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MENINOS DO BRASIL
Ministério Público aponta irregularidades em unidade da Febem que abriga 500 menores
Secretário manda inspecionar cadeião
GABRIELA ATHIAS
da Reportagem Local
O secretário da Assistência e
Desenvolvimento Social do Estado de São Paulo, Edsom Ortega,
pediu à Vigilância Sanitária novo
laudo do cadeião de Pinheiros.
Essa unidade da Febem abriga,
desde outubro de 1999, em média,
500 adolescentes infratores.
Reportagem da Folha, publicada no dia 16, divulgou o último
laudo da Vigilância, feito no dia 18
de fevereiro e entregue à Justiça
no dia 7 de abril.
Segundo o documento, anexado ao processo judicial em que o
Ministério Público pede a imediata transferência dos adolescentes
do cadeião, há falta de higiene até
no ambulatório médico. Esse laudo relata que 80% dos adolescentes estão com escabiose (sarna),
mas as roupas pessoais são trocadas apenas uma vez por mês, e as
que chegam da lavanderia são
guardadas no chão.
Ortega diz ter pedido novo laudo para confirmar informações
da Ouvidoria da Febem (Fundação Estadual do Bem-Estar do
Menor), que vistoriou o cadeião
após a reportagem da Folha, e assegurou que falhas de higiene, relatadas na primeira inspeção, já
foram resolvidas.
As celas são limpas três vezes
por dia com hidrante e, segundo o
secretário, não falta material de
limpeza (desinfetante) como
aponta o laudo inicial.
Segundo Ortega, alguns problemas citados pela Folha (com base
em vídeo feito pelo Ministério Público), como o fato de os adolescentes comerem com as mãos
também já foram solucionados.
A reportagem não entrou no cadeião de Pinheiros, de Santo André e no Centro de Observação
Criminológioca (COC), no Carandiru, porque o secretário não
autorizou, alegando temer pela
integridade física da equipe.
Segundo Ortega, a Denadai,
empresa fornecedora de alimentos, informou que logo após a
transferência dos adolescentes
(do Complexo Imigrantes e do
Quadrilátero do Tatuapé), a direção da Febem havia recomendado que a suspensão do fornecimento de talheres. Mesmo sendo
feitos de plástico, segundo ele, os
meninos os estariam utilizando
como arma. "Eu mesmo suspendi
essa ordem", diz o secretário.
No mesmo vídeo em que os meninos aparecem comendo com as
mãos (sentados no chão das celas), eles relatam que o mesmo sabonete é dividido por até 60 meninos. Ortega diz ter verificado, em
dezembro (dois meses após a
transferência dos adolescentes),
que o mesmo sabonete era divido
por quatro pessoas, mas revogou
essa prática.
Para Ortega, essas medidas de
higiene reduziram o percentual
de meninos com sarna 80% para
30%. Essa proporção, diz ele, é difícil de ser alterada em razão da alta rotatividade de adolescentes
que entram e saem do cadeião.
Mas, a doença é tratada tão logo
identificada.
Além disso, Ortega disse que, na
medida do possível, os meninos
estão sendo agrupados nas celas,
de acordo com a compleição física e tipo de infração cometida.
Maus-tratos
Ortega informou que o presidente da Febem, Benedito Duarte, reuniu-se esta semana com diretores da unidades para reforçar
a necessidade de acabar com castigos físicos.Ortega diz que os
funcionários denunciados por
maus-tratos foram demitidos ou
estão sendo alvo de sindicância.
Segundo ele, Duarte está averiguando o fato de os oito adolescentes que tentaram fugir da unidade 10, no Tatuapé, no dia 7 de
abril, terem sido levados para a
Unidade de Referência Terapêutica (URT), a "masmorra", conhecida como um lugar utilizado para a aplicação de castigos.
O secretário havia assegurado à
Folha, no dia 6, que a URT não estava mais sendo utilizada como
um local de punição e sim como
uma unidade comum do "circuito grave". "É muito difícil mudar
a cultura da Febem", disse.
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