São Paulo, sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

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Suíça confirma que Paula confessou farsa

Em comunicado divulgado ontem, a Procuradoria Geral de Zurique informou que confissão foi feita à polícia na última sexta

Advogado que assumiu o caso disse que a brasileira prestará novo depoimento na próxima semana; Paula já responde a ação penal

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A ZURIQUE

A Procuradoria Geral de Zurique confirmou que a brasileira Paula Oliveira, 26, confessou no último dia 13 que mentiu à polícia quando contou ter sido atacada por neonazistas e sofrido um aborto após a agressão. Segundo um comunicado divulgado ontem, Paula confessou que os cortes em sua pele foram feitos por ela mesma, e que jamais esteve grávida.
Na quarta-feira, a Procuradoria já havia aberto uma ação penal contra Paula por falsa denúncia, crime que prevê pena de três anos de cadeia ou pagamento de multa. Ela também teve o passaporte apreendido e está proibida de deixar a Suíça até o fim das investigações.
Um advogado foi indicado pela Procuradoria para defender a brasileira, que voltará a ser interrogada na próxima semana. Segundo Roger Müller, o defensor público que assumiu o caso, Paula prestará novo depoimento provavelmente na terça-feira ao procurador do caso, Marcel Frei.
A gravidez de Paula já havia sido descartada por um laudo independente, mas até ontem a polícia continuava afirmando que a agressão continuava sendo investigada. Porém, a publicação da informação por um semanário de Zurique acabou levando a Procuradoria a confirmar ontem a confissão. Segundo o comunicado da Procuradoria, não está claro qual foi a motivação de Paula e se ela teve cúmplices na farsa.
Marcel Frei informou à Folha que, além de Paula, também vai interrogar o namorado dela, Marco Trepp. O jornal "Tages Anzeiger" disse anteontem que entre as suspeitas estão a possível intenção de Paula de receber uma indenização do Estado até forçar o namorado a casar com ela. "Em 13 de fevereiro de 2009, [Paula] declarou que não aconteceu nenhum ato de agressão, e que ela tinha aplicado as feridas de corte nela por si própria", diz o comunicado. "Quando confrontada com o resultado dos exames ginecológicos, ela confirmou que não tinha se encontrado em estado de gravidez."
A Procuradoria confirmou que a confissão de Paula a policiais num quarto do hospital de Zurique, onde ficou internada por seis dias, não pode ser usada como prova na investigação, mas como indício de que ela enganou as autoridades, incorrendo no artigo 302 do código penal suíço, que prevê pena de até três anos de prisão.
O advogado Roger Müller, porém, praticamente descartou ontem que a pena máxima seja aplicada. O caso, diz, pode ser encerrado com o pagamento de multa após um único depoimento da brasileira ao procurador. Ele não quis confirmar se a confissão será repetida no novo interrogatório. A confissão de Paula ocorreu na sexta-feira, dia 13, horas antes de a polícia desmentir a sua gravidez e indicar que suspeitava de automutilação. Ainda assim, afirmou que investigava a versão de Paula de que fora agredida por três neonazistas na periferia de Zurique. Ontem o desmentido se tornou oficial.
O pai da brasileira, o advogado Paulo Oliveira, não quis falar com a imprensa ontem. O namorado de Paula continua sem ser localizado. O Itamaraty informou que continuará dando apoio consular e atuando como facilitador no caso da advogada. O apoio é no sentido de garantir que a brasileira não sofra discriminação. O ministério mantém o pedido às autoridades policiais e judiciais suíças de investigações céleres e rigorosas.

Colaborou a Sucursal de Brasília

Leia a íntegra do comunicado da Procuradoria

www.folha.com.br/090504


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