São Paulo, sábado, 20 de março de 2010

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Nunes avisou PM da morte de Glauco, mas foi ignorado

Rapaz chegou a telefonar duas vezes para a polícia, que pensou se tratar de trote

Ele também disse estar com raiva de Felipe Iasi, por deixá-lo só depois do crime, contrariando testemunha que viu os dois partirem juntos


ROGÉRIO PAGNAN
DA REPORTAGEM LOCAL

GRACILIANO ROCHA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FOZ DO IGUAÇU

Carlos Eduardo Sundelfd Nunes, 24, que confessou ter assassinado o cartunista Glauco Vilas Boas, 53, e o filho Raoni, 25, ligou duas vezes para o 190 da Polícia Militar afirmando ter cometido os assassinatos, mas não foi levado a sério. Ele queria se entregar, afirma seu advogado, Gustavo Badaró.
As ligações foram feitas por volta da 0h30 de sexta-feira, segundo a Polícia Militar, minutos após o crime. A informação consta do interrogatório feito à polícia em Foz do Iguaçu, na terça-feira, e foi confirmada ontem pela PM. "[Ele] chegou a ligar para a polícia, disse ter matado o Glauco, e eles acharam que era um trote. Desligaram. Ligou de novo, mandaram se apresentar em uma delegacia", registra o depoimento.
A PM diz, em nota, que não tinha como localizá-lo, mas negou acesso à cópia da gravação. "Ele narrava coisas desconexas e sem sentido. Não forneceu sua localização para que uma viatura policial fosse enviada."
Leia abaixo trechos do relatório do depoimento.

DEUS E O DAIME
"Durante a adolescência eu era terrível, usava cocaína, fluído de isqueiro, usava todos os tipos de drogas."
"Anos atrás, acreditava que tudo era energia, as coisas tinham uma energia, porém, não acreditava em Deus, até que conheceu através de um amigo [...] a igreja do Santo Daime."

REVELAÇÃO
"Teve a revelação de que seu irmão Carlos Augusto iria receber Cristo, quando ele acreditasse, e aí o Cristo reencarnaria, só que ele não acredita e quando acontecessem os seus raios, conforme consta do hinário do Glauco, a humanidade iria melhorar. Glauco sabia disso, pois era autor do hinário, ele conversa com Deus. O interrogado rezava todos os dias para os líderes da Igreja Céu de Maria, o Glauco, a Bia, mulher dele, além de outras pessoas, que revelassem ao seu irmão que ele era o Cristo, porque sabia que crianças estavam sendo estupradas, pessoas passando fome, mas eles me enrolavam e não falavam o que eu queria."

PLANEJAMENTO
"Informa que precisava sincronizar tudo. Seu irmão tinha que estar em casa, Raoni tinha que estar em casa, tanto que antes de ligar para Felipe ligou para Raoni, para saber o horário em que estaria em casa."

AÇÃO
"Chegando à casa de Glauco, percebeu que Raoni não havia chegado. Ordenou que Felipe Iasi entregasse as chaves do veículo e desceu com a mochila que carregava, onde guardava, além da munição, uma faca,(...) documentos e o dinheiro."

JESUS
"'Se vocês têm essa capacidade de falar em reencarnação, diga quem é a reencarnação do meu irmão". Glauco começou começou a dialogar, ao perceber que ele o enrolava, desferiu-lhe um soco de esquerda no rosto dele, e disse "Agora você acredita que estou falando sério?". [...] Engatilhou a arma e disse que iria estourar a cabeça de Glauco, já que não dizia o que ele queria ouvir. Nesse instante, tanto Bia como Glauco disseram: "É Jesus'".

TRAGÉDIA
"Começaram a discutir e não percebeu que Felipe Iasi (...) foi embora. O interrogado desesperou-se pensando: "Agora que deu tudo errado, tô fodido, vou morrer, sequestrei, estou com uma arma, vou morrer, e não vou conseguir realizar o que eu quero". Ficou desesperado, resolveu matar Glauco, efetuando um disparo na barriga dele. Momento em que Roani veio em sua direção, e efetuou outros disparos, cerca de uns quatro, atingindo Roani. Glauco, mesmo ferido, "veio para cima e fiz outros disparos'"
"Ficou com muito ódio de Felipe que foi embora, e fodeu tudo, queria matar ele como um frango, e estragou tudo"


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