São Paulo, quarta-feira, 20 de abril de 2011

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Consórcio contesta reportagem sobre licitação do Metrô

Empresas contratam peritos para rebater reportagem e tentar impedir que concorrência da linha 5 seja anulada

Perito contratado por advogados da Folha diz que os arquivos provam que o jornal soube antes do resultado

DE SÃO PAULO

O consórcio Andrade Guiterrez-Camargo Corrêa contratou quatro peritos para tentar mostrar que a Folha usou registros que não podem provar que o jornal sabia com seis meses de antecedência quais seriam os vencedores da licitação do Metrô para a linha 5.
Nenhum desses laudos foi feito com documentos ou arquivos originais da Folha.
A reportagem, de 26 de outubro do ano passado, revelou que os vencedores eram conhecidos antes do término da concorrência a partir de dois documentos: 1) um vídeo gravado em 20 de abril do ano passado, no qual o jornalista Ricardo Feltrin anuncia que lote ficará para cada consórcio; 2) um texto de 23 de abril com a lista dos ganhadores, com firma reconhecida em cartório.
O texto ganhou o Prêmio Folha do ano passado, na categoria reportagem.

MONTAGEM
O vídeo e o documento, segundo os peritos das empreiteiras, não podem ser tomados como prova de que o resultado era conhecido antes. Eles alegam que os registros podem ter sido montados.
Laudo feito por um perito contratado pelos advogados da Folha chegou a uma conclusão diferente: a de que "os arquivos eletrônicos examinados foram efetivamente produzidos em 20 de abril de 2010 e, portanto, são comprobatórios do teor da denúncia de que tratam". O perito usou arquivos e documentos originais, guardados pela Folha.
Por conta da reportagem, o governo paulista suspendeu a licitação de R$ 4 bilhões e o Ministério Público passou a apurar se houve conluio entre as empreiteiras. O consórcio contratou os peritos para juntar os laudos no processo administrativo do Metrô e tentar evitar que a licitação seja anulada.
A concorrência foi aberta para escolher as empresas que fariam os lotes de 3 a 8 da linha 5, que ligará o Largo 13 à Chácara Klabin.
Feltrin gravou o vídeo à frente de duas TVs, sintonizadas na Globo e no SBT, para mostrar que estava ao vivo, no dia 20 de abril de 2010, às 12h48, como relata o perito Robson Nascimento. Arquivos de texto da Folha mostram que o roteiro do vídeo foi escrito no mesmo dia.
O perito Ricardo Molina, contratado pelo consórcio Andrade Gutierrez-Camargo Corrêa, diz que a hipótese inicial das empreiteiras era a de que o vídeo fora montado. "Não há montagem no vídeo. A questão é saber se ele pode ser datado. E isso é impossível. As imagens de TV poderiam ter sido gravadas".

LEVIANO
O perito criminal Mauro Ricart Ramos, contratado pelas empreiteiras, escreveu no laudo que o vídeo poderia ter sido montado. Em entrevista, disse, porém, que "seria leviano" falar em montagem: "Em momento algum eu disse que a fita era montada. Eu disse que, tecnicamente, pode-se fazer uma montagem".
O perito Celso Ribeiro del Picchia, que analisou um xerox do documento cuja firma foi reconhecida em cartório, diz que teria de analisar o original para concluir se houve fraude ou não. Ele concluiu no laudo que há "anomalias e indícios de alteração mediante enxerto de linhas".
Em entrevista, afirmou: "O documento não tem credibilidade do jeito que está. Não estou dizendo que é falso".


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