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HÉLIO DA FONSECA (1927-2009)
Assobios de um inspetor do quarteirão
ESTÊVÃO BERTONI
DA REPORTAGEM LOCAL
A filha, única de um casamento que durou 57 anos, tirava sarro chamando-o de o
inspetor do quarteirão.
É que Hélio da Fonseca,
contador de uma rede de
postos de gasolina por quase
toda a vida, costumava observar o fluxo do bairro da
esquina de casa, entre as ruas
Amaro Cavalheiro e Sumidouro, na zona oeste de SP.
A atividade passou a ficar
frequente depois que Hélio
se aposentou, no início dos
anos 80. O fato de vestir-se
de marrom reforçava os ares
de bedel da vizinhança.
"Todo mundo parava para
pedir informações. Confundiam ele com agente de trânsito", conta Imara, a filha,
que até prometeu, de brincadeira, construir para ele um
quiosque na esquina.
Além de vigiar a rua, adorava assobiar -fez por merecer o apelido de Sabiá, que o
deixava bravo. Quando saía
de carro, punha bandas militares no rádio. "Sair com ele
era como participar de uma
parada de Sete de Setembro."
Em maio do ano passado,
Hélio descobriu um câncer
no pulmão, mas já não punha
cigarro na boca desde que
um outro câncer do mesmo
tipo matara seu pai, no fim da
década de 50. No auge da
adesão ao tabagismo, consumiu até três maços por dia.
Teve um vida simples, sem
grandes ambições, diz a filha.
Na terça passada, morreu,
aos 82, de câncer. Teve dois
netos. A missa de sétimo dia
será hoje, às 19h, na igreja
Nossa Senhora do Perpétuo
Socorro, em São Paulo.
obituario@grupofolha.com.br
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