São Paulo, domingo, 20 de março de 2011

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ANÁLISE

Sem diversidade de espécies, pragas causam grande estrago

O PLANTIO EXCESSIVO TRANSFORMOU O FICUS BENJAMINA EM UMA DAS ESPÉCIES DE MAIOR OCORRÊNCIA EM SÃO PAULO

DEMÓSTENES FERREIRA DA SILVA FILHO
ESPECIAL PARA A FOLHA

A soma de todas as copas de árvores de uma cidade deve ser capaz de diminuir o impacto das chuvas em áreas impermeáveis, reduzir a amplitude térmica, combater os efeitos negativos das ilhas de calor e filtrar poluentes atmosféricos, proporcionando melhoria sensível na qualidade de vida de seus habitantes.
Uma praga ou doença pode dizimar uma comunidade arbórea inteira? Sim, pode, caso essa comunidade tenha poucas espécies, caracterizando uma homogeneidade.
Na cidade de São Paulo, na década de 80, ocorreu uma "invasão" da espécie Ficus benjamina L., exótica, originaria da Ásia e da Oceania.
O plantio pela população foi estimulado, entre outras razões, pela mídia, com uma novela em que um personagem cuidava de um fícus - "a árvore do Jorge Thadeu".
Os indivíduos da espécie possuem copas largas e produzem uma sombra densa.
Essa bonita árvore é facilmente propagada por estacas e possui um excelente vigor -o que fez aumentar rapidamente sua quantidade na comunidade.
O plantio excessivo transformou o Ficus benjamina em uma das espécies de maior ocorrência na cidade de São Paulo, caracterizando uma diminuição da diversidade arbórea com graves consequências para a conservação da arborização.
Cerca de trinta anos depois temos árvores adultas, clones sem variabilidade genética, com copas enormes e problemas de saúde provavelmente devido ao ataque de fungo da espécie Phomopsis cinerescens, como descoberto por pesquisadores do Departamento de Fitopatologia da Universidade de Brasília, em Uberlândia. Tal doença poderá dizimar a frágil população de fícus da cidade, ocasionando uma drástica diminuição da cobertura arbórea.
Isso mostra a importância na hora da escolha das espécies de árvores que vão ocupar as ruas da cidade.
É preciso encontrar um equilíbrio entre homogeneidade e diversidade. Ao tentarmos obter um efeito plástico interessante produzido por copas idênticas na paisagem, não podemos nos esquecer da segurança que a diversidade arbórea nos dá.
É justamente essa diversidade que permite uma cobertura arbórea mais durável. Isso porque uma comunidade diversificada não pode ser atacada pela mesma praga ou doença, o que assegura seus importantes serviços ambientais proporcionados.

DEMÓSTENES FERREIRA DA SILVA FILHO é professor doutor do departamento de ciências florestais da Esalq/USP, especialista em silvicultura urbana


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