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Crise não tem data para acabar, diz Infraero
Em novo dia de caos nos aeroportos, com 31% dos vôos atrasados, brigadeiro diz que não se "atreve a dar prazo" para fim do problema
Lula reuniu equipe e cobrou uma apuração rigorosa da situação; governo desconfia de sabotagem dos controladores de vôo
Lula Marques/Folha Imagem
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Passageiros aguardam embarque no aeroporto de Brasília |
DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os atrasos em vôos de todo o
país provocados pela chuva e
por uma pane no controle aéreo em Brasília só devem acabar no final da tarde de hoje.
Mas a crise aérea que se arrasta
desde o ano passado e que
constantemente tem parado os
aeroportos brasileiros não tem
data para acabar, segundo o
próprio brigadeiro José Carlos
Pereira, presidente da Infraero.
Ontem, quando 30,5% dos
vôos do país registraram atraso
de mais de uma hora, o presidente da Infraero, a empresa
responsável pela infra-estrutura dos aeroportos, disse que
nem se "atreve a dar um prazo"
para o fim do problema.
"Não posso dizer para você
nem garantir aos passageiros
que daqui a 15 dias isso não vai
acontecer. Eu estaria mentindo... a qualquer momento pode
surgir [uma falha no] sistema
como o de ontem [domingo]."
Ele visitou o aeroporto de
Congonhas, em São Paulo, um
dos mais prejudicados com a
nova crise: foram 99 vôos com
atraso (33,8%) dos 293 programados (até as 21h). Ele mesmo
enfrentou atraso de duas horas
em seu vôo, que saiu de Brasília. "Um atrasinho de duas horas", afirmou Pereira.
Sobre a pane de anteontem,
disse que a única responsável
por ela é a Aeronáutica, que
controla o Cindacta-1 (Centro
Integrado de Defesa e Controle
do Tráfego Aéreo). "Para nós da
Infraero o que termina acontecendo é absorver a questão."
"O problema durou, pelas
minhas contas, exatos 40 minutos. Isso foi suficiente para
infernizar durante 20 horas seguidas todo o país."
No domingo, a Infraero previa que a situação estaria normalizada ontem à tarde. O
"efeito cascata" da crise, porém
perdurou durante todo o dia e,
segundo a Infraero, só se resolverá na noite de hoje.
Apuração rigorosa
Por conta do novo apagão aéreo, o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva voltou a cobrar
uma "apuração rigorosa" sobre
o mais recente episódio de caos
nos aeroportos.
O governo voltou a suspeitar
de sabotagem dos controladores de vôo, que realizam uma
operação-padrão desde outubro. Da última vez que essa acusação foi lançada, no caos de 5
de dezembro, a Aeronáutica reconheceu que o equipamento
estava defasado.
Controladores ouvidos pela
Folha consideram a suspeita
"absurda". Além disso, técnicos
da FAB avaliam que dificilmente pode ter ocorrido interferência proposital nesse tipo de falha. Mesmo assim, os controladores se queixam da falta de definição sobre a reivindicação de
desmilitarização do setor -o
governo elaborou uma proposta em dezembro, mas ainda não
há aval do Planalto.
A pane do domingo começou
com uma queda no sistema de
gerenciamento de planos de
vôo no Cindacta-1 (responsável
pelo controle no Centro-Oeste
e Sudeste) às 10h06. Os controladores ficaram sem informações de identificação e altitude
planejada dos vôos nos monitores. Quando os dados voltavam
à tela, não eram confiáveis. A situação durou pelo menos quatro horas, o que causou um acumulo de atrasos em todo o país.
Lula ficou irritado e convocou ontem pela manhã uma
reunião de emergência com o
ministro da Defesa, Waldir Pires, e o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito.
Oficialmente, a Casa Civil nega que a possibilidade de sabotagem tenha sido discutida. Em
nota oficial, a Defesa afirma
que o presidente "determinou a
apuração imediata e rigorosa
das causas do ocorrido".
Além disso, Lula voltou a pedir que os passageiros recebam
informações rápidas e corretas
nos aeroportos -ordem já dada
duas vezes em dezembro. Sem
citar diretamente a Aeronáutica, mandou "que sejam implementados equipamentos reserva eficientes e eficazes".
No domingo, as informações
foram desencontradas. A Aeronáutica informou que havia
ocorrido uma falha de sete minutos. Na realidade, o problema demorou para ser resolvido.
O servidor principal, onde surgiu a falha, tinha um arquivo
corrompido que impedia o
acionamento do servidor de reserva.
Quando o equipamento falha, o controle aéreo implementa planos de contingência.
Este caso não foi tão grave
quanto o de 5 de dezembro,
quando o espaço aéreo foi "congelado" porque não havia comunicações com o Cindacta-1.
Desta vez, as decolagens de
toda a região foram restringidas com espaçamento de 30
minutos e chegaram a ser suspensas em alguns aeroportos.
Isso foi feito para reduzir o número de aviões monitorados, já
os dados eram acompanhados
com fichas de papel.
(EVANDRO SPINELLI, ROGÉRIO PAGNAN, LEILA SUWWAN E IURI DANTAS)
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