São Paulo, terça-feira, 20 de janeiro de 2009

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HÉLIO DA FONSECA (1927-2009)

Assobios de um inspetor do quarteirão

ESTÊVÃO BERTONI
DA REPORTAGEM LOCAL

A filha, única de um casamento que durou 57 anos, tirava sarro chamando-o de o inspetor do quarteirão. É que Hélio da Fonseca, contador de uma rede de postos de gasolina por quase toda a vida, costumava observar o fluxo do bairro da esquina de casa, entre as ruas Amaro Cavalheiro e Sumidouro, na zona oeste de SP. A atividade passou a ficar frequente depois que Hélio se aposentou, no início dos anos 80. O fato de vestir-se de marrom reforçava os ares de bedel da vizinhança. "Todo mundo parava para pedir informações. Confundiam ele com agente de trânsito", conta Imara, a filha, que até prometeu, de brincadeira, construir para ele um quiosque na esquina. Além de vigiar a rua, adorava assobiar -fez por merecer o apelido de Sabiá, que o deixava bravo. Quando saía de carro, punha bandas militares no rádio. "Sair com ele era como participar de uma parada de Sete de Setembro." Em maio do ano passado, Hélio descobriu um câncer no pulmão, mas já não punha cigarro na boca desde que um outro câncer do mesmo tipo matara seu pai, no fim da década de 50. No auge da adesão ao tabagismo, consumiu até três maços por dia. Teve um vida simples, sem grandes ambições, diz a filha. Na terça passada, morreu, aos 82, de câncer. Teve dois netos. A missa de sétimo dia será hoje, às 19h, na igreja Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, em São Paulo.

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