São Paulo, terça-feira, 20 de fevereiro de 2007

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Salgueiro ressurge com guerreiras africanas

Escola volta a sonhar com título; Portela celebra os jogos Pan-Americanos com atletas

Unidos da Tijuca encanta público com pirâmide do Egito; Porto da Pedra é aplaudida por crítica a caveirão e racismo

DA SUCURSAL DO RIO

Depois de um constrangedor 11º lugar no ano passado, o Salgueiro ressurgiu no sambódromo como uma grande escola voltando ao universo que conhece melhor: temas negros.
Com o enredo "Candaces", sobre guerreiras africanas, a agremiação apresentou alegorias e fantasias bonitas -com o dourado predominando- e deixou sua torcida sonhando com a possibilidade de ganhar depois de 14 anos.
"Quilombo dos Palmares" (1960), "Chica da Silva" (1963) e "Festa para um Rei Negro" (1971) foram outros temas negros que deram vitórias ao Salgueiro. Para retomar essa tradição, o carnavalesco Renato Lage abandonou sua marca de temas modernos ou futuristas.
A Portela, que trouxe como tema os jogos Pan-Americanos, reuniu dezenas de dirigentes, atletas e para-atletas. O cantor e compositor Paulinho da Viola voltou a desfilar, depois da ausência do ano passado.
Com R$ 1,8 milhão recebido do Ministério dos Esportes para seu desfile, a escola tropeçou logo no início. A dez metros da primeira cabine de jurados, a porta-bandeira Andréa Machado escorregou e quase caiu, em razão de óleo deixado por carros alegóricos.
Vilma Nascimento, porta-bandeira que fez carreira de notas dez na Portela, dançava ao lado de Andréa, marcando sua volta à escola após ir para uma dissidência na década de 80.

Pirâmide
Antes de Salgueiro e Portela, desfilou a Unidos da Tijuca. No enredo sobre a fotografia, a alegoria que provocou maior impacto foi a da pirâmide do Egito, montada e desmontada na avenida pelas pessoas do carro. O público aplaudia quando as placas eram retiradas e começavam a aparecer faraós.
O carro lembrou o estilo do carnavalesco Paulo Barros, com quem a Tijuca esteve perto do título nos últimos três anos -ele agora defende a Viradouro. Neste ano, as chances são remotas, já que a apresentação foi apenas correta.
Mas os estreantes Luiz Carlos Bruno e Lane Santana procuraram imprimir sua marca em soluções criativas. "A gente não pode ter medo de arriscar. Coragem para criar é o que o Carnaval precisa", disse Lane.
Em duas alas, as fotos dos esplendores eram de quem usava as fantasias. O carro "Álbum de família" trazia moradores do morro do Borel -onde fica a escola- como destaques e fotos de componentes.
Entre as fotos famosas reproduzidas no sambódromo, a que teve maior destaque foi a da menina fugindo nua e queimada de um bombardeio na Guerra do Vietnã. Ana Cristina Costa, como destaque com uma malha cor da pele, representava a garota sob uma réplica de um avião norte-americano da época.

Caveirão e funk
Quem abriu a noite foi a Porto da Pedra, que aproveitou o enredo sobre a África do Sul, batizado de "Preto-e-branco a cores", para fazer um alerta contra a discriminação racial e a violência.
A alegoria mais esperada era o caveirão, que representava um carro utilizado durante o regime do apartheid e fazia alusão aos blindados usados pela polícia carioca para entrar em favelas.
"Onde o Estado não cumpre sua função, joga o caveirão em cima da gente", disse o carnavalesco Milton Cunha, muito aplaudido pelo público após o desfile. O secretário da Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame, assistia ao desfile da escola, da qual sua filha participava. "O Rio não tem caveirão. Tem unidade de transporte de tropa."
A bateria também surpreendeu ao arriscar rápidas batidas funk. Desde 1997, quando a Viradouro usou a batida e teve pontos descontados, as escolas tinham desistido da ousadia.
Ainda desfilariam ontem Imperatriz Leopoldinense, Grande Rio e Beija-Flor.


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