São Paulo, quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

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MINHA HISTÓRIA - JOSÉ CAMILO DE OLIVEIRA, 60

Salvo pelo ar

(...) Fiquei uma meia hora ali, preso no carro, sozinho (...)Quase morri na rua, no meio do caminho da minha casa

RESUMO O operador de máquinas aposentado José Camilo de Oliveira, 60, ia de Santo André para Mauá (Grande SP) quando foi surpreendido por uma enchente na avenida dos Estados. Preso e ilhado em seu carro por cerca de meia hora, ele foi salvo pelo grupamento aéreo da PM. Para resgatá-lo, os policiais o colocaram em um cesto e o içaram a uma altura de 200 metros. A operação durou 15 minutos.

(...) Depoimento a
AFONSO BENITES
DE SÃO PAULO

Eu estava com meu carro na rua do Oratório, voltando da casa de um filho meu que mora em Santo André e ia para Mauá, onde eu moro.
Engraçado, vivo em uma cidade onde teve várias mortes por causa da chuva [foram quatro mortes em Mauá desde o início do ano] e quase morri na rua, no meio do caminho da minha casa.
Quando entrei na avenida dos Estados a água do rio [Tamanduateí] chegou até o meio da porta do carro. Não dava mais para sair. Tinha água para todos os lados. Fechei um pouco o vidro e fiquei esperando a água baixar ou alguém ir me salvar.
Do outro lado da rua tinha um pessoal do bairro ajudando algumas pessoas que também estavam ilhadas, mas onde eu estava tinha muita água e não dava para eles me ajudarem porque eles também poderiam ser levados pela enchente.
Fiquei com medo porque eu sei nadar mais ou menos. Não sou um bom nadador, por isso, nem tentei sair sozinho. Já pensou se me afogo naquela correnteza?
Fiquei uma meia hora ali. Preso no carro, sozinho. Não pedi socorro porque quase não uso celular.
Quando vi os policiais chegando de helicóptero pensei "ufa, tô salvo". O helicóptero passou umas duas ou três vezes de um lado para o outro em cima do carro até que o soldado [Samuel] Cruz desceu até o teto do meu carro. Eu abri a janela e ele me ajudou a sair do carro. Foi difícil porque eu estava com muito medo, mas consegui sair do meu Gol velho. Quando entrei no cesto fiquei um pouco assustado. Era muito vento balançando aquele cesto gigante junto com a chuva caindo e a brisa da água do rio batendo. Foi bastante difícil para mim. Nem quando trabalhava como operador de máquinas tinha passado por uma situação em que eu corria risco de morrer.

PREJUÍZO
Passado tudo, fiquei feliz de ter sobrevivido. Eu tinha ido deixar um presente de aniversário na casa de um filho que fez aniversário no dia 17, mas quem ganhou o presente fui eu, com esse salvamento. Se não fosse a ação dos policiais, eu teria ido para outra dimensão. Tinha batido as botas. E, ao invés de dar entrevistas, veria lá de cima meus três filhos e dois netos chorando.
Na hora do resgate, mal consegui agradecer aos policiais, agora vim até a base deles [no aeroporto de Campo de Marte] para falar muito obrigado e dizer para eles continuarem ajudando as pessoas que precisam.
No fim das contas, só perdi o meu carro. Eu não tinha seguro. Por isso, vou ficar um bom tempo sem dirigir. Mas antes o carro do que eu, né?


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