São Paulo, domingo, 20 de janeiro de 2008

Texto Anterior | Índice

Meneleu e a tipografia revolucionária

WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Francisco Meneleu dos Santos foi daqueles "revolucionários" lembrados por um dia de sorte ou de glória -ele, por nada saber e estar na hora e lugar errados.
Nasceu em 1917, ano da Revolução Russa, mas em Areia Branca (RN). Aos 12 já vendia jornais em Mossoró (RN). Virar tipógrafo foi um passo. De tanto observar a gráfica, acabou entendido no metiê e admitido aos 15 na tipografia. Uma "fama" que logo chegaria a Natal.
"Nunca foi comunista", diz a viúva, que o conheceu pouco antes daquele 23 de novembro de 1935, auge da Intentona Comunista que chegou a instalar um governo provisório no Rio Grande do Norte. "Eu não era político, eu não era comunista, era apenas um operário que trabalhava para subsistência", escreveu Meneleu.
Foi preso seis dias depois, "pela confecção do jornal" e suas "idéias comunistas". Seis anos e seis meses ficou na cadeia, saindo de lá casado e com dois filhos. Experiência que narra no livro "Coisa Julgada e Cartas de Amigos".
Foi para Fortaleza fazer carimbos à mão, conseguindo "uma maquininha" para agilizar o processo. Ganhou clientes e montou uma fábrica, que hoje faz etiquetas, onde trabalham alguns dos 12 filhos, com espaço para os 31 netos e nove bisnetos.
Assim a vida passou longe da glória. Claro, Meneleu recebeu homenagens, pois era "o último remanescente norte-rio-grandense do levante". Tinha até pensão de anistiado do governo, e gostava de folhear suas edições antigas de "A Liberdade".
Morreu na quarta em Fortaleza, aos 90, de isquemia. Na pasta de entrevistas guardada pelos filhos, a frase de Menelau: "Mas se houvesse outro movimento daquele hoje, eu faria outro jornal".


Texto Anterior: Mortes
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.