São Paulo, quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

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Thesca, o silicone e a odisséia particular

WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

"O negócio dela era ganhar dinheiro para se transformar", diz a família, pasma com o fim brusco da odisséia particular de Thesca -que deixou Teresina para se travestir em São Paulo, implantou silicone em busca do corpo perfeito e morreu sem realizar seu sonho italiano.
Thesca nasceu Francisco das Chagas Azevedo, prematuro de seis meses que "desenvolveu bem", chegando a 1,84 m. "Desde 1 ano já tinha jeito, era o mais delicadinho de cinco irmãos", enfiando-se sempre nas brincadeiras de boneca das irmãs.
Aos 17, "tomou coragem e se assumiu", ali mesmo no bairro Dirceu, "onde era adorado até por senhoras de idade". Em menos de um mês se vestia como mulher; logo era o Miss Gay Teresina. Mas queria ir para São Paulo, juntar dinheiro para morar na Itália -lá seria respeitado.
Com 21 anos chegou em São José dos Campos. Em um ano investiu R$ 15 mil no corpo, com prótese nos seios e implante nas nádegas. O dinheiro de sobra, enviava religiosamente para a mãe.
Solteira, Thesca gastava bem o salto nos forrós. Fora até convidada, diz a irmã, para dançar em bandas do Piauí. "Mas era muito tímida" e até para comprar sapato tinha que ir uma irmã junto. Só à noite, quando punha a roupa de trabalho, sentia-se à vontade.
Viajaria ao Piauí para dar adeus à família, rumo a Itália. "Nunca foi tão feliz". Mas o último implante, nas coxas, invadiu as artérias, causando edema pulmonar e asfixia. Thesca morreu no dia 12, de parada cardíaca, aos 22, em São José dos Campos.


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