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EDUCAÇÃO
De 1997 a 2004, o custo de vida na capital paulista subiu 72,05%, enquanto as escolas reajustaram preços em 94,52%
Mensalidade sobe acima da inflação em SP
DA REPORTAGEM LOCAL
Os reajustes das mensalidades
escolares superaram a inflação
nos últimos sete anos na cidade
de São Paulo. Enquanto o custo
de vida aumentou 72,05%, as
mensalidades das instituições de
ensino aumentaram 94,52%
-uma diferença de 22,47 pontos
percentuais.
Esse é o principal resultado de
um levantamento feito pelo Dieese (Departamento Intersindical
de Estatísticas e Estudos Sócio-Econômicos) sobre os custos da
educação de janeiro de 1997 até janeiro deste ano.
Segundo o estudo, a mensalidade que mais subiu foi a dos cursos
universitários (124,32%), seguida
pela dos cursos de ensino fundamental (94,06%) e de ensino médio (93,82%). Cursos de pré-escola tiveram elevação inferior ao índice geral de inflação acumulada.
"Em princípio, nem seria necessário que as instituições de ensino
aumentassem os preços neste
ano, porque elas já tinham reajustado acima da inflação nos anos
anteriores e tinham uma folga superior à previsão de inflação para
o ano", explica a supervisora da
pesquisa de preços do Dieese,
Cornélia Nogueira Porto. "São
aumentos abusivos."
Para José Walter Pereira dos
Santos, 64, diretor-executivo da
Anup (Associação Nacional das
Universidades Particulares), esse
aumento pode ser devido ao crescimento do sistema de ensino superior privado nos últimos anos.
"Investiu-se muito em instalações, bibliotecas e laboratórios. A
própria exigência da avaliação do
MEC (Ministério da Educação),
de um corpo docente mais qualificado, proporciona isso", diz.
"Como qualquer sistema de
prestação de serviços, a educação
também tem pessoas que abusam", admite o diretor-executivo
da Anup. "Agora, educação custa
caro. E o Estado está aí para fiscalizar e para punir aqueles que estiverem fora das normas."
Segundo José Augusto de Mattos Lourenço, presidente do
Sieeesp (Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no Estado de
São Paulo), "os dados do Dieese
não batem com os do sindicato".
"A concorrência está tão grande
que as escolas que aumentam
mensalidades perdem alunos. De
1996 a 2003, tivemos crescimento
de cursos de nível básico de 118%
contra um crescimento no número de alunos de apenas 17,7%."
Universidade para Todos
Para Hebe Tolosa, secretária da
Educação na gestão Celso Pitta
(97-00) e atual presidente da Associação de Pais e Alunos das Escolas do Estado de São Paulo
(Apaesp), a situação tende a piorar com a proposta do governo federal de "estatizar" vagas no programa Universidade para Todos-que consiste na reserva de
vagas para alunos carentes e livres
de mensalidades em troca de
isenção fiscal.
"O desconto [isenção de impostos federais] não é tão significativo a ponto de compensar as instituições a abrir mão das vagas. E,
até que me provem o contrário,
ninguém dá nada de graça. Se isso
[a estatização das vagas] prevalecer no próximo vestibular, a recomposição de preços será feita
em seguida, prejudicando os alunos pagantes", afirma Tolosa.
O reajuste no ensino superior já
verificado pelo Dieese é capitaneado, segundo Tolosa, pelos cursos de saúde e decorre de uma falta de controle do governo na
abertura de novos cursos.
Há uma baixa oferta de cursos
na área de saúde, já que eles exigem mais investimentos. A alta
concorrência por essas vagas eleva a mensalidade desses e, por
conseqüência, dos demais cursos.
"Há uma desordem do governo,
que deveria saber onde faltam vagas para, aí sim, autorizar a abertura de novos cursos."
Legislação
As mensalidades escolares são
reguladas pela lei 9870/99, que determina que os estabelecimentos
de ensino devem divulgar o valor
do aumento em suas mensalidades escolares com antecedência
mínima de 45 dias da data da matrícula. A instituição é obrigada
ainda a divulgar uma planilha de
projeção de custos que justifique
o reajuste proposto.
Segundo Marcos Diegues, 45,
advogado do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), pela lei, o reajuste não tem
nada a ver com a inflação. Ele deveria respeitar a variação de uma
planilha de custos, submetida à
Secretaria de Direito Econômico
do Ministério da Justiça. "Desta
forma, qualquer reajuste acima
dos custos seria injustificado."
(FERNANDA MENA e AMARÍLIS LAGE)
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