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Nunes avisou PM da morte de Glauco, mas foi ignorado
Rapaz chegou a telefonar duas vezes para a polícia, que pensou se tratar de trote
Ele também disse estar com raiva de Felipe Iasi, por deixá-lo só depois do crime, contrariando testemunha que viu os dois partirem juntos
ROGÉRIO PAGNAN
DA REPORTAGEM LOCAL
GRACILIANO ROCHA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FOZ DO IGUAÇU
Carlos Eduardo Sundelfd
Nunes, 24, que confessou ter
assassinado o cartunista Glauco Vilas Boas, 53, e o filho Raoni, 25, ligou duas vezes para o
190 da Polícia Militar afirmando ter cometido os assassinatos, mas não foi levado a sério.
Ele queria se entregar, afirma
seu advogado, Gustavo Badaró.
As ligações foram feitas por
volta da 0h30 de sexta-feira, segundo a Polícia Militar, minutos após o crime. A informação
consta do interrogatório feito à
polícia em Foz do Iguaçu, na
terça-feira, e foi confirmada
ontem pela PM. "[Ele] chegou a
ligar para a polícia, disse ter
matado o Glauco, e eles acharam que era um trote. Desligaram. Ligou de novo, mandaram
se apresentar em uma delegacia", registra o depoimento.
A PM diz, em nota, que não
tinha como localizá-lo, mas negou acesso à cópia da gravação.
"Ele narrava coisas desconexas
e sem sentido. Não forneceu
sua localização para que uma
viatura policial fosse enviada."
Leia abaixo trechos do relatório do depoimento.
DEUS E O DAIME
"Durante a adolescência eu
era terrível, usava cocaína, fluído de isqueiro, usava todos os
tipos de drogas."
"Anos atrás, acreditava que
tudo era energia, as coisas tinham uma energia, porém, não
acreditava em Deus, até que conheceu através de um amigo
[...] a igreja do Santo Daime."
REVELAÇÃO
"Teve a revelação de que seu
irmão Carlos Augusto iria receber Cristo, quando ele acreditasse, e aí o Cristo reencarnaria,
só que ele não acredita e quando acontecessem os seus raios,
conforme consta do hinário do
Glauco, a humanidade iria melhorar. Glauco sabia disso, pois
era autor do hinário, ele conversa com Deus. O interrogado
rezava todos os dias para os líderes da Igreja Céu de Maria, o
Glauco, a Bia, mulher dele,
além de outras pessoas, que revelassem ao seu irmão que ele
era o Cristo, porque sabia que
crianças estavam sendo estupradas, pessoas passando fome,
mas eles me enrolavam e não
falavam o que eu queria."
PLANEJAMENTO
"Informa que precisava sincronizar tudo. Seu irmão tinha
que estar em casa, Raoni tinha
que estar em casa, tanto que
antes de ligar para Felipe ligou
para Raoni, para saber o horário em que estaria em casa."
AÇÃO
"Chegando à casa de Glauco,
percebeu que Raoni não havia
chegado. Ordenou que Felipe
Iasi entregasse as chaves do
veículo e desceu com a mochila
que carregava, onde guardava,
além da munição, uma faca,(...)
documentos e o dinheiro."
JESUS
"'Se vocês têm essa capacidade de falar em reencarnação,
diga quem é a reencarnação do
meu irmão". Glauco começou
começou a dialogar, ao perceber que ele o enrolava, desferiu-lhe um soco de esquerda no
rosto dele, e disse "Agora você
acredita que estou falando sério?". [...] Engatilhou a arma e
disse que iria estourar a cabeça
de Glauco, já que não dizia o
que ele queria ouvir. Nesse instante, tanto Bia como Glauco
disseram: "É Jesus'".
TRAGÉDIA
"Começaram a discutir e não
percebeu que Felipe Iasi (...) foi
embora. O interrogado desesperou-se pensando: "Agora que
deu tudo errado, tô fodido, vou
morrer, sequestrei, estou com
uma arma, vou morrer, e não
vou conseguir realizar o que eu
quero". Ficou desesperado, resolveu matar Glauco, efetuando um disparo na barriga dele.
Momento em que Roani veio
em sua direção, e efetuou outros disparos, cerca de uns quatro, atingindo Roani. Glauco,
mesmo ferido, "veio para cima e
fiz outros disparos'"
"Ficou com muito ódio de
Felipe que foi embora, e fodeu
tudo, queria matar ele como
um frango, e estragou tudo"
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