São Paulo, domingo, 20 de abril de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Classes mais ricas gostariam de ter famílias maiores

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

Um segundo casamento, uma vida financeira mais estável ou apenas o desejo de voltar a ter um bebê no momento em que a idade reprodutiva caminha para o fim. Essas são algumas das motivações que têm levado homens e mulheres com boa situação financeira a querer mais filhos, segundo especialistas em reprodução.
Na pesquisa Datafolha, 24% dos entrevistados mais ricos declararam que, se pudessem voltar no tempo e mudar suas escolhas, teriam mais filhos -contra 17% dos que disseram que teriam menos ou nenhum. Já entre os mais pobres, o percentual dos que teriam menos ou nenhum filho (45%) supera o dos que teriam mais (20%).
"Há casais que sentem saudade da época em que os filhos eram bebês. Mas o forte mesmo são mulheres que estão em novos relacionamentos e querem ter filhos na nova união", afirma o ginecologista e obstetra Arnaldo Cambiaghi.
É o caso de Thaís Cristina Araújo, 28. Mãe pela primeira vez aos 19 anos, ela se casou novamente há quatro anos. O marido tinha dois filhos do primeiro casamento e havia feito vasectomia. "Queríamos um filho nosso e corremos atrás desse sonho", diz ela, que deu à luz Vitória no último dia 8, após duas fertilizações in vitro.
Para o médico Dirceu Mendes de Almeida, presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana, muitos casais têm necessidade de ter filhos para "consolidar a nova união".
Outros motivos que levam mulheres a desejarem mais filhos são o crescimento da prole e a aproximação da menopausa. "Elas sentem um vazio, uma vontade enorme de voltar a trocar fraldas", brinca Almeida.
Ser mãe novamente na faixa dos 40 anos, quando em geral os filhos estão na adolescência, também é uma forma de as mulheres se sentirem rejuvenescidas, avalia o ginecologista Thomaz Gollop, professor livre-docente pela USP.
A advogada Sandra Sampaio, 42, assina embaixo. "Depois do nascimento do Lucas [2 anos], me sinto dez anos mais nova", diz ela, também mãe de dois adolescentes de 15 e 17 anos.
A partir do Censo 2000, a demógrafa Moema Guedes, doutora pela Unicamp, identificou que, nas mulheres com nível universitário de 40 a 49 anos, quanto maior a renda, maior o número de filhos. "É complicado atribuir causalidade entre os dois fenômenos, mas o resultado nesse grupo desconstrói a idéia difundida de que quem tem mais dinheiro sempre tem menos filhos."
A hipótese que ela sugere para explicar o comportamento é que, para quem tem mais escolaridade, ter um filho implica gastos maiores, como escolas privadas. É por isso que uma renda maior poderia explicar o fato de a mulher ter mais filhos.


Colaborou ANTONIO GOIS, da Sucursal do Rio


Texto Anterior: Se pudessem voltar no tempo, 15% dos pais não teriam filhos
Próximo Texto: Mãe de quatro, Iara afirma que, se fosse hoje, teria apenas dois
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.