São Paulo, terça-feira, 20 de fevereiro de 2007

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PE tem bloco de maracatu somente com mulheres

FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM NAZARÉ DA MATA (PE)

As mulheres quebraram um tabu do Carnaval pernambucano ontem, ao desfilar em um maracatu rural completo, sem a participação de homens.
O feito aconteceu em Nazaré da Mata (a 68 km de Recife, PE), berço da manifestação, nascida no século 19 entre os trabalhadores rurais da região canavieira.
Até o surgimento do novo grupo, o Coração Nazareno, as mulheres tinham lugar apenas em postos de menor destaque, como as damas-de-buquê. Até mesmo na ala das baianas eram obrigadas a disputar espaço com os homens. Poucas conseguiam vagas em outros setores.
Ontem, as 52 mulheres do Coração Nazareno participaram do Encontro dos Maracatus Rurais, maior evento do tipo em Pernambuco, realizado somente durante o Carnaval.
O grupo, com integrantes de 6 a 50 anos, foi o segundo a desfilar. Cerca de 25 maracatus desfilaram na festa.
"Mostramos que é possível fazer cultura sem discriminação e sem ferir as tradições", disse a coordenadora do maracatu feminino, Eliane Rodrigues. "Os homens achavam que não suportaríamos, mas superamos todas as dificuldades."
Um dos maiores desafios, afirmou, foi reduzir o peso das fantasias, sem descaracterizá-las. Alguns acessórios, como os dos caboclos de lança, que representam os guerreiros do maracatu, pesam até 30 quilos.
"Fizemos adaptações. Conseguimos diminuir para 18 kg."
A cor rosa predomina na agremiação. Está presente no estandarte, nas roupas e até nas perucas coloridas das integrantes -a maioria adolescentes da periferia. A estrutura do maracatu, porém, não foi modificada. A correria barulhenta das caboclas e a música frenética da pequena orquestra continuam.
Para o coordenador do Cambinda Brasileira, uma das mais tradicionais agremiações do Estado, José Manoel da Silva, 53, a novidade é bem-vinda. "Elas têm direito, desde que não mudem a cultura", disse Silva, que é caboclo de lança há 35 anos.
Em Pernambuco, existem dois tipos de maracatu, o rural e o nação. O rural nasceu da fusão de folguedos populares, como o bumba-meu-boi e o cavalo-marinho. O nação se originou nos cortejos dos reis africanos.


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