São Paulo, domingo, 20 de março de 2011

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Aluno-problema dá xeque-mate em tempo perdido

Fernando Barbosa aprendeu a jogar xadrez na escola, tornou-se campeão no esporte e agora vai se formar

Seu colégio participa de projeto da Prefeitura de São Paulo que ensina o jogo aos estudantes depois das aulas

TALITA BEDINELLI
DE SÃO PAULO

Aos 12 anos, Fernando Barbosa foi obrigado pelo conselho tutelar a estudar. Sua única passagem pela escola, cinco anos antes, havia sido rápida: após quatro dias de aula, não quis mais voltar.
Na nova escola, ganhou fama de "aluno-problema".
"Era revoltado e por isso ficava muito nervoso", conta o menino, que desde os seis vendia balas no semáforo.
Em casa, ele tinha fama de "ovelha negra". Às vezes sumia e ia ao shopping Aricanduva, na zona leste de São Paulo, observar um grupo de pessoas que jogava xadrez na praça de alimentação.
E foi o fascínio pelo jogo que o manteve estudando.
Fernando foi matriculado na escola Roquette Pinto, por acaso uma das escolas municipais participantes do programa "Xadrez Movimento Educativo", projeto da prefeitura que ensina o jogo aos estudantes após as aulas.
Sua fama mudou: tornou-se "o melhor jogador de xadrez que a escola já teve", conta, orgulhoso, o professor que ensinou o jogo a ele, Waldomiro Dias Machado Jr.
Com o jogo, Fernando criou cumplicidade com a escola. Passou até a se interessar por livros sobre xadrez.

CAMPEÃO NO ESPORTE
Hoje com 18 anos, e no último ano da escola (sem nunca ter repetido), é um campeão no esporte. Ganhou tantos campeonatos que "até perdeu as contas".
No ano passado, ficou em primeiro lugar no campeonato Paulista nas categorias sub-18 e sub-20. Também jogou o campeonato Brasileiro. Mas na última partida, em que disputava o terceiro lugar, passou mal e perdeu.
Com os bons resultados vieram ótimos convites.
Em 2010, ele ganhou R$ 2.000 para representar Taubaté (SP) em campeonatos regionais. Neste ano, foi a vez de S. J. dos Campos (SP) convidá-lo, em troca de R$ 5.000.
O dinheiro ele usará para ter aulas de xadrez e para ajudar a família, que depende do trabalho de uma irmã, ainda vendedora de balas.
Agora sonha conseguir patrocínio para jogar no exterior.
O programa "Xadrez Movimento Educativo" existe nas escolas municipais de São Paulo desde 1994. Só em 2010, ele foi executado por 300 das 1.080 escolas da rede, com 35.500 alunos participantes do ensino infantil ao final do fundamental.
"Pesquisas em muitos países mostram que é possível mudar o comportamento da criança a partir do xadrez. Melhora a concentração, desenvolve o raciocínio lógico", afirma Egnon Viana, coordenador do programa.


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