zona sul carioca foi saudado, já mais de uma vez, pelo governador Sérgio Cabral Filho (PMDB). "Acabou o tráfico no Dona Marta", disse ele no dia 1º. A reportagem da Folha circulou até o alto do morro, sem avistar homens armados. Esse percurso não era possível de ser feito sem autorização de traficantes antes da presença ostensiva da polícia.
A ocupação do Dona Marta pela PM -ontem chegaram mais 125 soldados, recém-formados; agora são cerca de 250- servirá de exemplo, segundo o governador. Ele já disse que as favelas Babilônia, Chapéu Mangueira (Leme, zona sul) e Batan (Realengo, zona oeste) também serão tomadas.
Os tradicionais pontos de venda de drogas do Dona Marta estão desativados, mas os traficantes mais novos, desconhecidos da polícia, continuam na favela, conforme a Folha apurou. Os mais procurados deixaram o morro nos primeiros dez dias da ocupação.
O primeiro destino foi a ladeira dos Tabajaras, na divisa de Copacabana e Botafogo. Cerca de 20 deles, os mais importantes na hierarquia do tráfico no Dona Marta, mudaram-se depois para o Catumbi, onde o Fallet e o Fogueteiro são comandados por uma quadrilha aliada, vinculada à facção criminosa Comando Vermelho.
Os jovens traficantes ainda no Dona Marta foram incumbidos de avisar à clientela que, por ora, a venda de drogas ocorre nas favelas do Catumbi.
Para o coronel José Vicente da Silva Filho, da reserva da PM de São Paulo e ex-secretário nacional de Segurança Pública, o sucesso no Dona Marta pode ser momentâneo e não deve ser comemorado pelo governo fluminense.
"A gente sabe que no Rio o tráfico é todo conectado. Os traficantes têm flexibilidade. Quando um morro é ocupado, o gerente se acomoda em outro e manda o cliente apanhar o produto lá", disse.

Cidade de Deus
Outra experiência de ocupação ocorre na Cidade de Deus, grande favela na zona oeste. Desde o mês passado a PM ocupa a comunidade, mas o tráfico, mesmo fragilizado, continua atuante, disse o delegado Pedro Paulo de Pinho, da 32ª DP.
"A ocupação está sendo muito positiva, mas é completamente diferente da do Dona Marta. A gente ainda tem realizado prisões de traficantes dentro da Cidade de Deus, com apreensão de drogas. Isso mostra que o tráfico continua, mas que a comunidade não está mais dominada pelos traficantes", disse.
Na região do Catumbi, o delegado Rodolfo Waldeck (6ª DP) disse que ainda não há estatística sobre a ação da criminalidade após a chegada dos traficantes do Dona Marta. "Não notamos nada fora do comum."
Na região de Botafogo, o delegado Alessandro Alonso (10ª DP) não quis dar entrevista e fornecer dados sobre a criminalidade após a ocupação do Dona Marta.


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