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Violência moral
pode levar jovem a
reações extremadas
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
ARMANDO PEREIRA FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL
De repente, R., 4, passou a ficar
mudo na frente de pessoas estranhas à família. Nenhum exame
apontava causas físicas para a disfunção. Sua mãe, a advogada C.,
descobriu que o garoto, por ser tímido, quase não falava na sua
classe, em uma escolinha de educação infantil em Santos (SP).
A professora e os coleguinhas
diziam que ele tinha perdido a língua. A brincadeira, aparentemente inocente, causou o bloqueio na
fala. R. foi vítima de um fenômeno que começa a ser estudado no
Brasil: a violência moral.
Os resultados dessa violência
podem causar desinteresse pelos
estudos, depressão ou até reações
extremamente violentas.
Como a que Edmar Aparecido
Freitas, 18, teve ao se suicidar após
ferir seis alunos, uma professora e
um funcionário da escola onde
estudou em Tiúva (interior de
SP), no mês passado. Freitas confidenciou a amigos que se sentia
ridicularizado com um apelido e
excluído pelos colegas de classe.
No Rio de Janeiro, a ONG (organização não-governamental)
Abrapia (Associação Brasileira
Multiprofissional de Proteção à
Infância e Adolescência) começou na semana passada a desenvolver um projeto, com patrocínio da Petrobras, com 11 escolas
públicas e particulares. O objetivo
é ensinar e debater com professores, pais e alunos formas de evitar
que essas situações aconteçam.
A violência moral já é objeto de
preocupação de países europeus.
Na maioria deles, há normas do
Ministério da Educação que obrigam a escola a evitar esses atos. O
termo mais usado para definir esse problema é "bullying", que em
inglês pode significar tirania,
ameaça ou intimidação.
No Brasil, ainda não há uma palavra consensual. O termo violência moral é adaptação do francês
assédio moral, mas há quem defenda outros. "Não há ainda uma
palavra no Brasil que defina o
"bullying". Em geral, são situações
de maus-tratos, opressão e humilhação que acontecem entre as
crianças", explica Lauro Monteiro
Filho, presidente da Abrapia.
O "bullying" resume situações
em que o aluno é, com frequência,
ameaçado, extorquido, insultado,
excluído ou simplesmente apelidado com algum nome preconceituoso ou que não goste.
Em todo o mundo, especialistas
concordam que o papel dos pais
(de agressores e agredidos) é fundamental para combater a violência moral nas escolas. Eles precisam saber lidar com a situação.
No caso dos pais de agressores,
é preciso que se convençam e
mostrem aos filhos que esse comportamento é prejudicial a eles.
"Se isso não for combatido desde cedo, a criança agressora vai
aprender que esse tipo de comportamento a faz ser líder do grupo, ter ganhos materiais ou atrair
atenções. Ela vai usar essas agressões como método e vai reproduzir no futuro esse comportamento na escola, no trânsito e na família", explica Monteiro Filho.
Adrienne Katz, da ONG inglesa
Young Voice, diz que a estratégia
de entidades daquele país para
detectar o problema é tentar criar
linha direta com as crianças. Uma
vez detectado, pais e escola são
orientados a resolver o problema.
"O papel dos pais é muito importante porque eles precisam
apoiar a iniciativa da escola. Se
um colégio tenta ensinar a criança
a não ser violenta, mas os pais
mandam seus filhos reagirem
quando sofrerem o "bullying", isso
só atrapalhará na resolução do
problema", diz Katz.
A experiência européia mostra
também que quem começou a lidar com o problema teve que convencer pais e escolas de que aquelas situações pesquisadas não poderiam ser consideradas naturais.
"O fenômeno, antes mal conhecido e muitas vezes menosprezado pelos adultos como se fosse
coisa de criança, não se limita a
conflitos ocasionais ou esporádicos entre alunos. São situações
reiteradas que geram mal-estar
psicológico e afetam a segurança,
o rendimento e a frequência escolar", diz Ana Tomás Almeida, da
Universidade do Minho (Portugal) e da Conferência Européia de
Combate ao Bullying.
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