São Paulo, quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

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Missa traz críticas à falta de planejamento

Bispo usa sermão para lembrar a responsabilidade do poder público pelas mortes ocorridas na região serrana

Francisco de Orleans e Bragança, neto em terceiro grau de dom Pedro 2º, afirma que perdeu vários amigos

VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
ENVIADO ESPECIAL A PETRÓPOLIS

"Pela ocupação irregular e irresponsável das encostas." "Senhor, tende piedade de nós." "Pela falta de políticas públicas habitacionais adequadas." "Senhor, tende piedade de nós." "Pela depredação da natureza." "Senhor, tende piedade de nós."
Foi com críticas à falta de planejamento urbano que o bispo da diocese de Petrópolis, dom Felippo Santoro, começou o sermão da missa do sétimo dia pelos 741 mortos por causa da chuva que atingiu a região serrana do Rio.
Entre os 300 fiéis presentes, o prefeito de Petrópolis, Paulo Mustrangi (PT), e todo o secretariado da cidade.
"Há muita gente em áreas de risco, é uma coisa urgente a ser resolvida. O planejamento urbano não existe. A crítica deve ser feita", continua o bispo em sua homilia.
Das seis cidades de sua jurisdição, quatro (Petrópolis, Teresópolis, São José do Vale do Rio Preto e Areal) foram atingidas pela enchente.
Entre os religiosos no altar, um padre da paróquia do Vale do Cuiabá, a zona rural devastada de Petrópolis, que teve a igreja e a casa alagadas. Perdeu tudo, da batina às imagens de santos.

ESPERANÇA
Ao microfone, o vigário Rogério Dias da Silva dá o seu depoimento: "Deixei tudo para trás e fui acolher as pessoas na rua. Nessa hora elas precisam de alguém que inspire esperança".
Os católicos choram ao ouvir a lista de 61 mortos durante a oração pelas almas. O bispo afirma que, pela tradição, só cita os nomes de quem já foi reconhecido e enterrado.
Em meio aos fiéis, Francisco de Orleans e Bragança, neto em terceiro grau de dom Pedro 2º e bisneto da princesa Isabel. "Perdi vários amigos, gente que jogava bola comigo", afirmou.
A missa foi um retrato da enchente, que matou ricos e pobres. A doméstica Josefina das Mercês Teixeira veio de longe -uma hora de ônibus- porque disse precisar de palavras de conforto.
"Perdi sete pessoas da família, irmãos, irmãs, sobrinhos. Tenho medo, minha casa também fica numa área de risco", disse.
Ao final da celebração, o prefeito Mustrangi também fala ao microfone aos eleitores: "A ocupação desordenada das encostas é um processo histórico. O resultado não poderia ter sido outro".
"Para que os governantes proíbam ocupações irregulares; para que os governantes defendam iniciativas de prevenção de tragédias naturais", conclui o bispo. "Confio no Senhor", respondem os fiéis em uníssono.


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