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Ministro culpa Rio por surto de dengue
José Gomes Temporão (Saúde) responsabiliza a prefeitura de Cesar Maia pela explosão de casos da doença no município
Ministério diz em nota que administração falhou no combate ao mosquito transmissor; Prefeitura do Rio não se manifestou
KENNEDY ALENCAR
ANGELA PINHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Ministério da Saúde responsabilizou a Prefeitura do
Rio de Janeiro pela explosão de
casos de dengue na cidade.
Surpreso com os relatos de
que a situação era mais grave
do que parecia, o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva cobrou ontem explicações do ministro José Gomes Temporão
(Saúde) sobre o grande aumento de casos no município.
Segundo a Folha apurou,
Temporão responsabilizou o
prefeito do Rio, Cesar Maia
(DEM), que, segundo ele, não
teria adotado os procedimentos técnicos para combater o
mosquito Aedes aegipty, transmissor da doença.
Apesar disso, Lula pediu que
Temporão se colocasse à disposição de Maia para ajudar no
que fosse possível.
O ministro afirmou que a explosão dos casos se concentrava na cidade do Rio, e não no
Estado. Segundo ele, isso era
uma evidência da suposta falta
de cuidado do prefeito carioca.
Em nota divulgada na noite
de ontem, sem citar Maia, a
pasta atribui o aumento "à baixa implementação das equipes
de saúde da família e à desestruturação da atenção básica".
Aponta que, em outubro, o
ministério já tinha avisado a
população e todos os governos
-"em especial do Rio de Janeiro"- sobre a possibilidade de
uma epidemia no verão.
O texto ainda afirma que, enquanto no país o número de casos caiu 40%, a cidade do Rio
registrou aumento de 100%.
Em outra crítica à administração de Maia, a nota diz que,
em 2007, Campo Grande, cuja
prefeitura está nas mãos do
PMDB, enfrentou uma situação "tão grave" quanto a da capital fluminense, mas registrou
só um óbito, devido à qualidade
do atendimento primário.
Belo Horizonte, dirigida pelo
PT, também é citada. Após dizer que na cidade a cobertura
do Programa Saúde da Família
(PSF) é de 70%, o texto afirma
que "a capital mineira tem se
mantido fora, nos últimos
anos, de qualquer surto epidêmico, de dengue ou de outras
doenças infecciosas".
No Rio, o PSF cobre apenas
8% da população, de acordo
com dados da pasta.
Na nota, o ministério anunciou um gabinete para enfrentar a doença no Rio e afirmou
que trabalhará em conjunto
com o governo e as Forças Armadas. Na segunda-feira, integrantes da pasta se reunirão
com membros da Prefeitura do
Rio e secretários de Saúde da
Baixada Fluminense. Trezentos agentes de saúde que estavam cedidos a secretarias municipais já foram convocados
para atuar por 60 dias no combate ao mosquito no Rio.
A Secretaria Municipal de
Saúde do Rio informou que não
se manifestaria porque não tinha conhecimento da nota do
ministério. A reportagem enviou e-mail para Cesar Maia,
que não havia respondido até a
conclusão desta edição.
Epidemia
Para o epidemiologista Roberto Medronho, da UFRJ
(Universidade Federal do Rio
de Janeiro), o número de casos
no Rio já permite até dizer que
há uma epidemia da doença.
Ele cita o LME (Limite Máximo Esperado), padrão adotado
internacionalmente: em janeiro, o máximo de casos esperados no Rio deveria ter sido de
23,3 por 100 mil habitantes. Foi
de 144,5. Em fevereiro, 42,9.
Foi de 152,3.
A prefeitura discorda da avaliação de epidemia, pois considera que o patamar da doença é
acima de 470 casos em cada 100
mil habitantes.
Medronho afirma que, para
cada doente registrado no Rio,
há outros dez cujos casos não
chegam a ser contabilizados
pelas autoridades de saúde,
conforme o padrão mundial de
subnotificação adotado pela
OMS (Organização Mundial de
Saúde) para a doença. Assim, os
números no Rio seriam 900%
maiores do que o oficialmente
reconhecido pela prefeitura.
Até ontem, os registros do
governo municipal indicavam
desde 1º de janeiro 21.502 casos
confirmados, com 29 mortos
-17 deles tinham menos de 11
anos. Aplicada a padronização
da OMS para subnotificação,
pelo menos 215.020 moradores
da capital fluminense teriam
contraído a doença neste ano.
Conforme Nilton Luiz de Penha, do hospital Alberto
Schweitzer (zona oeste do Rio),
o número de casos na instituição subiu quase 1.000% desde
janeiro. "Em janeiro, tivemos
66 atendimentos e 10 internações. Em fevereiro, foram 192 e
42. Em março, só até o dia 18,
foram 621 atendimentos e 122
internações."
Colaborou a Sucursal do Rio
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