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PREVENÇÃO
Associações e empresas querem desvincular a imagem dos preservativos de doenças e relacioná-la a afeto e prazer
Camisinha pode virar presente para namorados
AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Por mais cheirosas e coloridas
que estejam ficando, as camisinhas continuam associadas a lugares suspeitos, escapadas ocasionais e prevenção de doenças. Pois
essa imagem está ficando para
trás. Depois dos desfiles de Carnaval, onde sempre teve lugar de
destaque, o preservativo aparece
agora como acessório e presente
para o Dia dos Namorados. Está
sendo relacionado mais com o
afeto e o prazer, e menos com enfermidades e infidelidades.
Nos dias que antecedem 12 de
junho, Dia dos Namorados, o
Conselho Nacional Empresarial
vai distribuir 800 mil cartões-postais com um poema de Vinícius
de Moraes, um casal se abraçando
e uma camisinha colada. Ao lado,
o espaço para o endereço e a frase:
"Mais que uma demonstração de
cuidado e respeito, uma prova de
amor verdadeiro".
O conselho foi fundado em 98
pelo Ministério da Saúde e reúne
24 empresas que têm programas
de prevenção no local de trabalho.
"A iniciativa do Dia dos Namorados conta com ações paralelas de
laboratórios, rede de cinemas e
cadeia de jornaleiros", diz o médico Murilo Alves Moreira, presidente do conselho e gerente de
saúde da Volkswagen.
Em outra frente, duas associações acabam de eleger o 12 de junho o "dia nacional da camisinha". Uma é a Associação Vida
Positiva (AVP), fundada em 2000
para trabalhar com prevenção e
assistência a pacientes com HIV e
Aids. A outra é a Associação dos
Artistas Plásticos de Colagem
(AAPC), que tem 21 anos.
Juntas, as associações promovem até o dia 14 de junho a Mostra
Vida Positiva, no Terminal Rodoviário do Tietê. São obras de 36 artistas que trabalham o tema
"Aids, prevenção e reciclagem".
Material artístico
A idéia de eleger um dia para a
camisinha ocorreu no trabalho
dos artistas, muitos deles usando
o preservativo como material de
colagem, conta André de Souza,
presidente da AVP.
"Uma arte que vem desde a China antiga não poderia passar
alheia a uma epidemia e a um
acessório que marca nossa época", diz Robert Richard, dirigente
da AAPC e curador da exposição
ao lado de Deni Saez.
A iniciativa da data é considerada importante por educadores.
"A camisinha passa a ser vinculada ao afeto, não mais à desconfiança", diz Helena Lima, professora e psicóloga da PUC.
"O preservativo sempre esteve
vinculado à ruptura, a um acessório do acaso, da relação fortuita.
Agora pode ser visto como uma
proteção da relação, um vínculo
do namoro", afirma.
Jairo Bouer, psiquiatra e apresentador do programa Erótica da
MTV, diz que a imagem da camisinha passou da relação com a
doença e a morte para um conceito de risco. "Agora, está associada
à responsabilidade, ao afeto e ao
prazer", diz. A campanha da
MTV neste ano é "Sexo é bom,
use camisinha sempre". "São depoimentos de jovens que falam do
prazer e do portar a camisinha."
Algumas empresas já estão em
sintonia. "A tendência é cada vez
mais associar o preservativo ao
prazer, não mais à idéia de chupar
bala com papel", diz Simone Martins, gerente de relações institucionais da DKT do Brasil.
Gravidez
As instituições públicas também estão preocupadas em mudanças na imagem da camisinha.
Discussões promovidas pela
Coordenação Estadual de Aids,
de São Paulo, mostraram que o
preservativo vinha primeiro associado à prevenção à Aids, depois
às DSTs (doenças sexualmente
transmissíveis) e, por último, à
prevenção da gravidez.
"Achamos que é preciso inverter essa ordem", diz Maria do
Carmo Sales Monteiro, diretora
interna de prevenção no CRT-Aids. "Para o adolescente, é mais
importante prevenir a gravidez
que a Aids. A relação da camisinha com o romance é positiva."
O governo pretende distribuir
este ano 200 milhões de camisinhas contra 35 milhões no ano
passado. "Mas precisaria de 500
milhões apenas para atender os
segmentos prioritários, como
usuários de drogas e presidiários", diz Denise Doneda, da
Coordenação Nacional de Aids.
Mais que isso, o país "precisa de
uma política séria de marketing
de preservativo, assim como fez
com o coquetel contra Aids", diz a
médica Maria Eugênia Lemos
Fernandes, da Associação Saúde
da Família. Para ela, distribuir
preservativos para frequentadores de eventos que podem pagar
por eles não contribui muito.
Mercado de camisinhas
O mercado brasileiro é hoje de
350 milhões de camisinhas por
ano, considerado ainda muito pequeno. "Já conseguimos baixar
preservativo de US$ 1 para um
quarto desse preço, mas as populações de baixa renda ainda não
podem pagar isso. E o preservativo precisaria estar em todos os
pontos de venda." Por enquanto,
ainda está restrito a farmácias e
supermercados.
Informações sobre a Mostre Vida Positiva podem ser obtidas na AVP, 0/xx/11/
3361-5222, e na AAPC, 0/xx/11/ 4578-5569 ou no endereço eletrônico
www.aapc.com.br
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