São Paulo, domingo, 20 de maio de 2001

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PREVENÇÃO

Associações e empresas querem desvincular a imagem dos preservativos de doenças e relacioná-la a afeto e prazer

Camisinha pode virar presente para namorados

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Por mais cheirosas e coloridas que estejam ficando, as camisinhas continuam associadas a lugares suspeitos, escapadas ocasionais e prevenção de doenças. Pois essa imagem está ficando para trás. Depois dos desfiles de Carnaval, onde sempre teve lugar de destaque, o preservativo aparece agora como acessório e presente para o Dia dos Namorados. Está sendo relacionado mais com o afeto e o prazer, e menos com enfermidades e infidelidades.
Nos dias que antecedem 12 de junho, Dia dos Namorados, o Conselho Nacional Empresarial vai distribuir 800 mil cartões-postais com um poema de Vinícius de Moraes, um casal se abraçando e uma camisinha colada. Ao lado, o espaço para o endereço e a frase: "Mais que uma demonstração de cuidado e respeito, uma prova de amor verdadeiro".
O conselho foi fundado em 98 pelo Ministério da Saúde e reúne 24 empresas que têm programas de prevenção no local de trabalho. "A iniciativa do Dia dos Namorados conta com ações paralelas de laboratórios, rede de cinemas e cadeia de jornaleiros", diz o médico Murilo Alves Moreira, presidente do conselho e gerente de saúde da Volkswagen.
Em outra frente, duas associações acabam de eleger o 12 de junho o "dia nacional da camisinha". Uma é a Associação Vida Positiva (AVP), fundada em 2000 para trabalhar com prevenção e assistência a pacientes com HIV e Aids. A outra é a Associação dos Artistas Plásticos de Colagem (AAPC), que tem 21 anos.
Juntas, as associações promovem até o dia 14 de junho a Mostra Vida Positiva, no Terminal Rodoviário do Tietê. São obras de 36 artistas que trabalham o tema "Aids, prevenção e reciclagem".

Material artístico
A idéia de eleger um dia para a camisinha ocorreu no trabalho dos artistas, muitos deles usando o preservativo como material de colagem, conta André de Souza, presidente da AVP.
"Uma arte que vem desde a China antiga não poderia passar alheia a uma epidemia e a um acessório que marca nossa época", diz Robert Richard, dirigente da AAPC e curador da exposição ao lado de Deni Saez.
A iniciativa da data é considerada importante por educadores. "A camisinha passa a ser vinculada ao afeto, não mais à desconfiança", diz Helena Lima, professora e psicóloga da PUC.
"O preservativo sempre esteve vinculado à ruptura, a um acessório do acaso, da relação fortuita. Agora pode ser visto como uma proteção da relação, um vínculo do namoro", afirma.
Jairo Bouer, psiquiatra e apresentador do programa Erótica da MTV, diz que a imagem da camisinha passou da relação com a doença e a morte para um conceito de risco. "Agora, está associada à responsabilidade, ao afeto e ao prazer", diz. A campanha da MTV neste ano é "Sexo é bom, use camisinha sempre". "São depoimentos de jovens que falam do prazer e do portar a camisinha."
Algumas empresas já estão em sintonia. "A tendência é cada vez mais associar o preservativo ao prazer, não mais à idéia de chupar bala com papel", diz Simone Martins, gerente de relações institucionais da DKT do Brasil.

Gravidez
As instituições públicas também estão preocupadas em mudanças na imagem da camisinha. Discussões promovidas pela Coordenação Estadual de Aids, de São Paulo, mostraram que o preservativo vinha primeiro associado à prevenção à Aids, depois às DSTs (doenças sexualmente transmissíveis) e, por último, à prevenção da gravidez.
"Achamos que é preciso inverter essa ordem", diz Maria do Carmo Sales Monteiro, diretora interna de prevenção no CRT-Aids. "Para o adolescente, é mais importante prevenir a gravidez que a Aids. A relação da camisinha com o romance é positiva."
O governo pretende distribuir este ano 200 milhões de camisinhas contra 35 milhões no ano passado. "Mas precisaria de 500 milhões apenas para atender os segmentos prioritários, como usuários de drogas e presidiários", diz Denise Doneda, da Coordenação Nacional de Aids.
Mais que isso, o país "precisa de uma política séria de marketing de preservativo, assim como fez com o coquetel contra Aids", diz a médica Maria Eugênia Lemos Fernandes, da Associação Saúde da Família. Para ela, distribuir preservativos para frequentadores de eventos que podem pagar por eles não contribui muito.

Mercado de camisinhas
O mercado brasileiro é hoje de 350 milhões de camisinhas por ano, considerado ainda muito pequeno. "Já conseguimos baixar preservativo de US$ 1 para um quarto desse preço, mas as populações de baixa renda ainda não podem pagar isso. E o preservativo precisaria estar em todos os pontos de venda." Por enquanto, ainda está restrito a farmácias e supermercados.


Informações sobre a Mostre Vida Positiva podem ser obtidas na AVP, 0/xx/11/ 3361-5222, e na AAPC, 0/xx/11/ 4578-5569 ou no endereço eletrônico www.aapc.com.br


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