São Paulo, quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

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Nunca saberei o que ocorreu, diz mãe de motorista morto

Filho dirigiu por 4 km na contramão da Castello Branco e morreu ao bater em carreta

Mãe afirma que rapaz nunca apresentou sintomas de desequilíbrio mental, jamais se envolveu com drogas e bebia "apenas socialmente"

PAULO SAMPAIO
ENVIADO ESPECIAL A PARANAPANEMA (SP)

"O que quer que tenha se passado, meu filho levou com ele. Eu nunca vou saber." É assim que Marlene Plenz, 55, tenta encarar a morte do filho caçula Kleber Rodrigues Plenz, 27, que na manhã do domingo trafegou por 4 km pela contramão da rodovia Castello Branco, sem desviar dos carros que vinham em direção contrária, até bater em uma carreta e morrer.
A mãe diz que o filho nunca apresentou sintomas de desequilíbrio mental, jamais se envolveu com drogas e bebia "socialmente, como todo rapaz na idade dele". "Você sabe como são os jovens, eles bebem mesmo, ainda mais quando estão com amigos em um bar."
Até mesmo os psicólogos se recusam a arriscar um palpite sobre o que teria levado o bancário a acelerar em direção a outros carros. "Eu precisaria ser a mãe Diná para falar sobre o que se passava na cabeça desse rapaz. Qualquer coisa que eu diga vai ser mero chute, especulação", afirma o psicólogo Daniel Fuentes, do Hospital das Clínicas.
Em Paranapanema, cidade a 256 km de SP onde Kleber nasceu e foi criado, os amigos dizem que ele gostava de velocidade, de beber um uísque, era meio "boyzinho". O adjetivo mais comprometedor sobre seu comportamento era "galinha". "Eu mesmo já fiquei com o Kleber, mas foi quando era jovem, antes de casar. Eu e quase todas as mulheres da cidade", diz Denise (nome fictício), 22.
A mãe confirma, a tia, o irmão, o melhor amigo. "Ele era mulherengo, sim. Não tem mulher aqui que não o achasse lindo. E era mesmo, moreno alto, forte", diz a tia Narcisa. Por isso, amigos e parentes acham impossível imaginar que uma discussão com a namorada ciumenta na festa de formatura, pouco antes do acidente, o teria feito trafegar pela contramão em uma rodovia.
"Já vi o Kleber brigar com as meninas no telefone, mas ele nunca saiu para beber por causa disso. Não esquentava mesmo", diz o amigo Kaeser Thadeo el Khour, 24, com quem Kleber dividiu uma quitinete quando estudou direito em Presidente Prudente.
Um tia de Francine, a moça com quem Kleber saía desde o Réveillon, diz que "os dois nem eram namorados: apenas ficavam". "Ele não tinha namorada, tinha namoradas. Para dizer que estava namorando com alguém era preciso muito", conta a tia Narcisa.
Esse teria sido o principal motivo que levou a ex-mulher Letícia Bortotti a separar-se dele. Os dois se casaram porque ela descobriu que estava grávida. Na ocasião, Kleber trancou a matrícula da faculdade em Presidente Prudente e mudou-se para São Paulo. O casamento acabou, mas os dois mantinham um bom relacionamento. Ela se casou de novo.
Letícia, que hoje tem 27 anos, também nasceu em Paranapanema. O filho, que completou três anos em janeiro, vivia com a mãe. O pai ficava com o menino a cada três fins de semana. O fim de semana passado, quando ocorreu o acidente, era justamente a vez de Kleber ficar com o filho. Porém, segundo um parente que não quis se identificar, o bancário não apareceu para buscá-lo no sábado.
Foi Letícia, com a ajuda de parentes, quem ajudou a tomar todas as providências necessárias com o corpo, reconhecimento, traslado, enterro. "Se ele fosse mau, você acha que a ex-mulher ia fazer tanto por ele? Ainda mais mulher, você sabe como é, não esquece nada", diz a mãe de Kleber.


Colaborou RICARDO WESTIN, da Reportagem Local


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