|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Após ação da PM, traficantes trocam o Dona Marta por favelas vizinhas
Pontos de tráfico foram desativados, mas traficantes migraram, levando armas
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
Afugentados pela ocupação
policial do morro Dona Marta
(Botafogo, zona sul do Rio), que
hoje completa um mês, parte
dos traficantes de drogas da comunidade se abrigou a 4 km dali, nas favelas do Fallet e do Fogueteiro (Catumbi, zona norte), para onde levaram fuzis,
granadas, cocaína e maconha.
O fim do tráfico em um dos
mais importantes morros da
zona sul carioca foi saudado, já
mais de uma vez, pelo governador Sérgio Cabral Filho
(PMDB). "Acabou o tráfico no
Dona Marta", disse ele no dia
1º. A reportagem da Folha circulou até o alto do morro, sem
avistar homens armados. Esse
percurso não era possível de
ser feito sem autorização de
traficantes antes da presença
ostensiva da polícia.
A ocupação do Dona Marta
pela PM -ontem chegaram
mais 125 soldados, recém-formados; agora são cerca de
250- servirá de exemplo, segundo o governador. Ele já disse que as favelas Babilônia,
Chapéu Mangueira (Leme, zona sul) e Batan (Realengo, zona
oeste) também serão tomadas.
Os tradicionais pontos de
venda de drogas do Dona Marta estão desativados, mas os
traficantes mais novos, desconhecidos da polícia, continuam
na favela, conforme a Folha
apurou. Os mais procurados
deixaram o morro nos primeiros dez dias da ocupação.
O primeiro destino foi a ladeira dos Tabajaras, na divisa
de Copacabana e Botafogo.
Cerca de 20 deles, os mais importantes na hierarquia do tráfico no Dona Marta, mudaram-se depois para o Catumbi, onde
o Fallet e o Fogueteiro são comandados por uma quadrilha
aliada, vinculada à facção criminosa Comando Vermelho.
Os jovens traficantes ainda
no Dona Marta foram incumbidos de avisar à clientela que,
por ora, a venda de drogas
ocorre nas favelas do Catumbi.
Para o coronel José Vicente
da Silva Filho, da reserva da
PM de São Paulo e ex-secretário nacional de Segurança Pública, o sucesso no Dona Marta
pode ser momentâneo e não
deve ser comemorado pelo governo fluminense.
"A gente sabe que no Rio o
tráfico é todo conectado. Os
traficantes têm flexibilidade.
Quando um morro é ocupado,
o gerente se acomoda em outro
e manda o cliente apanhar o
produto lá", disse.
Cidade de Deus
Outra experiência de ocupação ocorre na Cidade de Deus,
grande favela na zona oeste.
Desde o mês passado a PM ocupa a comunidade, mas o tráfico,
mesmo fragilizado, continua
atuante, disse o delegado Pedro
Paulo de Pinho, da 32ª DP.
"A ocupação está sendo muito positiva, mas é completamente diferente da do Dona
Marta. A gente ainda tem realizado prisões de traficantes
dentro da Cidade de Deus, com
apreensão de drogas. Isso mostra que o tráfico continua, mas
que a comunidade não está
mais dominada pelos traficantes", disse.
Na região do Catumbi, o delegado Rodolfo Waldeck (6ª DP)
disse que ainda não há estatística sobre a ação da criminalidade após a chegada dos traficantes do Dona Marta. "Não notamos nada fora do comum."
Na região de Botafogo, o delegado Alessandro Alonso (10ª
DP) não quis dar entrevista e
fornecer dados sobre a criminalidade após a ocupação do
Dona Marta.
Texto Anterior: Outro lado: Coronel afirma que PM foi "apenas ouvido" Próximo Texto: História: Chefes do tráfico surgiram no Dona Marta Índice
|