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De cada R$ 3 pagos de IPTU em São Paulo, R$ 2 vão para dívida
Dez anos após a assinatura do contrato, valor desembolsado pelo município daria para construir até duas linhas de metrô
Kassab tenta aproveitar momento eleitoral para renegociar acordo fechado em 2000 por Celso Pitta e Fernando Henrique Cardoso
EVANDRO SPINELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
De cada R$ 3 que o paulistano pagou ano passado de IPTU,
R$ 2 foram usados para pagar
dívidas da década de 1990.
No mês que vem essa dívida
faz "aniversário" de dez anos. O
que já foi pago desde então,
quando o atual acordo de negociação foi assinado, seria suficiente para bancar a conclusão
da linha 5-lilás do metrô de
Santo Amaro à Vila Mariana, o
trecho sul do Rodoanel recém-inaugurado, zerar o deficit de
vagas em creches da cidade,
construir dez hospitais e sobraria quase R$ 1 bilhão de "troco".
Em maio de 2000, Celso Pitta, então prefeito, e Fernando
Henrique Cardoso, na época
presidente, assinaram contrato
pelo qual o governo federal assumia a dívida da prefeitura em
troca do pagamento mensal de
13% da receita municipal.
A dívida transferida era de
R$ 11,261 bilhões. Já foram pagos, segundo dados da prefeitura, R$ 11,704 bilhões -quase R$
500 milhões a mais que o valor
original. E o saldo da dívida é de
surpreendentes R$ 39,145 bilhões, quase três vezes e meia o
montante original, e crescendo.
As dívidas comprometem
quase 20% do Orçamento
anual da prefeitura, juntando o
que é pago para o governo federal -o maior credor de São
Paulo- e de precatórios. É por
isso que o prefeito Gilberto
Kassab (DEM) quer renegociar
os critérios de pagamento.
Kassab lança hoje um site para expor diariamente a situação
da dívida. Quer aproveitar o
momento eleitoral para tentar
obter dos principais candidatos
à Presidência da República um
compromisso de renegociação.
O problema, diz Walter Aluisio Morais Rodrigues, secretário municipal de Finanças, é a
taxa de juros aplicada sobre o
saldo devedor: o índice de inflação IGP-DI mais 9% ao ano.
No ano passado, o IGP-DI foi
negativo em 1,4364%. Para
2010, no entanto, a previsão é
que o índice passe dos 7%. Ou
seja, a situação vai piorar.
"Nesse percentual, a prefeitura não consegue nem pagar
os juros. A dívida só aumenta",
afirma Amir Khair, consultor
de finanças públicas e responsável pelo caixa municipal na
gestão Erundina (1989-1992).
Aumento dos juros
Quando o contrato foi assinado, o acordo era que a prefeitura pagaria juros de IGP-DI
mais 6% durante 30 meses. Ao
final do período, teria de quitar
à vista 20% do saldo devedor.
Caso não pagasse nada, os juros
passariam de 6% para 9%.
Os 30 meses venceram em
novembro de 2002, quando
Marta Suplicy (PT) era prefeita
e Luiz Inácio Lula da Silva, o
presidente eleito. A prefeitura
não pagou os 20%, o governo
federal não cedeu e os juros aumentaram para os 9%. Marta
argumentava, na época, que a
dívida era "impagável".
Se a taxa fosse mantida em
6%, a dívida total hoje seria de
R$ 26,446 bilhões, um valor
compatível com o Orçamento
da cidade, na opinião do atual
secretário de Finanças.
Procurado pela Folha, o Ministério da Fazenda não comentou o assunto ontem.
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