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PE tem bloco de maracatu somente com mulheres
FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM NAZARÉ DA
MATA (PE)
As mulheres quebraram um
tabu do Carnaval pernambucano ontem, ao desfilar em um
maracatu rural completo, sem
a participação de homens.
O feito aconteceu em Nazaré
da Mata (a 68 km de Recife,
PE), berço da manifestação,
nascida no século 19 entre os
trabalhadores rurais da região
canavieira.
Até o surgimento do novo
grupo, o Coração Nazareno, as
mulheres tinham lugar apenas
em postos de menor destaque,
como as damas-de-buquê. Até
mesmo na ala das baianas eram
obrigadas a disputar espaço
com os homens. Poucas conseguiam vagas em outros setores.
Ontem, as 52 mulheres do
Coração Nazareno participaram do Encontro dos Maracatus Rurais, maior evento do tipo em Pernambuco, realizado
somente durante o Carnaval.
O grupo, com integrantes de
6 a 50 anos, foi o segundo a desfilar. Cerca de 25 maracatus
desfilaram na festa.
"Mostramos que é possível
fazer cultura sem discriminação e sem ferir as tradições",
disse a coordenadora do maracatu feminino, Eliane Rodrigues. "Os homens achavam que
não suportaríamos, mas superamos todas as dificuldades."
Um dos maiores desafios,
afirmou, foi reduzir o peso das
fantasias, sem descaracterizá-las. Alguns acessórios, como os
dos caboclos de lança, que representam os guerreiros do
maracatu, pesam até 30 quilos.
"Fizemos adaptações. Conseguimos diminuir para 18 kg."
A cor rosa predomina na
agremiação. Está presente no
estandarte, nas roupas e até nas
perucas coloridas das integrantes -a maioria adolescentes da
periferia. A estrutura do maracatu, porém, não foi modificada. A correria barulhenta das
caboclas e a música frenética da
pequena orquestra continuam.
Para o coordenador do Cambinda Brasileira, uma das mais
tradicionais agremiações do
Estado, José Manoel da Silva,
53, a novidade é bem-vinda.
"Elas têm direito, desde que
não mudem a cultura", disse
Silva, que é caboclo de lança há
35 anos.
Em Pernambuco, existem
dois tipos de maracatu, o rural e
o nação. O rural nasceu da fusão de folguedos populares, como o bumba-meu-boi e o cavalo-marinho. O nação se originou nos cortejos dos reis africanos.
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