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BARBÁRIE
Tráfico expõe jovem decapitado no RJ
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
Quem passasse ontem pela rua
Dionísio Fernandes, no Engenho
de Dentro, zona norte do Rio de
Janeiro -bairro onde está sendo
construído o Estádio Olímpico
João Havelange, para o Pan-2007-, não suspeitaria que a rua
pacata, de calçamento de pedras e
casas antigas, algumas remanescentes do século 19, tinha sido palco de uma cena de horror no início da madrugada.
Perto da meia-noite, quando a
atenção dos moradores estava
voltada para a transmissão do
show dos Rolling Stones, um automóvel Honda Fit foi abandonado na rua, com uma cabeça sobre
o capô, e os corpos de dois jovens
negros, retalhados a machadadas,
no interior do veículo.
A reação dos moradores foi tão
chocante como as brutais mutilações. Vários moradores buscaram seus celulares para fotografar
os corpos, e os mais jovens riram
e fizeram troça dos corpos.
Os próprios moradores descreveram a algazarra à reportagem.
""Eu gritei: Está nervoso e perdeu a
cabeça?", relatou um motoboy
que pediu para não ser identificado, enquanto um estudante admitiu ter rido e feito piada ao ver
que o coração e os intestinos de
uma das vítimas tinham sido retirados e expostos por seus algozes.
""Ri porque é engraçado ver um
corpo todo picado", respondeu o
estudante ao ser questionado sobre a causa de sua reação. Uma jovem, também estudante, disse
que acompanhou a cena ao lado
dos vizinhos, mas que, ao contrario deles, sentiu náuseas.
Segundo os policiais do 26º DP,
onde o caso foi registrado, os corpos não foram identificados, e o
carro tinha sido roubado no próprio bairro, dias antes. As vítimas
seriam moradores da favela Camarista Meier e teriam sido executados pelo Comando Vermelho
em razão de dívidas com o tráfico.
Os corpos, segundo os moradores, ficaram expostos por quase
quatro horas, até serem levados
para o Instituto Médico Legal.
Ninguém da vizinhança ouvida
pela reportagem da Folha demonstrou revolta ou surpresa
com as mutilações. Os mais velhos disseram ter olhado para a
cena sem surpresa, pois a violência se tornou banal na região.
""Cheguei à rua à 1h, vindo do
samba, e vi a cabeça em cima do
carro, e muitos vizinhos em volta.
Fiquei tranqüilo. Essa é uma coisa
normal hoje em dia", resumiu um
taxista de 40 anos, que também
não quis se identificar à reportagem, e que levava o filho de cerca
de 10 anos pela mão. Uma senhora de cabelos brancos, que lavava
a varanda da casa com uma mangueira, concordou com o taxista.
""É normal, é normal", repetiu.
De acordo com moradores, os
jovens foram mortos por não terem pago pela droga que consumiram. A exposição da cabeça no
capô do carro seria um recado
dos traficantes para que outros
não fizessem o mesmo.
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