São Paulo, sábado, 20 de maio de 2006

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ALPINISMO

Vitor Negrete sentiu-se mal depois de escalar o pico sem auxílio de tubo de oxigênio, foi socorrido, mas não resistiu

Brasileiro morre após atingir topo do Everest

MAURÍCIO SIMIONATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPINAS

Um dos principais alpinistas brasileiros, Vitor Negrete, 38, morreu ontem às 2h (17h15 de anteontem no horário de Brasília), horas depois de se tornar o primeiro brasileiro a escalar o monte Everest, no Nepal, pela face norte e sem o auxílio de tubo de oxigênio suplementar, a 8.850 metros.
No início da descida, ele passou mal e pediu via rádio a ajuda do profissional nativo que o auxiliava na escalada. Foi levado ainda com vida para o acampamento três -o mais próximo do cume mais alto do planeta-, mas não resistiu. Morreu possivelmente por exaustão, agravada pelo intenso frio na montanha. A temperatura lá chega a -40C ou até -50C, sem considerar o vento.
Negrete era casado e tinha dois filhos: Leon, de dois anos, e Davi, de sete meses. Ele praticava alpinismo havia 15 anos e também outros esportes de aventura. Será sepultado nos próximos dias na própria montanha.
Mesmo depois da morte de seu amigo de expedição, o inglês David Sharp, no dia 16, durante a escalada, Negrete decidiu subir até o cume. Antes disso, outro integrante, Ravi Chandran, da Malásia, teve os dedos das mãos congelados e desceu para ser atendido.

"Muito cuidado"
O brasileiro Rodrigo Raineri, amigo e companheiro de Negrete de expedição, não fez a escalada com ele por estar com dores de garganta. Ficou no campo base avançado, que fica a 6.500 metros.
Em seu último depoimento antes da subida, no dia 17, Negrete avisou que o telefone por satélite estava com pouca bateria e tomaria muito cuidado na escalada.
Ele estava no Nepal desde o dia 27 de abril. A família de Negrete preferiu não comentar a morte do alpinista. Os pais dele moram em São Paulo. A mulher, Marina Soler, está em estado de choque.
Em seu último contato com o Brasil, publicado no site www.everest2006.com.br, Negrete comunicou a decisão de escalar o cume sozinho. Por telefone, pediu tranqüilidade e torcida a todos. "Estou subindo totalmente só. Sem oxigênio, sem sherpa [nativos que auxiliam a subida] e sem telefone, pois a bateria do [telefone] satelital está no fim. Prometo que tomarei muito cuidado; o tempo está melhorando e a janela prevista deve se abrir mesmo".
Na ocasião, Raineri comentou também a decisão de Negrete de subir só: "Houve um descompasso em nossa aclimatação. Quando o Vitor estava bem eu tive problemas. Quando eu fiquei bem foi a vez dele ficar com dor de garganta. Então decidimos que cada um deveria ir para o cume quando estivesse pronto, independentemente do outro. Assim nossas chances de ter pelo menos um brasileiro lá em cima é maior".
A dupla brasileira foi a primeira chegar ao cume do monte Aconcágua (6.962 metros) pela face sul -uma das mais técnicas e difíceis do mundo- e a primeira do Brasil a atingir esse cume no inverno.
No ano passado, com condições climáticas totalmente adversas, Negrete chegou ao Everest no dia 2 de junho, mas com o uso de oxigênio. Raineri colocou a máscara de oxigênio somente a partir do acampamento três, porém retornou a 50 metros do cume.
A ex-mulher de Raineri, Aneci Valéria Rocha Raineri, 34, contou que recebeu a notícia da morte do amigo às 2h de ontem, por meio de uma telefonema do ex-marido.
Segundo ela, Raineri estava muito abatido e não sabia se subiria até o acampamento três para sepultar o amigo, ou se iniciava a descida para retornar à China. A assessoria de imprensa da expedição informou que ele poderia subir ao acampamento.
Aneci explicou que é comum os alpinistas que morrem no Everest serem enterrados na montanha por causa da dificuldade de transporte e das condições climáticas.


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